Raphael Montes, o autor de 'Beleza Fatal', novela da Max Foto: Werther Santana/Estadão

O escritor e autor Raphael Montes já havia chamado a atenção do público com o thriller de suspense Bom Dia, Verônica, cuja primeira temporada estreou em 2020, na Netflix. A série, baseada no livro homônimo escrito por Montes em colaboração com Ilana Casoy, foi a produção original mais vista da plataforma no primeiro semestre de 2024, quando a terceira e última temporada foi ao ar, alcançando boa repercussão internacional.

Desde 27 de janeiro, é pela novela Beleza Fatal, a primeira produção original do gênero da Max, que Montes tem respondido – essa é a primeira experiência do autor em uma telenovela. A trama terá um total de 40 capítulos, com cinco episódios sendo liberados semanalmente, todas as segundas-feiras. Para criar a história, que tem vingança e a busca por justiça como temas principais, Montes contou com a supervisão do experiente Silvio de Abreu, ex-TV Globo.

A grande cereja do bolo de Beleza Fatal é a vilã Lola, personagem de Camila Pitanga. Capaz de tudo para subir na vida, ela se envolve com crimes e faz deles uma caminho para alcançar o que almeja. Mulher que conheceu a pobreza na infância e adolescência, Lola migrou para o Rio de Janeiro, se casou com um policial honesto e foi trabalhar de secretária em uma clínica popular de cirurgia plástica. Nela, sofre com os desmandos de Rog, o Dr. Peitão, personagem de Marcelo Serrado.

Lola é uma vilã carismática, com bordões e um certo exagero em sua composição. Até o meme “que boa ideia esse casamento primaveril em pleno outono”, frase da prostituta Bebel, personagem de Pitanga em Paraíso Tropical, de Gilberto Braga, não foi esquecido.

Isso faz que Lola seja uma personagem, até certo ponto, defensável, sob o ponto de vista de Montes – e do fã clube que já se formou em torno dela nas redes sociais desde que Beleza Fatal chegou à Max. Cenário bem diferente dos vilões indesculpáveis Brandão (Eduardo Moscovis) e Matias Cordeiro (Reynaldo Gianecchini) de Bom Dia, Verônica.

Em entrevista ao Estadão, Montes revelou sua fórmula para criar esses tipos envolventes e como encontrar justificativas para suas ações. “Os personagens precisam ter razão de ser. Eu não acredito em uma vilão que acorda e diz: ‘Vou fazer maldade’. Ele não faz maldade. Ele faz o que precisa para si mesmo. E para fazer coisas para si mesmo, está disposto a fazer o que o mocinho não está”, afirma Montes.

Montes afirma que, em todas as histórias que cria, têm personagens que transitam em uma fronteira entre o bem e o mal. “A beleza da novela é que ela tem força muito clara na moral de cada personagem”, prossegue.

A antagonista de Lola é Sofia, personagem de Camila Queiroz, filha de uma prima de Lola, a qual ela convenceu a assumir um crime que não cometeu e, mais grave ainda, manda assassinar na cadeia. Já adulta, Sofia reaparece com Julia para se vingar de Lola.

“No começo de Beleza Fatal, você tem um mocinha evidente e uma vilã carismática. Mas, conforme você avança no capítulos, percebe que Lola faz coisas antiéticas e amorais, sim, mas não é um monstro. Ela tem seus traumas, seus medos”, explica Montes. “O mesmo ocorre com a mocinha. Ela tem boas intenções, entra em uma jornada de vingança porque sofreu uma injustiça. Mas, até que ponto você pode e deve lutar por justiça?”.

Montes diz que, ao fazer esses questionamentos na novela, os transporta também para a vida real. “Em que medida podemos destruir a vida de alguém como se faz nas redes sociais com os cancelamentos, por exemplo?”, pergunta o autor.

Para ele, a vida cotidiana apresenta os mesmo desafios que ele tece em sua trama folhetinesca. “Vivemos sempre entre certo uma pessoa ética e correta, que espero que todos queiram ser, mas, eventualmente, cometer deslizes e dizer: ‘Errei, me arrependi’”, diz.

Essa ideia corrobora uma afirmação que Montes fez para o Estadão em abril de 2024, quando lançava o livro Uma Família Feliz. Na ocasião, ele afirmou ter medo de pessoas muito boas. “Tenho medo das pessoas muito más, mas também morro de medo das pessoas muito boas, que só têm pensamentos bons, que só querem o bem, que não têm qualquer egoísmo, inveja. Mentira! Essas pessoas são mentirosas, são perigosíssimas”, disse.

A reportagem do Estadão questionou Montes sobre o que se pode atualmente fazer em uma telenovela, diante do patrulhamento político, social e religioso que as tramas têm sofrido.

“Pode-se tudo”, diz o autor, enfaticamente. “Essa é a delícia (de fazer novela). Tive uma liberdade absoluta de criar. Não houve qualquer orientação da Max sobre o que era proibido. Na medida que era um terreno livre, fiz uma novela que eu adoraria ver”, conclui.

Com informações de ESTADÃO

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