A vitória do republicano Glenn Youngkin nas eleições para o governo estadual da Virgínia oferece à direita dos Estados Unidos uma estratégia para reconquistar o Congresso em 2022, tratando de temas caros para o eleitorado conservador e moderado, mas mantendo o ex-presidente Donald Trump à distância, segundo especialistas.

“Glenn Youngkin escreveu um manual”, disse Leonard Steinhorn, professor de comunicação na American University de Washington, para um “populismo familiar residencial suburbano”, distante das declarações inoportunas do ex-mandatário republicano.

Youngkin, um empresário bilionário de 54 anos estreante na política, superou nesta terça-feira (2) o democrata Terry McAuliffe na Virgínia, que já governou o estado de 8 milhões de habitantes, vizinho da capital Washington.

O republicano se beneficiou de uma mobilização excepcional do eleitorado republicano e manteve a base de Trump, que manifestou o seu apoio ao candidato desde muito cedo.

Youngkin, contudo, se distanciou o suficiente do ex-presidente para conseguir atrair um eleitorado moderado, como as mães de famílias brancas dos subúrbios, apesar dos esforços democratas de destacar a proximidade entre ambos.

“Não funcionou porque Youngkin não agiu nem falou como Trump”, afirmou J. Miles Coleman, do Centro de Política da Universidade da Virgínia.

Apesar de ter mantido alguma sinalização para os eleitores trumpistas, Youngkin se desvencilhou do ex-presidente, cujo estilo descarado havia afastado muitos eleitores nos subúrbios de classe média e alta, particularmente as mulheres brancas.

Youngkin recebeu o apoio de Trump ao falar de “integridade eleitoral”, uma referência codificada às falsas afirmações do ex-presidente de que ele teria vencido as eleições presidenciais de 2020. Contudo, não fez menções ao magnata durante a campanha eleitoral, nem o convidou para seus comícios na Virgínia.

– Pais preocupados –

Youngkin também atacou a “teoria crítica da raça”, que vê o racismo nos Estados Unidos como um sistema perpetuado pela maioria branca para manter seus privilégios, e não como um preconceito individual contra as minorias.

O republicano criticou diversas vezes o ensino dessa teoria nas escolas públicas da Virgínia, um estado cujo passado escravista é alvo de debates acalorados, apesar de os democratas e especialistas terem afirmado que a mesma não fazia parte do programa escolar.

Os pais preocupados, e mais atentos aos afazeres escolares de seus filhos devido ao fechamento das escolas pela pandemia, criticaram o que classificam de “ideias radicais”.

Youngkin, ele mesmo um pai de família, reivindicou que os pais fossem “respeitados” e consultados sobre o conteúdo dos programas de ensino na educação pública.

“Ele utilizou uma fórmula de populismo trumpista, mas o fez de uma forma muito inteligente que, eu acredito, se transformará no manual republicano para as eleições de meio de mandato do próximo ano”, disse Steinhorn. (AFP)

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