O governo de Taiwan alertou, nesta quinta-feira, que o Paraguai não deve acreditar no que chamou de “promessas superficiais da China”. A advertência foi uma resposta à postura do candidato à presidência paraguaia Efraín Alegre, do Partido Liberal, que vem defendendo a aproximação com Pequim.

— Taiwan e Paraguai têm um relacionamento longo e amistoso— disse Jeff Liu, porta-voz do ministério taiwanês das Relações Exteriores, que ainda destacou a importância das exportações de carne bovina e suína de Taiwan para o Paraguai .

— O ministério das Relações Exteriores espera que o Paraguai valorize a relação com Taiwan e que não acredite nas promessas superficiais da China — completou o porta-voz.

Liu disse ainda que outros países que estabeleceram relações com a China, como Costa Rica, Nicarágua e República Dominicana, acabaram registrando déficit comercial com Pequim.

Efraín Alegre disputa a presidência do Paraguai pela terceira vez, com uma ampla coalizão da oposição de centro-esquerda, e tem como principal rival Santiago Peña, do governista Partido Colorado, legenda que só perdeu uma eleição presidencial nos últimos 70 anos.

O candidato de oposição vem repetindo, na reta final da campanha, a intenção de priorizar a aproximação com a segunda maior economia do mundo. Em uma entrevista coletiva nesta semana, Alegre disse que não é possível manter laços diplomáticos com Taiwan e China ao mesmo tempo, mas não esclareceu o que fará caso seja eleito. Segundo o candidato, o Paraguai perdeu “muitas oportunidades” de interesse nacional por priorizar Taipé.

Em entrevista à AFP, Alegre defendeu que manter relações com Taiwan implica em perdas no mercado chinês.

— O Paraguai faz um esforço muito grande, uma renúncia muito grande para ter relações com Taiwan, mas não vemos o mesmo esforço de Taiwan — disse Alegre.

O Paraguai é um dos 13 países que mantêm relações diplomáticas formais com a ilha e reconhece a independência territorial de Taiwan desde 1957. Para os chineses, Taiwan é parte da China, embora mantenha um governo autônomo eleito por processo democrático. A maioria dos países — como Estados Unidos e Brasil — não têm trocas diplomáticas oficiais com a ilha, apenas com Pequim. No mês passado, Honduras estabeleceu laços diplomáticos com os chineses após romper com Taiwan.

— Sei que é um assunto muito delicado, mas é bom deixar claro que acreditamos que o Paraguai tem que fazer sua parte na política externa. Queremos que nossa política externa signifique a possibilidade de fazer negócios — declarou Alegre à AFP.

Tensão geopolítica

A questão de Taiwan ganhou relevância na disputa eleitoral paraguaia, em meio a uma escalada de choques diplomáticos – e ensaios de atividades militares — em torno das pretensões chinesas de reintegrar Taiwan à China e do apoio militar oferecido pelos americanos à ilha, em franco confronto com os interesses de Pequim. A China não aceita manter laços diplomáticos com países que os mantêm com Taiwan — considerada pelos chineses uma província rebelde.

Há pouco mais de duas semanas, os chineses fizeram três dias de manobras militares ao redor do Estreito de Taiwan, quando simularam um cerco à ilha, com uso de munição real — e reafirmaram que a independência da ilha e a paz na região são “mutuamente excludentes”. Os dois movimentos foram reações ao encontro da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, com o presidente da Câmara dos Estados Unidos, o republicano Kevin McCarthy, durante uma viagem de 10 dias às Américas.

O presidente chinês, Xi Jinping, voltou a tocar no assunto da anexação de Taiwan ao ser reeleito para um terceiro mandato inédito, no mês passado, ao reafirmar a prioridade de reunificação nacional, sem descartar uso da força para essa finalidade. (Com AFP)

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