Por Carlos Santiago*
Vêm da eleição suplementar para prefeito da cidade de Coari/AM os péssimos exemplos na política brasileira, num pleito que ocorreram fartos abusos de Poder Político e Econômico, conflitos de grupos familiares, fake news, divulgação de pesquisa diferente do resultado, agressões verbais e ameaças entre os candidatos, deixando em segundo plano a ética na política e as propostas para resolver os graves problemas do município.
No momento em que pandemia da Covid-19 já ceifou a vida de milhares de amazonenses e outros ficaram sequelados, com o aumento significativo do desemprego e da pobreza, colocando o Estado entre os que mais possuem pessoas com vulnerabilidade alimentar, a fome da população se transformou literalmente em instrumento de manobra eleitoral dos péssimos governantes.
Em Coari AM, grupos familiares que polarizaram o pleito lutaram pelo comando da prefeitura com ajuda de duas máquinas públicas. A Prefeitura de Coari e o governo Estadual protagonizaram ações e atos ilegais para eleger os seus candidatos, sendo objetos de ações da Justiça Eleitoral, do Ministério Público, da Polícia Federal e Militar.
Essa eleição municipal é um exemplo do que pode acontecer novamente nas eleições gerais de 2022, povo com fome e na pobreza, sendo disputado por políticos sem ética e sedentos pelo Poder, em que os interesses e as disputas pelo Poder devem ser ainda mais intensas, pois serão escolhidos o presidente da República, governadores nos Estados, senadores e deputados federais e estaduais.
Infelizmente o voto consciente visando ao bem comum, um bom programa de gestão e a ideologia política dos candidatos não foram determinantes nos rumos do pleito de Coari. Foi uma eleição em que o abuso do Poder Político e abuso do Poder Econômico foram fatores que influenciaram o resultado da disputa eleitoral.
O que aconteceu em Coari não é muito diferente das eleições que acontecem em outros municípios do Amazonas. Em Parintins, Tabatinga, Tefé, Careiro, Benjamim Constant, Santa Isabel do Rio Negro, Barreirinha e em tantos outros municípios, os grupos familiares controlam o Poder da Administração Pública há muito tempo. Coari é só mais uma cidade que expõe o caciquismo e o patrimonialismo na política.
Nos últimos anos, a família Pinheiro de Coari busca consolidar seu poder local e quer ir além da cidade, já elegeu uma deputada e, agora, tem nome para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Assim como fizeram as famílias Michiles, de Maués; a Lins, de Fonte Boa; a família Dutra, de Barreirinha, e outras, que já tiveram representantes nos municípios e no Poder Legislativo estadual e federal. É um fenômeno típico na política brasileira.
A eleição acabou. É preciso respeitar o resultado. Assim é a democracia. Mas é necessária uma reflexão da sociedade, do Ministério Público e da Justiça Eleitoral sobre os acontecimentos no processo eleitoral para que novos absurdos e ilegalidades não aconteçam.
Num país tão desigual, com um povo com tantas necessidades, com uma política sem qualidade, com uma elite econômica e intelectual amarrada aos interesses de pequenos grupos familiares, é muito difícil a luta por ética na política e, por consequência direta, na constituição de um país justo para todos.
O país não será justo com corrupção e falta de ética na política. As eleições de 2022 estão próximas, é tempo de agarrar a esperança e, ainda, buscar um Brasil melhor, uma decisão que cabe ao eleitorado.
Sociólogo, Analista Político e Advogado