O punhal tiraria as vidas de Lula, Alckmin e Moraes. Seria o meio de se encravar no coração da Constituição da República, matando o Estado Democrático de Direito. O cadáver seria vorazmente consumido pelos helenos e bragas netos da vida, sob o comando do verme mais abjeto. O país ficaria reduzido à condição de republiqueta de bananas, a rastejar diante do imperialismo ianque. O pavilhão nacional se baixaria em continência para pneus e os celulares, voltados para o firmamento, captariam mensagens de extraterrestres.

Foi por pouco. Mesmo os que, como eu, sempre acreditaram na existência da tramoia golpista, foram surpreendidos pela ousadia e desfaçatez da organização criminosa. Pouco se lhe dava a quantidade de sangue derramado. Importava alcançar o objetivo final que, por ser ilícito em si mesmo, bem dá a dimensão do sentimento e da disposição desses “patriotas” de meia tigela.

É a mesma gente que incentivou e financiou aquela malta de idiotas na frente dos quartéis, a clamar pela quebra da ordem jurídica por meio de uma intervenção militar, de tal forma que o resultado das eleições não fosse respeitado. É também a mesma quadrilha que incentivou a explosão de bombas no aeroporto de Brasília, assim como levou à autodestruição o energúmeno do ataque ao Supremo Tribunal.

E ainda existe quem defenda essa corja! Chega-se a ver mesmo alguns sandeus invocarem até a bíblia para tentar justificar a paranoia golpista. É indispensável que os mecanismos jurídicos sejam acionados com urgência, ao fito de que, respeitadas as regras do devido processo legal, os agentes do delito recebam punição exemplar.

Sobre o episódio, já ouvi juristas de beira de igarapé sustentarem a tese que assim se resume: pensar em matar alguém não é punível. Essa obviedade é indiscutível, em sede de crime de homicídio. Sabe-se, aí, que a simples cogitação está fora do alcance do direito. Esquecem (ou não sabem) esses infelizes que estão a cometer um erro primário na tipificação do delito. Comigo, seriam sumariamente reprovados. O crime de que se cuida é o de tentar destruir o estado democrático de direito. E esse crime, como não pode escapar nem ao mais reles dos patriotários, só pode ser punido na sua forma tentada. Por quê? Explico aos débeis mentais de todo do mundo: se os golpistas obtiverem êxito, assumirão e poder e não irão punir a si mesmos.

Ouvirei, com paciência, a réplica: mas não houve tentativa. Já é demais. As atividades reveladas por meio do inquérito policial demonstram a existência de planos detalhados sobre a forma de execução do golpe e isso, no caso de que se cuida, é mais do que suficiente para demonstrar o começo da execução do projeto golpista, que seria levado a termo a partir da execução sumária das pessoas mencionadas.

Quer-me parecer, porém, que essas questiúnculas do juridiquês não têm muita relevância no assunto. Muito mais importante é o alerta, mais do que escandaloso, que foi dado para as forças progressistas. Não podemos minimizar a questão. A essência desta é histórica e política e como tal deve ser encarada e enfrentada. Temos que parar com a retórica erudita e, chegando às massas, levar-lhes a visão correta dos acontecimentos.

Lembremo-nos de que, em 1964, quando os militares depuseram o presidente da República, houve “senhoras marchadeiras” que foram às ruas, em procissão, clamar por “deus, pátria e família”. Era um explícito apoio civil aos rebeldes. Fruto, é lógico, da visão distorcida de que o Brasil estava sendo salvo do comunismo.

O panorama agora é praticamente o mesmo. O abominável, fazendo uso dos símbolos nacionais (é emblemático o nome dado ao punhal), passou para os ignorantes a ideia de que só ele pode encarnar o patriotismo, de forma a livrar o país do que ele chama de “esquerdalha”.

É imperioso refutar esse discurso, demonstrando didática e cientificamente sua estupidez. É preciso falar, é preciso berrar que golpe de estado é violência definitiva contra a democracia e sua consequência só pode ser uma: a ditadura.

Chego até a acreditar quer exista alguém capaz de dizer que, “muito bem, prefiro a ditadura”. Paciência. São casos de irrecuperável insanidade mental. Deixemo-los de lado e vamos falar aos sãos. Vamos arregimentar o maior número possível de brasileiros normais para a defesa do estado democrático de direito.

Vamos fazer com que seja ouvido o nosso brado: DITADURA NUNCA MAIS!

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