São Paulo – O soldado da Polícia Militar (PM) que escoltava Vinícius Gritzbach na viagem a Maceió (AL) que antecedeu a execução dele, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na última sexta-feira (8/11), usava uma arma da corporação para fazer o bico de segurança particular do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) – a prática é proibida pelo regimento interno da PM.

O uso do armamento pertencente ao Estado foi confirmado pelo próprio policial militar Samuel Tillvitz da Luz, de 29 anos, em depoimento à Corregedoria da corporação obtido pelo Metrópoles. No relato, ele também disse desconhecer que a vítima era acusada de homicídio e lavagem de dinheiro e jurada de morte pelo PCC. Além disso, afirmou não ter reagido ao ataque, feito com 29 tiros de fuzil, para “proteger a própria vida”.

Lotado no 18º Batalhão, na região da Freguesia do Ó, zona norte paulistana, o soldado contou, ainda em depoimento, que havia sido contratado por Gritzbach há um ano para trabalhar como segurança da namorada do chefe. Foi com o casal, além de Danilo Lima, outro funcionário do delator, que o PM embarcou em um viagem para Maceió, onde permaneceu por sete dias.

Além de confessar ter levado a arma de uso profissional, pertencente à PM de São Paulo, para realizar a segurança contratada de forma particular, ele garantiu que a viagem aconteceu durante um “afastamento regulamentar” obtido por folgas mensais acumuladas.

Procuradas, a PM e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não confirmaram a informação até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.

“Proteger a própria vida”

Gritzbach e a namorada foram até Maceió, segundo o soldado, onde procuravam um imóvel para alugar para as festas de fim de ano. Durante o período, o PM chegou a escoltar Danilo Lima no recebimento de joias, avaliadas em R$ 1 milhão, usadas para pagamento de uma dívida ao delator. O policial, porém, garantiu que desconhecia o conteúdo recebido pelo funcionário de Gritzbach.

De volta a São Paulo, no aeroporto, Tillvitz ficou responsável por acompanhar Gritzbach e a namorada dele, Maria Helena Paiva Antunes, de 29 anos. Uma equipe com mais três seguranças, que deveria estar aguardando o casal, não estava no local porque o carro blindado usado por eles havia quebrado em um posto de combustíveis, a caminho do aeroporto. O soldado da PM, porém, afirmou não ter sido avisado sobre o ocorrido.

Quando atravessaram a porta de vidro do terminal 2, Tillvitz disse ter se posicionado em frente ao casal e caminhado em direção a Danilo Lima, “quando ouviu disparos de arma de fogo nas imediações”.

Após ouvir os tiros, o PM afirmou ter se abrigado atrás de um ônibus. Tillvitz disse não ter mais visto Gritzbach após os disparos. Ele, no entanto, encontrou a namorada do delator cinco minutos depois, no piso térreo.

Ao ser questionado por que não reagiu aos tiros em defesa, o soldado justificou que “entendeu estar em desvantagem e decidiu por proteger a sua própria vida”.O PM disse, ainda, que Lima estava desarmado e decidiu não reagir ao atentado porque “não teria apoio”.

PMs investigados

Os policiais militares responsáveis pela segurança de Vinícius Gritzbach foram afastados das atividades na corporação e passaram a ser investigados. Nos primeiros depoimentos prestados, eles disseram que, momentos antes do ataque ao delator, pararam em um posto de combustíveis para lanchar, enquanto aguardavam a chegada dele.

Segundo eles, quando decidiram ir em direção ao aeroporto, a caminhonete não funcionou. Apenas um dos PMs teria ido até o local, em outro carro, com uma blindagem menor.

“Testemunhas e partes envolvidas já prestaram depoimento e os policiais militares que faziam a segurança de uma das vítimas foram afastados de suas atividades operacionais até o fim das investigações”, informou a SSP.

Câmeras de segurança do aeroporto registraram o momento em que dois homens de capuz descem de um carro preto e disparam contra Vinícius. Ele morreu na hora. Um motorista, que transportava clandestinamente passageiros, foi atingido por uma bala perdida e também morreu.

Pedido de proteção

O advogado Ivelton Salotto, que defendia Gritzbach em dois processos, afirma que o delator havia solicitado proteção ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) no âmbito do acordo de colaboração premiada, mas que o pedido não foi atendido. Segundo o MPSP, foi Gritzbach quem recusou a proteção oficial porque não queria modificar seu estilo de vida.

O pedido ocorreu pouco antes de ele fechar o acordo de delação, em março deste ano, na qual entregou o esquema de lavagem de dinheiro para integrantes do PCC e citou policiais suspeitos de corrupção.

Gritzbach chegou a ficar preso, preventivamente, pela acusação de duplo homicídio. Ele foi solto, em junho do ano passado, por uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para responder às acusações em liberdade. Fontes do Judiciário paulista afirmaram ao Metrópoles, na ocasião, que a soltura representava riscos à vida dele.

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