
Pais e familiares de crianças que morreram após procedimentos médicos no Amazonas realizaram, neste sábado (13), um protesto em frente ao Hospital Santa Júlia, no Boulevard Álvaro Maia, zona Centro-Sul de Manaus. O ato reuniu familiares do pequeno Benício Xavier de Freitas, de seis anos, e de Pedro Henrique Falcão, de apenas 1 ano e 7 meses, ambos vítimas de casos que levantam suspeitas de erros médicos e seguem sob investigação da Polícia Civil.
Benício morreu na madrugada de 23 de novembro, poucas horas depois de dar entrada no Hospital Santa Júlia com um quadro inicialmente considerado simples. Segundo os pais, Joyce Xavier e Bruno Freitas, a criança recebeu uma dosagem incorreta de adrenalina durante o atendimento, o que teria provocado a morte. O protesto teve como principal objetivo cobrar justiça, transparência nas investigações e punição dos responsáveis.
Também participaram da manifestação familiares de Pedro Henrique, que morreu no dia 11 de novembro, durante uma cirurgia na maternidade do Hospital Municipal Eraldo Neves Falcão, em Presidente Figueiredo. A família denuncia que o bebê recebeu uma dose excessiva de anestesia, o que teria causado o óbito.
“Ele entrou andando e saiu morto”, diz pai de Benício
Os pais de Benício afirmam que a recente decisão judicial que derrubou o habeas corpus da médica Juliana Brasil, investigada no caso, renovou a esperança por justiça. Segundo eles, a médica chegou a admitir o erro em documento encaminhado à Polícia Civil e em mensagens trocadas com outro profissional de saúde, embora a defesa alegue que a confissão ocorreu sob forte abalo emocional.
Bruno Freitas, pai da criança, falou emocionado durante o ato.
“O delegado Marcelo Martins está conduzindo a investigação da melhor forma possível. O que aconteceu com o nosso filho foi muito grave. Ele chegou ao hospital com uma tosse e saiu morto. Foi uma morte dolorosa, tanto para nós quanto para ele, que sofreu naquela maca”, desabafou.
A mãe, Joyce Xavier, reforçou que a luta da família não é por vingança, mas por responsabilização.
“A gente vai até o fim. Não queremos vingança, queremos justiça. Foram muitos erros, uma sucessão de falhas que não podem se repetir com outras famílias”, afirmou.
Caso Pedro Henrique: exumação e novas investigações
No caso de Pedro Henrique, a Polícia Civil do Amazonas determinou a exumação do corpo, realizada na última quinta-feira (11), para aprofundar as investigações. A medida foi solicitada porque, segundo a polícia, não houve perícia inicial e o hospital não comunicou oficialmente o óbito às autoridades.
A mãe da criança, Stefany Falcão Lima, relata que o filho foi levado inicialmente a uma Unidade Básica de Saúde com dores no ouvido. Após exames, foi identificado um quadro de fimose, e dias depois o bebê foi encaminhado para cirurgia.
Ela afirma que, durante o procedimento, o anestesiologista iniciou a intubação sem ventilação adequada e não pediu ajuda imediatamente, mesmo com a queda progressiva dos sinais vitais.
“Eu mesma pedi para a enfermeira chamar o pediatra quando percebi que a saturação estava caindo. O anestesiologista não tomou a iniciativa de pedir ajuda”, relatou.
O pai de Pedro Henrique, Mezaque Soares, que também participou do protesto em Manaus, destacou o impacto emocional da exumação.
“É mais uma dor. Tirar nosso filho de lá machuca demais, mas é necessário para que a verdade venha à tona. Tentamos retomar a rotina, mas tudo lembra o Pedro. Estamos até fazendo uso de medicação para conseguir dormir”, disse.
Hospital Santa Júlia se manifesta
Em nota, o Hospital Santa Júlia afirmou que recebeu a manifestação com respeito e solidariedade, destacou o impacto da perda de uma criança e garantiu que tem colaborado integralmente com as investigações.
A instituição informou que disponibilizou prontuários, documentos e acesso às equipes às autoridades competentes, reforçando o compromisso com a transparência, a ética e o rigor técnico na apuração dos fatos.
Direção hospitalar em Presidente Figueiredo
Sobre o caso Pedro Henrique, o diretor clínico do Hospital Municipal Eraldo Neves Falcão, Daniel Mota, informou que o anestesiologista envolvido no procedimento atuava na unidade desde 2020, após processo seletivo, e pediu exoneração após o ocorrido.
“Foi uma decisão dele. Segundo relatou, não tinha mais condições psicológicas de continuar na unidade. A mãe já teve acesso a prontuários, relatórios e toda a documentação”, explicou.
A advogada da família, Doracy Queiroz de Oliveira Neta, ressaltou que a exumação é fundamental para acelerar o inquérito e garantir a coleta adequada de provas.










