Na edição desta semana do projeto “Vozes da Filosofia de Manaus”, entrevistamos o filósofo José Luiz Barbosa de Oliveira, gaúcho de nascimento e amazonense por escolha. Autodidata, foi alfabetizado pelo pai e concluiu seus estudos por meio de exames supletivos. Após atuar em diversas regiões do país e enfrentar o desemprego nos anos 1990, encontrou na Filosofia um novo rumo de vida. Autor de um livro de contos e crônicas, José Luiz reflete, nesta entrevista, sobre os desafios de ensinar Filosofia em um país que ainda ignora o valor desse saber na formação crítica e cidadã.
1. Quem é você? Conte-nos, brevemente, um pouco sobre sua trajetória de vida. Em que instituição e em que ano você se formou em Filosofia?
“Sou José Luiz Barbosa de Oliveira, nascido no Rio Grande do Sul, em 1954. Tive uma infância dividida entre o campo e a cidade, fui peão de fazenda e tratorista, e fui alfabetizado por meu pai. Concluí os estudos de forma autodidata, por meio de exames supletivos. Trabalhei em diferentes estados do Brasil até que, diante do desemprego causado pelas mudanças econômicas dos anos 1990, encontrei na Filosofia um novo caminho. Formei-me em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo, no ano 2000 e colei grau em 2001. Desde então, atuo como professor, atualmente em Manaus, onde também concluí minha licenciatura na UFAM”.
2. Quais eventos ou influências o levaram a se interessar pela Filosofia e a seguir esse caminho intelectual? Houve algum momento decisivo, leitura marcante ou figura inspiradora?
“O que me levou à Filosofia foi um momento de crise pessoal e profissional, durante a era FHC, quando o desemprego e a exclusão de trabalhadores mais velhos se tornaram realidade. A Filosofia surgiu como uma forma de preservar minha saúde mental e reencontrar sentido na vida. Mais do que uma influência pontual, foi a necessidade de pensar o mundo e a mim mesmo que me conduziu por esse caminho”.
3. Você possui livros publicados? Se sim, poderia nos contar, brevemente, quais são e do que tratam?
“Sim, sou autor do livro “Do trem da memoria: contos e crônicas”, publicado em 2020, com textos que misturam memórias e ficção. Também participei da 1ª Antologia Poética do Recanto das Letras, em 2019, com uma minibiografia e nove textos poéticos”.
4. Qual é, em sua opinião, o papel da Filosofia na sociedade atual? Como ela pode contribuir para uma melhor compreensão do mundo e de nós mesmos?
“A Filosofia é essencial para despertar a consciência crítica e aprofundar a compreensão do ser humano e da sociedade. Ela nos permite questionar valores, entender os processos históricos e culturais e refletir sobre nossas escolhas. É um instrumento fundamental para a formação cidadã e para enfrentarmos a superficialidade que domina o mundo atual”.
5. Você acredita que o ensino de Filosofia nas escolas e universidades tem cumprido bem seu papel? O que poderia ser aprimorado nesse processo?
“Infelizmente, acredito que o ensino de Filosofia tem sido negligenciado. A disciplina tem sido sistematicamente esvaziada dos currículos escolares, o que impede o aprofundamento necessário. Além da falta de tempo, o próprio sistema de ensino não valoriza suficientemente a reflexão filosófica. É urgente reverter esse quadro e garantir espaço para o pensamento crítico nas escolas”.
6. Em sua opinião, qual é o maior desafio enfrentado por quem escolhe a Filosofia como profissão ou modo de vida? Quais caminhos possíveis existem para enfrentar esse desafio?
“O maior desafio é vencer o menosprezo e a ignorância em relação à Filosofia no Brasil. Essa resistência cultural e institucional exige perseverança. O caminho possível é continuar insistindo no valor do pensamento, ocupando os espaços educativos e culturais, escrevendo, ensinando e dialogando com a sociedade”.
7. Que mensagem você gostaria de deixar para os leitores, especialmente para aqueles que ainda não tiveram contato com a Filosofia?
“A Filosofia salvou minha vida num momento de grande escuridão. É mais do que uma profissão, é um modo de estar no mundo. Minha esperança é que, um dia, ela seja reconhecida não como luxo acadêmico, mas como necessidade vital para uma sociedade mais justa, lúcida e humana”.
Agradecemos, por fim, ao filósofo José Luiz por compartilhar conosco sua trajetória de vida e pensamento, marcada pela coragem, pelo autodidatismo e pela paixão pela Filosofia. Sua história inspira não apenas pelo percurso pessoal, mas também pelo compromisso com a educação e com a construção de uma sociedade mais crítica e consciente. Que sua voz continue ecoando nas salas de aula, nas páginas dos livros e nos corações daqueles que, como o senhor, veem na Filosofia um modo de resistir, compreender e transformar o mundo.
Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025).
Instagram: @luislemosescrito








