Para dizer o mínimo, são ridículas essas manifestações bolsonaristas pós eleitorais. Ridículas, porém não inesperadas, na medida em que a intolerância sempre foi a marca registrada dessa “seita” que por quase quatro anos vem infelicitando o país. Felizmente o bom senso parece estar prevalecendo e as coisas, como não poderia deixar de ser, estão voltando à normalidade.
Não sei como essas pessoas não se dão conta de que o momento não é mais de discutir preferências político-eleitorais. Uma vez que se fez ouvir a voz das urnas, uma nova visão se impõe a quantos tenham efetivamente interesse em construir um novo Brasil. É preciso esquecer traumas e olvidar estremecimentos. Se a direção do país vai se inverter, isso não é motivo para a exclusão dos que, pensando diferente, também tenham a intenção de construir um futuro mais sólido.
Afinal de contas foi afastada de uma vez por todas a ameaça de uma guerra civil, tragédia que chegou a ser apregoada nos casos de maior acirramento ideológico no auge do já podemos denominar “ancien régime”. Sensatamente, o presidente eleito, em seu primeiro discurso após o resultado, conclamou todos os brasileiros à união, sem a qual não há como pensar em reconstruir o país, depois do quatriênio em que a ciência foi aviltada, a cultura vilipendiada e o próprio sentimento de humanidade foi relevado à condição de ínfima significância.
Mas uma coisa é certa: o êxito da nova empreitada está condicionado, sem qualquer sombra de dúvidas, ao desarmamento. É imperioso desarmar as pessoas, mas é mais imprescindível ainda que todos vamos à luta com os espíritos inteiramente desarmados, sem nenhum resquício de revanchismo e, muito menos, de ódio, ou de qualquer outro sentimento que seja fruto da mesquinharia.
O novo Brasil exige a união de todos os brasileiros, independentemente de classes sociais ou de níveis econômicos ou intelectuais. Trata-se de missão que não pode ser realizada sem a consciente e decisiva participação da nacionalidade como um todo, diante da certeza de que está em jogo, não a primazia de determinada força política, mas sim a edificação de sólidas bases em que a Pátria posa vicejar para todos.
Que o esquecimento dos atritos ceda lugar à solidariedade fraterna. Ou nos entendemos como uma Nação una e indivisível, ou não estaremos à altura da tarefa que o momento histórico nos reserva. Precisamos estruturar um sistema educacional em que nossas crianças, amparadas por um programa de Estado, possam formar os esteios de uma ampla cultura universal e técnica, a ser aprimorada, pelos que quiserem e puderem, numa universidade apoiada em bases da mais absoluta liberdade de pensamento, com irrestrita liberdade de cátedra.
Sei que é um sonho muito amplo, mas eu me permito sonhá-lo porque nunca esmoreceu em mim a certeza de que a luz venceria a escuridão. Agora que o grande farol se acendeu, vamos deixar que ele varra de vez todas as trevas, colocando-as em lugar de onde não ousem nem possam sair.
A estrada é longa e desafiadora. Só a potência da união de todos, sustentada por incondicional amor à Pátria, pode nos conduzir à linha de chegada, onde nos há de esperar o sorriso agradecido de nossos netos.