Daqui a poucos dias sai de cena o Ministro Joaquim Barbosa. Ele acaba de anunciar sua aposentadoria. Irá “pendurar as chuteiras”, como se diz no jargão popular. Para alguns, a notícia foi recebida com uma certa dose de alívio e esperança. Para a maioria, entretanto, ela veio como um balde de água fria. Sim, um balde de água fria. Não foram poucas as pessoas que protestaram contra sua saída prematura do Poder, a começar pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que em Sessão Plenária do STF do último dia 29 lamentou profundamente o fato.

É bem verdade que uma andorinha não faz verão. Ainda mais quando a luta é desleal: um Davi contra inúmeros Golias. Mas é verdade também que a aposentadoria de Barbosa nos deixa um pouco mais órfãos.

Durante meus anos de vida tenho observado que o povo brasileiro é carente de heróis. Não me refiro, obviamente, aos heróis das estórias em quadrinho. Falo das pessoas públicas que deram certo. Que chegaram onde chegaram com suas próprias pernas, com seus próprios esforços e sacrifícios. Sem precisar tirar nada de ninguém. E olha que não me refiro apenas à classe dos governantes. Basta olhar em volta e perceber inúmeros esportistas, cantores e atores que se enquadram direitinho nesse perfil. Muitos deles têm um elo em comum: lutaram para alcançar a glória, o estrelato, a fama, o dinheiro. Se têm uma vida confortável na atualidade é porque a conquistaram por mérito próprio. Não receberam nada de graça. Tudo foi conquistado a duras penas. E isso parece fascinar a cabeça do brasileiro. Esse fato talvez explique por que o anúncio da aposentadoria de Barbosa foi lamentado por muitos nas redes sociais e na imprensa em geral. Nos últimos meses ele parece ter encarnado a luta do bem contra o mal, da dura tarefa de fazermos um País melhor, mais justo e mais livre de desmandos e comandos movidos por interesses pessoais e escusos.

Decerto que Barbosa vai fazer falta no cenário público nacional. Ele é mais um que passa, como tantos outros passaram. Parece que nada muda, nada se altera, tudo permanece como antes. Engano de quem pensa assim. Na verdade, a História já foi mudada. As rotas já foram alteradas. E o que é melhor: para sempre. Daqui a cem ou duzentos anos, quando a História do Brasil for contada não haverá como erradicar do mapa político nacional a biografia de alguém que, contra tudo e contra todos, proclamou a justiça.

Fica o legado. Para uns, fonte de inspiração. Para outros, motivo de preocupação.

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