No projeto vozes da Literatura de Manaus que tem o propósito de dar voz aos escritores locais, resgatar memórias culturais e promover o diálogo entre a literatura e a comunidade, conheça hoje a trajetória de vida da autora de “Rasgada ao Meio”: Márcia Antonelli. Boa leitura!
Quem é você? “Meu nome é Márcia Antonelli, transcritora nascida em Manaus Amazonas. Filha de Eunice de Almeida Santana e Braz Antônio Damasceno. Minha mãe, costureira e meu pai prático de navegação marítima. Cresci e me criei no bairro de Educandos, um dos bairros tradicionais de Manaus. Vivi neste bairro até meus 40 anos e, portanto, trago de lá muitas passagens importantes da minha vida e que muito inspirou uma parte da minha literatura onde trabalho com a memória a qual transponho para as páginas dos meus livros e livretos. Ressalto que, tanto minha mãe como meu pai foram figuras incentivadoras da minha literatura e por conta disso, acabaram tornando-se personagens fecundos de meus contos e novelas”.
Quantos livros você já publicou? Quais são eles? “Ao longo de minha vida foram ao todo sete livros até aqui. São eles: Doze contos Amazônicos (Contos, 1999 – Imprensa Oficial.), A Fuga (Romance, 2002 – Gráfica da Universidade Federal do Amazonas em parceria com a Revista Underground Sirrose), O Homem com a abertura na testa (novela – Realismo Fantástico, 2004 – Gráfica da Universidade Federal do Amazonas em parceria com a Revista Underground Sirrose), Marcas de Mordidas na Pele (contos eróticos, Editora Independente Coleção de Rua, 2014), Texticulos de Gatos ( Ensaios, Editora Independente Coleção de Rua, 2018), Hematofilia (Novela, 2024 – Editora Transe) Rasgada ao meio (Contos, 2024 – Editora Transe.) Sem mencionar os 70 e poucos livretos que venho publicando de forma alternativa desde 2010 até o presente momento e que os divulgo e vendo-os nas ruas do centro de Manaus”.
Como você se define no campo literário? Você se considera mais um contista, poeta ou romancista? Ou gosta de explorar vários gêneros? “Sempre enveredei no campo da prosa, portanto, considero-me uma contista, novelista, ensaísta e cronista, e com um segundo romance em andamento, sem titulo até agora. Dentro da prosa busco explorar vários gêneros. O escritor nunca se aquieta”.
Como a literatura de Manaus ou a cultura local influenciam sua escrita? “Nossa literatura Amazonense é muito vasta, rica e criativa. Não deixa a desejar a outros estados. Deve-se a isso ao cenário que nós temos e a cultura local que muito contribui. O Movimento Madrugada é um exemplo disso, nos deu muitos nomes, grandes representantes de nossa literatura amazônica. Assim como também os novos escritores vinculados ou não ao Clube da Madrugada, os chamados “Geração Pós- Madrugada” ou simplesmente uma nova safra que por conta própria se arvoram em produzir seus livros de forma ou não independentes e que também produzem uma literatura muito rica, prolífica e atuante. Eu me enquadro nesse grupo. Faço aqui uma ressalva: não sou uma escritora Pós-Madrugada (embora tenha muito respeito pelo alcunho e pela contribuição que o movimento Madrugada nos legou). É verdade que fui uma escritora que já pertenceu a um coletivo chamado “Sirrose” e que todavia também simbolizou um movimento literário em Manaus. Hoje sigo sozinha sem vinculo com clube ou coletivo algum, embora ache relevante a existência de coletivos que vem acontecendo em Manaus como o “Clube Literário do Amazona Clam”, “Formas e Poemas”, “O Movimento de poesia Marginal Slam”, “As Enluaradas” o “Poesia-te”, “O Black Chico” que vem crescendo e reunindo os jovens do Fanzine, enfim, muitos outros coletivos emergentes e que fazem um trabalho muito lindo e de qualidade literária”.
Quais são os principais desafios que você enfrentou ou enfrenta ao escrever um livro? “Escrever um livro é fácil quanto se tem tal inclinação para a escrita, basta-nos um pouco de disciplina, amor e dedicação no ato de escrever, sem contar um espaço adequado para a produção. O desafio maior vem depois que é ver a obra pronta e tentar viabilizá-la por intermédio de uma publicação, e isso refiro-me a um livro ( diferentemente de um fanzine ou livreto que fazemos de uma piscada só.) Temos poucas Editoras em Manaus e publicar um livro através delas demanda custo altíssimo. Esse seja o maior desafio para quem se arvora em escrever, porque quem é o escritor que não deseja ver um livro seu um dia publicado e não mofar num fundo de uma gaveta. Publiquei meus dois últimos livros, uma novela e um de contos pela Editora Transe que é uma Editora que surgiu em 2020 e que aos poucos vem se consolidando no mercado editorial de Manaus e dialogando com novos valores literários de Manaus abrindo editais e estabelecendo novas politicas de publicação. Isso é muito bom porque abre portas para muita gente que não consegue publicar suas obras por livrarias elitistas e monopolizadoras daqui e que ainda tem que passar pelo crivo de certos críticos literários que se acham no direito de afirmar o que é e o que não é literatura. Dá licença!”
Quais mensagens ou reflexões você gostaria que os leitores levassem de seus livros? “Persistência. Luta. Perseverança. Esperança no hoje e no amanhã porque como dizia o poeta Belchior, O Novo sempre vem! E o novo somos nós”.
É professor, filósofo e escritor, autor, entre outras obras de “Amores que transformam”, Editora Escola Cidadã, ano 2024.
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