
Um júri concedeu US$ 10 milhões a Abby Zwerner, ex-professora da Virgínia que foi baleada por seu aluno de 6 anos em 2023, em um processo civil que pode estabelecer um precedente sobre a responsabilização de autoridades após um tiroteio escolar.
Zwerner, que era professora na Richneck Elementary School, em Newport News, processou a ex-vice-diretora Ebony Parker, alegando que Parker não agiu diante de preocupações de que o aluno havia levado uma arma para a escola em janeiro de 2023.
Zwerner foi baleada no peito e na mão enquanto estava sentada em uma mesa de leitura em sua sala de aula.
O júri deliberou por aproximadamente 5 horas e meia.
Os advogados de Zwerner argumentaram que era responsabilidade de Parker garantir a segurança de todos no campus, após surgirem preocupações de que uma criança havia levado uma arma, enquanto a defesa destacou que ninguém poderia prever que uma criança tão pequena traria uma arma para a escola e dispararia.
O caso pode criar um precedente legal sobre quem deve ser responsabilizado quando crianças têm acesso a armas e realizam ataques a tiros em escolas, problema que continua a afetar o país. Até a semana passada, já haviam ocorrido 64 ataques a tiros em escolas nos EUA neste ano, 27 deles em escolas de ensino fundamental e médio.
O julgamento civil também oferece uma visão de alguns detalhes que serão apresentados no processo criminal contra Parker no próximo mês, em que ela enfrenta oito acusações de negligência infantil grave.
A defesa legal de Parker foi fornecida pela Virginia Risk Sharing Association (VRSA), o fundo de seguro do distrito escolar, segundo o Toscano Law Group, um dos escritórios que representam Zwerner.
Ex-vice-diretora também estará em tribunal criminal
Realizar processos civis antes dos criminais é “muito incomum”, segundo Darryl K. Brown, professor de Direito da Universidade da Virgínia.
“Suspeito que a defesa queira que o julgamento civil ocorra primeiro, porque não poderão evitá-lo, e isso lhes dá muitas informações sobre o que será apresentado no julgamento criminal”, disse Brown.
Embora a dor e o sofrimento de Zwerner tenham sido o foco deste julgamento, o próximo processo criminal provavelmente abordará mais as ações que Parker deixou de tomar, considerando seu dever de proteger as crianças, disse Brown.
“A evidência mais importante para a acusação viria de outras testemunhas e fontes que revelem o que a ré sabia sobre a ameaça que a criança representava e se ela possuía uma arma”, afirmou o professor.
O que a defesa e a acusação argumentaram?
“O trabalho da Dra. Parker é garantir a segurança”, disse um dos advogados de Zwerner durante os argumentos finais na quarta-feira. E ela não fez o suficiente para impedir o tiroteio após saber que a criança tinha uma arma, argumentou ele.
“Uma arma muda tudo. Você para e investiga. Vai até o fundo da questão”, disse o advogado Kevin Biniazan. “Você investiga a mochila, os bolsos dele, seja o que for. Vai até o fundo para saber se a arma é real e está no campus.”
Sandra Douglas, uma das advogadas de Parker, destacou durante seus argumentos finais que a própria Zwerner não procurou Parker com suas preocupações sobre os alunos, nem agiu diante das preocupações de outras pessoas.
A advogada lembrou ao júri o depoimento de um especialista, que afirmou que a segurança escolar é responsabilidade de todos os funcionários da escola, e não de apenas uma pessoa.
Parker não violou padrões profissionais, protocolos ou agiu com indiferença, testemunhou anteriormente a Dra. Amy Klinger, especialista em administração educacional e segurança escolar, afirmando que teria sido difícil para qualquer pessoa prever o incidente.
“Foi uma tragédia que, até aquele dia, era sem precedentes. Era impensável e imprevisível, e peço que vocês não agravem essa tragédia culpando a Dra. Parker por isso”, disse Douglas aos jurados.
“Pensei que estava morrendo. Achei que havia morrido”, disse a professora
Zwerner testemunhou que ainda sofre as consequências emocionais e físicas do tiroteio.
Ela disse que se tornou mais retraída e distante da família e que tarefas diárias — como abrir uma garrafa de água — se tornaram difíceis por causa da lesão na mão.
“Pensei que estava morrendo. Achei que havia morrido”, disse Zwerner, com a voz embargada, durante seu emocionante depoimento no início do julgamento. “Achei que estava a caminho do céu ou já no céu.”
Durante os argumentos finais e ao longo do julgamento, os advogados de Parker tentaram enfraquecer o depoimento de Zwerner ao apontar que a ex-professora conseguiu se formar em uma escola de cosmetologia, apesar das lesões, e frequentar shows, mesmo afirmando ter dificuldades para sair em público.
“Não estou minimizando o que aconteceu com a Srta. Zwerner. Não estou fazendo isso… Tenho que apresentar a verdade e toda a história”, disse Douglas.
Com informações de CNN Brasil.










