Avião da Gol decolando do Aeroporto Internacional de Brasília

Projetos anunciados para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) no Brasil já somam mais de 40 bilhões de reais, apontou um estudo da A&M Infra, uma unidade da consultoria empresarial Alvarez & Marsal, compartilhado com a Reuters.

Entretanto, o avanço efetivo desses projetos dependerá de como e com qual velocidade a comunidade global vai tratar o tema da transição energética, disse o Head da A&M Infra, Filipe Bonaldo. Outros desafios no Brasil incluem a necessidade de políticas públicas robustas, consistência regulatória e avanços no amadurecimento tecnológico.

Segundo o levantamento, os aportes já anunciados no país prevêem uma capacidade de aproximadamente 120 mil barris por dia de SAF.

“O mercado de SAF, ele nasce fundamentalmente em função da transição energética”, ressaltou Bonaldo, pontuando que o combustível exige um processo de produção “muito mais caro” do que o de um combustível de aviação tradicional e que, por isso, precisará do impulso da demanda do mundo por descarbonização.

Segundo o estudo, o custo de produção do SAF, considerando a maioria das tecnologias atualmente utilizadas, varia de duas a três vezes o do querosene de aviação (QAV) por litro. Em casos específicos, pode chegar a até oito vezes esse valor, a depender das matérias-primas e dos processos empregados.

Por outro lado, existe hoje um movimento que reduz a importância da transição energética na velocidade em que se previa anteriormente, afirmou o Bonaldo.

“Existe um (outro) movimento de realismo que também diz que ‘mesmo que nós quiséssemos, estávamos ousados demais, não existe dinheiro para fazer isso’”, adicionou.

No meio desse cenário, Bonaldo destacou que houve ainda uma “mudança radical” dos Estados Unidos, com a posse de Donald Trump, com um recuo em relação aos incentivos que havia para a transição energética como um todo.

A posição atual dos EUA, segundo Bonaldo, “traz mais um potencial problema para a transição energética… é um não-interesse real do país que tem a maior capacidade de balança comercial do mundo”.

Tais projetos anunciados no Brasil focam na produção de biocombustíveis a partir de óleos vegetais, etanol e sebo, destinados a misturas com querosene de aviação. No entanto, nenhum deles alcançou ainda a escala comercial, permanecendo em fases de implantação ou estudo.

Os empreendimentos visam atender a companhias aéreas internacionais, principalmente europeias, adicionou Bonaldo.

Desafios internos para produção de combustível

Vencidas as incertezas globais, Bonaldo destacou que o Brasil é um país com diferencial competitivo para o SAF, por ser uma potência agrícola com grande território para produzir matéria-prima do combustível. Mas o país precisará vencer outros desafios internos.

Diante do custo de produção elevado, o estudo da A&M Infra apontou que sem mecanismos mais robustos de subsídios, como os adotados nos Estados Unidos, a diferença de custo acabaria repassada às companhias aéreas.

Além disso, o Brasil ainda carece de unidades industriais dedicadas exclusivamente à produção de SAF em larga escala. O país também enfrenta desafios como gargalos logísticos e tecnológicos, que dificultam a integração dessa produção à cadeia de abastecimento existente e sua acessibilidade para aeroportos em todo o território nacional.

O estudo destacou que investidores também demonstram hesitação diante da “maturidade limitada das políticas públicas anunciadas” e de suas repercussões práticas em contratos de compra e venda de SAF.

Outro ponto levantado pelo estudo é de que — embora o Brasil tenha avançado na regulamentação do SAF — o país alinhe suas normas aos padrões internacionais, para que o combustível produzido localmente cumpra exigências globais para ser aceito em mercados estratégicos, como a União Europeia e os Estados Unidos.

Com informações de IstoÉ

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