Com a chegada do verão, as escapadas para a piscina ou praia se tornam mais frequentes. Se, no passado, esses momentos envolviam se expor ao sol sem maiores preocupações, hoje sabemos que a proteção solar é indispensável para que a diversão seja plena e, acima de tudo, segura.
Nesse sentido, o protetor solar é, sem dúvida, um dos itens mais importantes contra queimaduras, manchas e até o câncer de pele. No entanto, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre sua real eficácia e, influenciadas por mitos ou informações mal compreendidas, acabam negligenciando esse cuidado, não apenas no verão, mas ao longo de todo o ano.
Para esclarecer de vez essas confusões, desvendamos os mitos mais comuns sobre o protetor solar.
1. Protetor solar em creme é mais eficaz que os outros
Mito. Segundo o dermatologista Abdo Salomão Júnior, sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) , o veículo do protetor solar — seja ele em creme, loção, gel ou spray — não altera sua eficácia. “Isso é apenas uma questão de conforto e preferência. O que acontece é que produtos em creme, loção ou mesmo sérum e gel, são mais fáceis de aplicar uniformemente, enquanto o spray requer atenção para evitar áreas descobertas”.
2. Crianças podem usar o mesmo protetor dos adultos
De acordo com a dermatologista Flávia Brasileiro, membro da SBD, crianças não devem usar o mesmo protetor solar que os adultos até os 2 anos de idade. Ela explica que os protetores infantis físicos são os mais indicados, já que são formulados com ingredientes hipoalergênicos e oferecem menor risco de irritação, sendo ideais para a pele sensível dos pequenos. Além disso, esses produtos geralmente possuem fator de proteção solar (FPS) igual ou superior a 50 e são resistentes à água, oferecendo maior segurança.
A principal diferença entre o protetor solar físico e o químico é que o físico têm substâncias como o dióxido de titânio e o óxido de zinco, que formam uma barreira na pele e refletem as radiações UVA e UVB. Eles iniciam sua ação imediatamente após a aplicação e são mais resistentes ao suor – justamente por isso são mais indicados para os pequenos. Já o químico tem moléculas que são absorvidas pela pele e reagem com a luz do sol, transformando a radiação de alta intensidade em uma energia mais leve. Porém, só começa a agir após 30 minutos da aplicação. Para descobrir qual é o tipo do protetor basta verificar a embalagem e as especificações do rótulo.
Além disso, Flávia destaca que o uso de protetor solar é recomendado a partir dos 6 meses de idade. Antes disso, a proteção deve ser realizada por meio de barreiras físicas, como chapéus e roupas de manga longa e tecidos com proteção UV.
Após os 2 anos, o uso de protetores solares adultos pode ser considerado. No entanto, ela sugere continuar utilizando versões pediátricas até pelo menos os 7 anos. “Isso ajuda a prevenir alergias e garante uma proteção mais eficaz para a pele infantil”, opina.
A dermatologista Mônica Aribi, membro da Academia Europeia de Dermatologia, dá outra dica: optar por produtos que facilitem a aplicação, como loções cremosas ou fluídas. “Esses formatos são melhores para coberturas uniformes, inclusive de áreas delicadas, como o couro cabeludo, onde a proteção natural dos fios é limitada em crianças e o protetor também deve ser aplicado”.
3. Basta aplicar uma vez ao dia
Mito, viu? Segundo a SBD, o protetor solar deve ser reaplicado a cada duas horas. Agora, se suar ou molhar, o tempo deve ser ainda menor. “Mesmo em ambientes secos, o filtro solar vai perdendo eficácia ao longo do tempo devido à oxidação e à própria absorção pela pele”, explica Flávia. “Toda vez que a pessoa entra na piscina e no mar, ou toma uma ducha, precisa reaplicar, mesmo que ele seja à prova d’água”, complementa Mônica.
4. Não precisa usar protetor solar dentro de casa
Embora muitas pessoas considerem o uso de protetor solar dentro de casa, essa é uma recomendação importante de especialistas, como Salomão. Ele explica que, mesmo em ambientes fechados, estamos expostos à radiação ultravioleta (UV), uma radiação invisível aos olhos, que vem do sol. “A radiação UV não chega só através das janelas, como também é emitida por aparelhos como monitores, câmeras e até as telas de celular”, alerta.
A radiação UV, especialmente os raios UVA, podem causar danos à pele, como o envelhecimento precoce, o surgimento de manchas e, a longo prazo, até o câncer de pele. Isso acontece porque, mesmo em ambientes internos, a radiação pode penetrar na pele e causar efeitos prejudiciais com o tempo, sem que a gente perceba.
5. Não precisa usar em dias nublados
Muitas pessoas acreditam que, em dias nublados, não há necessidade de usar protetor solar. No entanto, essa é uma ideia equivocada. Salomão reforça que a radiação UV, invisível aos nossos olhos, não é bloqueada pelas nuvens. As nuvens podem até diminuir a luz solar visível, mas não impedem a passagem desses raios, o que cria uma falsa sensação de segurança. “Até 80% desse tipo de radiação conseguem atravessar as nuvens”, alerta o dermatologista. Isso significa que, mesmo em dias nublados, você pode estar se expondo à radiação sem perceber.
Além disso, o uso de protetor solar deve ser uma prática diária durante todo o ano, independentemente das condições climáticas, como frio, calor, sol ou chuva. Isso acontece porque, enquanto os raios UVB, responsáveis pelas queimaduras solares, são mais intensos entre 10h e 16h, os raios UVA estão presentes durante todo o dia, sendo igualmente prejudiciais à pele.
6. Protetor solar impede absorção da vitamina D
Apesar dos danos causados pelos raios UVB à pele, essa radiação não é totalmente prejudicial: ela também é responsável pela produção de vitamina D, que desempenha funções essenciais, como ajudar no fortalecimento dos ossos e do sistema imunológico. Por isso, muitos se questionam se o protetor solar pode interferir nesse processo. Embora existam estudos sobre o tema, muitos são realizados ou patrocinados pelas empresas fabricantes de protetores, o que levanta dúvidas sobre sua imparcialidade.
Contudo, segundo Flávia e Mônica, o protetor solar não impede a produção da substância, que é considerada inclusive um hormônio. Elas afirmam que a exposição de pequenas áreas da pele, como as mãos, é suficiente para garantir as doses de vitamina D. Mônica destaca que basta se expor ao sol por apenas 15 minutos ao dia.
Fora isso, Flávia ressalta que também é possível obter a substância por meio da dieta, com alimentos como salmão, atum, ovos, outros peixes e até óleo de bacalhau. Já a necessidade de suplementação deve ser discutida com um profissional de saúde, a partir de exames que avaliam os níveis de vitamina D no organismo.
7. Protetor solar causa câncer de pele
Está aí um mito dos grandes e que vem sendo frequentemente disseminado na internet. No entanto, é importante ressaltar que o protetor solar é um produto seguro e essencial para minimizar os danos causados pela radiação solar à pele. De acordo com o Guia de Fotoproteção da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), “as marcas são testadas antes de serem colocadas à venda, ou seja, são seguras e eficientes. Entretanto, seu uso isolado pode não ser suficiente. Para proteger a pele, o uso do protetor solar deve ser complementado por outras medidas, como evitar a exposição nos horários de maior incidência de radiação UV e utilizar chapéus, camisetas e óculos escuros.”
Além disso, a dermatologista Flávia reforça a importância de aplicar a quantidade adequada de filtro solar para garantir sua eficácia. “Os testes são realizados com uma colher de chá para o rosto, uma colher de chá para cada braço, duas colheres de chá para o tronco (tanto a parte da frente quanto a de trás) e para cada perna. Respeitar essas quantidades é essencial, pois aplicar menos do que o recomendado pode comprometer significativamente a proteção oferecida pelo produto”.
8. Usar base com FPS é sinônimo de proteção
Depende. Para que essa proteção de fato ocorra é importante observar se a base possui a proteção contra os principais raios solares, o que não é tão comum. “Normalmente, as maquiagens trazem um fator de proteção solar leve e não mensuram a proporção de proteção contra os raios UVA e UVB. Então, é importante que se aplique um filtro solar antes das maquiagens”, orienta Flávia.
9. Óleo de coco pode substituir o protetor solar
Além das trends que alegam que o protetor solar contém ingredientes cancerígenos, usuários do TikTok têm alcançado milhões de visualizações ao afirmar que o óleo de coco pode ser um substituto eficaz em relação ao produto. Contudo, dermatologistas consultados pelo Estadão esclarecem que essa é mais uma afirmação equivocada — e, acima de tudo, perigosa. Segundo os especialistas, o uso pode resultar em queimaduras graves, cicatrizes, manchas e até dermatite de contato.
“Os óleos naturais podem até ter um efeito calmante sobre queimaduras solares já existentes, mas, quando utilizados antes da exposição, podem acelerar e potencializar o bronzeamento, aumentando o risco de queimaduras graves”, alerta Flávia.
10. Pele negra não precisa de protetor solar
Pessoas de pele negra ou mais escura têm, de fato, uma proteção natural contra os efeitos do sol devido à maior produção de melanina, pigmento que atua como uma barreira contra a radiação ultravioleta. No entanto, isso não significa que estão totalmente protegidas e que podem abrir mão do protetor solar.
“A melanina oferece um fator de proteção natural equivalente a um FPS entre 10 e 15″, explica Flávia. Ainda assim, ela alerta que pessoas com peles mais escuras também estão suscetíveis a câncer de pele, melasma, manchas e envelhecimento precoce.
11. Protetor solar pode ser prejudicial para gestantes
Nada disso. Inclusive, durante a gravidez, as alterações hormonais tornam a pele mais suscetível à hiperpigmentação, caracterizada pelo escurecimento de algumas áreas, especialmente no rosto. Por isso, o uso do filtro solar é essencial para prevenir o surgimento de manchas. A SBD recomenda que as gestantes consultem um dermatologista para orientações específicas sobre os cuidados com a pele durante esse período.
“De forma geral, recomenda-se a adoção de barreiras físicas, como chapéus e blusas de manga comprida, além do uso de protetor solar com FPS acima de 30 e proteção UVA, em todas as fases da gestação”, orienta a entidade médica.
12. Protetor solar com FPS 50 + base com FPS 20 = FPS 70?
Aplicar dois produtos com fatores de proteção solar diferentes não significa que os números se somam. A dermatologista Mônica destaca que, ao usar um protetor FPS 50 e uma base com FPS 20, por exemplo, o nível de proteção não chega a 70. Ela explica que a matemática dos protetores é bem específica. “O aumento de proteção entre um FPS 50 e um FPS 70, por exemplo, é de apenas cerca de 3%. Por isso, o FPS mais alto entre os protetores aplicados é o que prevalece”, ensina ela, reforçando que a aplicação correta — em quantidade generosa e reaplicações frequentes — é o fator mais importante.
Quem precisa de cuidados especiais?
Os problemas decorrentes da exposição indevida ao sol, como o câncer de pele, podem afetar qualquer um, especialmente em países tropicais, como o Brasil. No entanto, alguns grupos precisam redobrar a atenção, de acordo com a SBD. Confira:
- Pessoas com pele, cabelos e olhos claros;
- Pessoas com histórico de câncer de pele na família;
- Pessoas com facilidade de apresentar queimaduras de sol e tendência a manchas, pintas ou sardas.
Como escolher o protetor solar
Na hora de comprar o protetor, algumas dicas podem ser úteis:
- Produtos com cor protegem mais do que os tradicionais;
- O FPS 30 garante uma proteção adequada. No entanto, pessoas com pele mais clara devem usar filtro com FPS entre 50 e 70;
- Pessoas com tendência à acne podem se beneficiar de produtos em gel ou creme, especialmente aqueles que são oil free (livres de óleo).
Com informações de ESTADÃO