Os bolsominions não conseguiram assimilar a acachapante derrota que o Nordeste lhes impôs no primeiro turno das eleições. E, como é do feitio desse gado, vieram as agressões verbais e, com elas, o extravasamento dos mais reles preconceitos contra aquele povo. O mínimo que se ouviu foi “analfabetos”, com a alegação adicional da “falta de cultura”. Típico desespero, sem qualquer alicerce na realidade, uma vez que os exemplos de farta cultura vindos do Nordeste são tantos e tão expressivos que negá-los chega ser, aí sim, um caso de falta de visão.
De passagem e a voo de pássaro, lembro os nomes de três “analfabetos”: Graciliano Ramos, Rui Barbosa e Castro Alves. Mortos todos, é certo, mas autores de uma obra que, com certeza, nunca frequentou a intimidade de nenhum bolsoleso. Seria querer demais, por exemplo, que o gado compreendesse a intensidade e a beleza da luta do poeta baiano contra a escravidão. Como poderia ele entender a genialidade de “O Navio Negreiro” ou o pungente clamor que sai das “Vozes d’África”? Fenômeno impossível.
Mas o segundo turno se avizinha e, objetivamente, não vejo motivo para temer uma virada no jogo. Vamos analisar com sensatez: Lula saiu com uma vantagem de mais de seis milhões de votos. Para tirar essa diferença seria necessário que todos os eleitores da senadora Simone Tebet votassem no adversário. A hipótese é ridícula porque, apesar de não se saber se todos seguirão a orientação dada pela ex-candidata, é certo que a passagem massiva para o outro lado é rigorosamente improvável.
Outra possibilidade com que sonham os bolsominions é que todos os eleitores que se abstiveram no primeiro turno compareçam às urnas no segundo e, coletivamente, votem no genocida. Não é preciso ser um cientista político para saber que essa não chega a ser uma hipótese minimamente razoável.
Digamos, portanto, que se repita o quadro eleitoral do primeiro turno. A eleição será decidida, então, com os votos de Tebet e Ciro, os quais, se se dividirem meio a meio, não alterarão a classificação final.
Como se vê, os progressistas e amantes da liberdade temos fundadas razões para manter as esperanças de que, no dia 30, o Brasil se libertará, de uma vez por todas, do terraplanismo, do ódio, do preconceito, do negacionismo e da falsidade. Livrar-nos-emos da intolerância que, num dos piores momentos do bolsonarismo, proporcionou o deplorável espetáculo ocorrido em Aparecida, quando a fé de milhões de católicos sofreu impensável vilipêndio. Poderemos, talvez, voltar aos tempos que a crença religiosa era assunto de cada um que decidia livremente qual fé abraçar, sem ver a manipulação desenfreada que hoje ocorre nos arraiais evangélicos.
De minha parte, estou confiante. Não posso imaginar o Brasil sendo submetido a mais quatro anos de ignorância misturada com arrogância. Desse veneno já tomamos doses suficientes para saber a que caminhos ele leva: favorecimento do grande capital financeiro, corte de verbas para a educação, sigilo para os crimes cometidos pela família presidencial. Nada disso é bom. Temos que mudar.