
RECIFE (PE) – Em exibição no Festival de Cinema de Pernambuco (Cine PE) 2025, o longa A Melhor Mãe do Mundo, da diretora Anna Muylaert, emocionou o público ao retratar a jornada de uma mulher que foge de um relacionamento abusivo com seus filhos. A protagonista da obra, Shirley Cruz, deu ainda mais peso ao papel ao revelar que, fora das telas, também é sobrevivente de violência doméstica.
Na trama, Shirley interpreta Gal, uma catadora de recicláveis que decide romper com os abusos do marido Leandro (vivido por Seu Jorge) após ter uma denúncia ignorada pela polícia. Para proteger os filhos e poupar-lhes da dor da realidade, Gal cria uma fantasia: convence as crianças de que estão vivendo uma grande aventura pelas ruas de São Paulo.
Em entrevista à IstoÉ Gente, Shirley destacou o impacto pessoal de dar vida à personagem. “Nós, mulheres, precisamos viver — não apenas sobreviver. Antes mesmo de falar sobre dignidade ou oportunidades, precisamos garantir o direito básico de estar vivas”, afirmou. A atriz, que já participou da novela Bom Sucesso (2020) e da série Cidade de Deus (2023), revelou ter sido vítima de uma tentativa de feminicídio por um ex-companheiro.
Arte como instrumento de transformação
Ao refletir sobre a importância da obra e sua conexão com a personagem, Shirley fez um apelo pela conscientização coletiva sobre a violência contra a mulher. “Não é uma vergonha nem um orgulho. É uma necessidade compartilhar. Eu poderia não estar aqui. A violência doméstica poderia ter me matado, como acontece com tantas mulheres”, declarou.
A atriz também ressaltou que o problema vai além das fronteiras brasileiras. “O mundo trata mal as mulheres, trata mal as mães. É uma contradição imensa, porque somos nós que colocamos pessoas no mundo, que educamos a sociedade, muitas vezes sozinhas.”
Para Shirley, o cinema e a arte são ferramentas essenciais para provocar mudanças reais. “Meu corpo está a serviço. Quero falar de flores, de amores, fazer rir, mas também preciso usar o audiovisual para mobilizar, para fazer pensar e agir. Enquanto estou aqui falando, quantas mulheres já foram agredidas? Quantas morreram? Não são poucas, são muitas.”
Um cinema urgente
A Melhor Mãe do Mundo marca o retorno de Anna Muylaert à temática social que consagrou seu sucesso anterior, Que Horas Ela Volta? (2015). A nova produção propõe um olhar sensível e potente sobre a maternidade em situação de risco, a violência doméstica e a resistência feminina diante de um sistema que frequentemente silencia suas vozes.
O Cine PE 2025 segue até o dia 15 de junho, no Recife, reunindo produções que aliam narrativa artística e relevância social. A Melhor Mãe do Mundo é, sem dúvida, um dos filmes que mais provocaram emoção e debate nesta edição.
Com informações de IstoÉ










