No retorno do projeto Vozes da Educação de Manaus (VEM), que celebra o Dia do Professor valorizando e divulgando as histórias de vida dos educadores da nossa cidade, apresentamos o professor Raimundo Costa de Moraes. Nascido na comunidade de Parauá, no Careiro da Várzea, ele construiu uma sólida trajetória acadêmica e profissional, unindo Filosofia, Psicologia, História e Teologia à prática docente. Com mais de três décadas de dedicação à sala de aula, sua história reflete não apenas os desafios e transformações da educação ao longo do tempo, mas também o compromisso de quem fez da docência uma missão de vida.

1. Quem é você? Conte-nos um pouco da sua trajetória de vida!

Eu sou Raimundo Costa de Moraes, nascido no interior do Amazonas, na comunidade de Parauá, Careiro da Várzea. Minha formação superior iniciou no Centro de Estudos do Comportamento Humano (CENESCH), em Pastoral e Teologia, em parceria com a Universidade de Santa Úrsula. Sou licenciado em Filosofia pelo CENESCH, com revalidação pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Também cursei Psicologia na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA Manaus) e História na Universidade Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). Além disso, concluí especializações em Metodologia do Ensino Superior (Uninorte) e em Gerontologia e Família (Fametro).

2. Quando a sala de aula passou a fazer parte da sua vida? Quais lembranças mais vivas desse começo ainda acompanham você?

Em 1989, fui contratado pela SEDUC para ministrar aulas de Ensino Religioso no Ginásio Amazonense Dom Pedro II, onde permaneci por três anos, até ser transferido para o Colégio Brasileiro Pedro Silvestre. Ah, quanta saudade daquelas turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio! Mesmo sendo iniciante, buscava sempre fazer o melhor, e isso favorecia a interação com os jovens nas aulas de Ensino Religioso. Eles eram participativos, especialmente nos seminários.

3. Olhando para trás, qual é a mudança mais profunda que percebeu na educação ao longo da sua trajetória até hoje?

Parafraseando Heráclito, “a única permanência na natureza é a mudança”. Foram inúmeras transformações: na legislação, na relação entre docentes e discentes, na forma de transmissão dos conteúdos, na ampla acessibilidade às mídias, mas também no comportamento humano dentro e fora da sala de aula.

4. Quais autores, mestres ou experiências foram centelhas que iluminaram seu caminho como professor?

Dos grandes expoentes da Filosofia: Sócrates, Platão, Aristóteles, Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger. Além deles, tive inspiradores mestres e profissionais, como Braz Cogo, Freida Bittencourt, Pe. Humberto Guidote e tantos outros.

5. Que horizontes ainda deseja alcançar na educação? Há um sonho ou projeto que guarda consigo e gostaria de realizar?

Pretendo acompanhar e auxiliar a educação escolar das minhas filhas menores, além de fundar uma ONG voltada para o trabalho social na comunidade onde resido, com foco na educação dos primeiros anos do Ensino Fundamental I, de forma gratuita.

6. Durante sua caminhada como professor, aconteceu alguma história curiosa que gostaria de compartilhar?

Sim. Recordo-me do reencontro com uma ex-aluna do Ensino Fundamental II, da comunidade de Igarapé-Açu, no Rio Negro. Ela frequentava as aulas levando consigo o bebê. Três anos depois, em um supermercado de Manaus, ouvi alguém exclamar: “Professor Moraes!”. Ao olhar, reconheci aquela guerreira resiliente, que agora trabalhava no caixa. Cumprimentei-a e a parabenizei pela força e pela trajetória.

7. Se pudesse deixar uma palavra de inspiração aos colegas professores e àqueles que leem sua história, qual seria?

Aos que pleiteiam assumir a profissão, digo que ser professor é mais que um ofício: é uma excelente oportunidade para aprender ensinando. Aos veteranos, recomendo cuidar da saúde mental, para evitar o risco de processos depressivos. Afinal, saúde não se negocia.

A história do professor Raimundo Costa de Moraes se entrelaça com a própria história da educação em Manaus: feita de resistências, mudanças e afetos que atravessam gerações. Sua caminhada mostra que ser professor é cultivar sementes em terrenos muitas vezes áridos, confiando que o futuro fará brotar frutos inesperados. Ao olhar para trás, ele reencontra rostos, vozes e lembranças; ao olhar para frente, guarda o desejo de continuar servindo à educação, seja na vida de suas filhas, seja no sonho de uma ONG comunitária. Assim, sua voz ecoa entre tantas outras, lembrando-nos que ensinar é sempre um ato de fé no amanhã.

Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025). 

Instagram: @luislemosescrito

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