
O sol desponta em cima do rio, pintando o céu de dourado enquanto o vento matinal baila entre as árvores. No terreiro de casa, um curumim de pés descalços exibe com orgulho sua colheita e sua pesca: peixes prateados brilhando sob a luz e vagens longas, fruto do marimari.
A infância do curumim não é feita de telas luminosas ou brinquedos caros. Seu mundo é vasto como o rio que serpenteia pelo igapó , igarapé ou a mata rica como o solo que sustenta as raízes da vida. Ele aprende cedo que cada fruto colhido tem o suor de quem planta, que cada peixe pescado é um presente generoso da natureza. Seu alimento não vem empacotado, mas sim das águas que conhecem seus passos e da terra que sente suas mãos.
O dia avança, e o curumim corre entre os barrancos , explorando os caminhos que os mais velhos conhecem de cor. Ele brinca com o vento, desafia os pássaros a voarem mais alto e desenha sua história nos troncos das árvores. O cheiro de fumaça anuncia o preparo da comida, e ao cair da tarde, ao redor do fogo, os contos de seus avós ecoam no ar, como se os espíritos da floresta sussurrassem suas memórias através das chamas.
A vida do curumim é simples e grandiosa. Ele cresce cercado pelo mundo que pulsa e ensina, entre rios, peixes e raízes. E ali, sob o céu que nunca lhe falta, aprende que viver é mais que existir, é sentir, respeitar e se tornar parte de tudo que há.