Tim Andrews tinha doença renal terminal e fazia diálise há mais de dois anos quando foi selecionado para passar por um xenotransplante

Em um avanço significativo na medicina, cirurgiões em Maryland (EUA) realizaram em novembro de 2025 o transplante de um rim de porco geneticamente modificado em um paciente vivo. O órgão, projetado para ser compatível com o tecido humano e cultivado em um porco, representa uma esperança para os milhares de pacientes que aguardam por um doador. Este procedimento faz parte do primeiro ensaio clínico focado em verificar a segurança e eficácia de rins de porcos editados geneticamente como substitutos para rins humanos em falência.

A bioeticista e filósofa, autora do artigo, expressa perplexidade diante de uma decisão anterior dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH). Em 2015, o NIH suspendeu o financiamento de pesquisas que buscavam uma solução diferente: cultivar órgãos humanos – feitos inteiramente de células humanas – dentro de porcos. Essa suspensão, motivada por preocupações éticas e de “quimeras humano-animais”, permanece em vigor.

A Urgência do Xenotransplante e os Desafios da Rejeição

A necessidade de transplantes é urgente, com mais de 100 mil americanos na fila de espera e milhares morrendo anualmente. Cientistas buscam em outras espécies uma solução, desde corações de babuínos até porcos geneticamente modificados. O principal desafio sempre foi a rejeição imunológica, onde o corpo do receptor ataca células que não reconhece. Um caso recente, em janeiro de 2025, de um homem que recebeu um rim de porco e teve o órgão removido nove meses depois devido à diminuição de sua função, ressalta que a rejeição continua sendo um problema central nos xenotransplantes.

Para contornar a rejeição, pesquisadores buscam criar órgãos toleráveis, inserindo genes humanos nos porcos e removendo genes suínos. Ainda assim, os receptores precisam de medicamentos imunossupressores potentes por longos períodos.

O Cultivo de Órgãos Humanos em Porcos e a Proibição Ética

A abordagem de cultivar órgãos a partir das próprias células do paciente, utilizando porcos como “incubadoras”, parecia promissora para eliminar a rejeição. Essa técnica envolvia desativar os genes dos porcos que permitem a formação de rins e injetar células-tronco humanas no embrião, resultando em um rim geneticamente compatível. Pesquisas similares já haviam sido bem-sucedidas com pâncreas de camundongos em ratos.

A proibição do NIH em 2015, no entanto, não se baseou em falha científica, mas sim em “confusão moral”. A principal preocupação era que as células humanas pudessem se espalhar pelo corpo do animal, inclusive no cérebro, borrando a linha entre humanos e animais e podendo “alterar o estado cognitivo do animal”. Organizações de defesa dos animais argumentavam que, se tais quimeras desenvolvessem consciência semelhante à humana, deveriam ser tratadas como sujeitos de pesquisa humanos. A preocupação centra-se na possibilidade de que o status moral de um animal pudesse mudar, exigindo um tratamento diferenciado.

A Crítica da Bioeticista à Lógica do NIH

A autora argumenta que o raciocínio por trás da proibição do NIH é falho. Ela questiona por que é considerado ético transplantar órgãos de porco para humanos, mas não cultivar órgãos humanos em porcos. A proibição baseou-se no perigo de tornar os porcos “demasiado humanos”, mas, ao mesmo tempo, reguladores parecem confortáveis em tornar humanos “um pouco mais porcos”.

A crítica central é que o status moral não é determinado apenas por capacidades cognitivas, como a autoconsciência, mas frequentemente pelo pertencimento à espécie. Se a autoconsciência fosse o único critério, a inserção de células de golfinhos ou primatas em porcos deveria gerar preocupação similar, o que não ocorre. A mera presença de células humanas não transforma porcos em humanos; por exemplo, um transplante de rim não torna o receptor parte da família do doador. A autora conclui que, embora existam preocupações válidas sobre o bem-estar animal, a justificativa do NIH para a proibição se baseia em um equívoco sobre o que confere status moral aos seres, especialmente aos humanos.

Com informações de Metrópoles

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