Ontem, antes de dormir, o professor Caraíba, depois de um dia inteirinho de trabalho docente, presenciou um encontro de notáveis, uma reunião entre grandes homens de nossa história.

Em primeiro lugar, ele viu e ouviu São Paulo, que parecia ser o líder daquele grupo. — “Quem é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?”.

Entre os muitos pensadores que estavam presentes naquela reunião, Nietzsche respondeu:

— “O homem é uma corda, atada entre o animal e o super-homem — uma corda sobre um abismo”.

O teólogo Teilhard de Chardin, parecendo discordar das ideias do filósofo alemão, retrucou:

— “O homem não é apenas um ser que sabe, mas é também um ser que sabe que sabe”.
Em seguida, Aristóteles pediu a palavra e também discursou: — “O homem é, por natureza, um animal político; e tem primeiro na família sua socialização e garantia da manutenção da vida em seus aspectos financeiros e educativos, mas é na Polis que se realiza plenamente, encontrando no fiel cumprimento das leis a justiça, dado que só podemos ser feliz no exercício da justa medida, ou seja, sendo prudentes e encontrando o meio termo em nossas ações”.

— “Meu amigo, como você fala bonito” — disse Teilhard de Chardin. E o filósofo de Estagira, continuou: — “O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz”.

Com voz calma e doce, mas firme e atroadora, retornou à palavra o Apóstolo dos Gentios: — “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”.

Protestando contra essas ideias, que ele chamou de retrógadas, Nietzsche voltou a falar: — “Amo aquele que não guarda uma gota de espírito para si, mas quer ser inteiramente o espírito de sua virtude: assim anda ele como espírito sobre a ponte”. E continuou: — “Amo aquele cuja alma esbanja a si mesma, que não quer gratidão e não devolve: pois ele sempre doa e não quer se guardar”.

Concordando com o “Filósofo Dinamite”, René Descartes disse: — “Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem”.

E continuou: — “As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores virtudes, e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam”.
Schopenhauer não deixou por menos e foi logo dizendo:

— “O saber humano se espalha para todos os lados, a perder de vista, de modo que nenhum indivíduo pode saber sequer a milésima parte daquilo que é digno de ser sabido”. E continuou: — “Assim como as atividades de ler e aprender, quando em excesso, são prejudiciais ao pensamento próprio, as de escrever e ensinar em demasia também desacostumam os homens da clareza e profundidade do saber e da compreensão, uma vez que não lhes sobra tempo para obtê-los”.

O professor Caraíba, tentando recuperar os sentidos, caminhou até a pia do banheiro, lavou o rosto e teve vergonha de seu medo. Era um homem de meia idade e parecia uma criança sem juízo.

— “O que é que está acontecendo aqui?” — pensou em voz alta.

Luís Lemos é professor, filósofo e escritor, autor, entre outras obras de, Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021. https://www.editoraviseu.com.br/filhos-da-quarentena-prod.html?___SID=U

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