Na série Vozes da Educação de Manaus (VEM), damos espaço a histórias que refletem trajetórias de vida marcadas pela dedicação, desafios e paixão pelo ensino. Nesta edição, entrevistamos o professor Reinaldo do Nascimento Jean, nascido em Benjamin Constant, no interior do Amazonas, que iniciou sua carreira profissional longe da sala de aula, trabalhando como técnico em eletrônica por mais de duas décadas. A vida o conduziu de volta à educação e, desde então, ele se dedicou a transformar vidas como docente de Ensino Religioso em Manaus. Sua trajetória é marcada por persistência, amizades duradouras, inspiração em grandes educadores e a certeza de que ensinar é semear conhecimento e valores que florescerão no futuro de cada estudante.

1. Quem é você? Conte-nos um pouco da sua trajetória de vida.
Sou Reinaldo do Nascimento Jean, nascido no município de Benjamin Constant, AM, no dia 07/01/1958, atualmente com 67 anos. Migrei para Manaus porque, inicialmente, não queria ser professor, embora já tivesse tido uma experiência docente no Centro Interescolar, curso habilitado pela SEDUC, quando cursava o último ano do ensino fundamental II. Meu sonho era estudar eletrônica, e consegui realizá-lo: trabalhei por 26 anos no distrito industrial de Manaus como técnico na linha de produção.

2. Quando a sala de aula passou a fazer parte da sua vida? Quais lembranças mais vivas desse começo ainda acompanham você?
A sala de aula passou a fazer parte da minha vida quando fui demitido, junto com meus colegas, do distrito industrial. Decidi voltar a estudar e ingressei no Centro do Comportamento Humano, CENESCH, onde cursei Teologia Pastoral. Durante dez anos, conciliei o trabalho no distrito com as aulas à noite na SEDUC. No ano de 2000, prestei vestibular no Novo CENESCH e cursei Licenciatura em Ensino Religioso. Em 2004, realizei concurso para a SEMED e assumi, em 2005, na Escola Municipal Antithenes, no bairro Alfredo Nascimento. Minha maior lembrança desse início é o grupo de professores que encontrei e com quem convivi — até hoje não encontrei outro igual, e muitos permanecem meus amigos.

3. Olhando para trás, qual é a mudança mais profunda que percebeu na educação ao longo da sua trajetória até hoje?
A mudança mais profunda foi perceber como a educação se transformou em função do sistema. Hoje, a vida dos estudantes foi facilitada, e os professores acabaram aceitando imposições, como a política de não reprovação dos alunos.

4. Quais autores, mestres ou experiências foram centelhas que iluminaram o seu caminho como professor?
Muitos educadores foram motivação para que eu permanecesse na educação: Paulo Freire, patrono da educação brasileira e autor de Pedagogia do Oprimido; Anísio Teixeira, defensor da educação pública, laica e universal; e Darcy Ribeiro, com sua visão ampla de sociedade e escola.

5. Que horizontes ainda deseja alcançar na educação? Há um sonho ou projeto que guarda consigo e gostaria de realizar?
Estou em fim de carreira, mas continuo acreditando na educação. Após a aposentadoria, meu projeto é escrever e registrar minhas experiências de anos em sala de aula.

6. Durante sua caminhada como professor, aconteceu alguma história curiosa, engraçada ou diferente que você gostaria de compartilhar?
Uma história curiosa aconteceu quando ainda se preenchia o diário, a chamada “pagela”. Levei os diários para o trabalho no distrito industrial e, na saída, coloquei-os no meu fusca. Porém, eles caíram no chão e alguém os levou até a SEDUC. Você nem imagina a bronca que minha diretora levou, e eu quase fui exonerado!

7. Se pudesse deixar uma palavra de inspiração aos colegas professores e àqueles que leem sua história, qual seria?
Ser professor é plantar sementes invisíveis, com a certeza de que, um dia, florescerão em lugares que jamais poderíamos imaginar. Ou ainda, no ato de formar e guiar o futuro: Vocês são os arquitetos do futuro, moldando mentes com paciência e dedicação. Lembrem-se da paixão e do impacto duradouro que cada professor tem na vida dos alunos e na sociedade.

Por fim, a trajetória do professor Reinaldo do Nascimento Jean é um testemunho de perseverança, paixão e dedicação à educação. De técnico no distrito industrial a docente comprometido com a formação de jovens em Manaus, sua história mostra que ensinar é mais do que transmitir conhecimento: é cultivar valores, inspirar vidas e deixar um legado que ultrapassa gerações. Entre desafios, aprendizagens e memórias afetivas, Reinaldo nos lembra que cada ato de ensinar é uma semente plantada, cuja colheita se dará em lugares que muitas vezes não podemos imaginar, reafirmando o poder transformador da educação e a importância de cada professor na construção de um futuro melhor.

Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025). 

Instagram: @luislemosescrito

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