Depois de quase cinco anos de espera por justiça, a família do adolescente Luan Gabriel Nogueira de Souza, de 14 anos, assassinado com um tiro na nuca em novembro de 2017, em Santo André (SP), recebeu a notícia da absolvição do policial militar acusado pelo homicídio, Alécio José de Souza.

A mãe do jovem, Maria Medina Costa Ribeiro, de 48 anos, se diz indignada com a decisão proferida nessa quarta-feira (27/7), depois de dois dias de julgamento. “Ontem foi meu segundo luto. O primeiro foi no dia do enterro do meu filho. O outro foi ontem, quando vi a juíza dizendo que o policial agiu em legítima defesa”, disse ela ao Metrópoles.

Luan foi morto a caminho do suspermercado, no dia 5 de novembro de 2017, no bairro Parque João Ramalho. Era um domingo. Ele havia saído de casa por volta das 13h40, com R$ 4 no bolso, para comprar um biscoito. No trajeto, ao descer uma escada que dava acesso ao local, ele se deparou com uma operação policial.

O julgamento dessa quarta ocorreu justo na data de aniversário da mãe de Luan. Maria, que trabalha como cozinheira, acordou cheia de expectativas, acreditanto que teria, enfim, a justiça desejada para o caso e o alívio, diante do sentimento de impunidade. “Foi o pior presente que eu poderia receber”, diz ela.

Recurso

A mãe tenta se manter forte, depois de tudo que aconteceu, e conta que fará o possível para recorrer e reverter o caso. “Sou a voz do meu filho. Ele estará presente”, afirma.

O policial acusado chegou a ficar alguns meses preso, após a morte de Luan, mas logo foi colocado em liberdade, com a condição de que fosse afastado das ruas e tivesse as atividades restritas à parte administrativa.

Desde então, família, amigos e a comunidade do bairro aguardavam por alguma resposta. O presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, o advogado Ariel de Castro Alves, acompanhou o caso e definiu a decisão como “absurda e inaceitável”.

“A decisão foi totalmente contrária às provas do processo. Ficou muito claro nas investigações que não houve confronto nenhum no local e que o PM jamais agiu em legítima defesa. Luan não tinha antecedentes na Vara da Infância e Juventude. Ele era estudante e não estava armado”, alega Ariel.

Segundo o advogado, laudos técnicos e relatos de testemunhas demonstraram que não houve ocorrência de confronto que pudesse justificar os disparos efetuados pelo policial. “Todas as provas atestaram que foi uma execução praticada por quem deveria proteger, e não matar”, afima o advogado. Ele diz esperar, ainda, algum recurso por parte do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Angústia e esperança

Maria Medina conta que o período de espera pelo julgamento foi angustiante e, ao mesmo tempo, marcado por uma “esperança muito grande” de que o policial fosse condenado pela morte do filho.

Ela revela que, “por saber como funciona a Justiça” brasileira, já imaginava que o PM não fosse ficar preso por muito tempo, “principalmente por ser policial”, mas que acreditava, pelo menos, na condenação.

“Se ele fosse punido, serviria de exemplo para os demais. Eles estão matando cada vez mais. Alguém tem que barrar, acabar com isso, porque senão jovens vão continuar morrendo e mães vão continuar sofrendo”, expõe.

Luan era o filho do meio de Maria. Ela tem outros dois, um homem de 27 e uma menina de 7 anos. Segundo ela, nessa quarta, ela foi ao julgamento, não esperando por vingança, mas contando com a Justiça.

“Tudo para que outras mães não passem pelo o que eu estou passando. Peço a Deus uma saúde imensa e uma vida longa para eu poder ser a voz do meu filho”, diz.

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