Felix Valois

Na terça-feira acordei com um barulho na área externa da casa. Abri a janela e levei um susto. Caía água em abundância e eu comecei a recuar apavorado, sem entender o que estava acontecendo. A pequenina Helena veio em meu socorro e disse, com uma singeleza comovente: “É suva, vovô”. Bendita e privilegiada memória infantil que, com um vocabulário próprio, me permitiu recordar que um dia em Manaus já tinha chovido. Fazia tanto tempo que a idade não me permitia a lembrança desse, outrora comum, fenômeno da precipitação pluviométrica. Criara eu hipóteses impensáveis pela ciência, acreditando que, tal como lenda bíblica, alguém tinha feito parar o sol, estacionando-o exatamente sobre esta capital bela e mui amada. Delírios decorrentes do calor excessivo com que temos sido brindados nos últimos meses. Infelizmente não posso a ele atribuir a visão do que vem acontecendo no país. Aí, é a realidade dura e cruel que se impõe. É a insanidade pura e simples.

Pergunto-me: ainda temos alguém com a incumbência de presidir a República? Leio os jornais e constato que a senhora Dilma Roussef, com o apelido de presidenta, está investida no cargo. Na minha santa ignorância, formulo outra indagação: mas como isso é possível, se quem está mandando é o Lula, com o apoio maciço do PMDB? Não te metas aonde não foste chamado, é a ponderação que me faz um sexto de sentido, baseado talvez na prudência. Como não fui chamado – sou obrigado a retorquir – se sou uma das vítimas da esculhambação geral que o PT conseguiu implantar na minha terra? Meti e meto minha colher nesse panelaço de orgia desenfreada. Se vou desonerar o conteúdo (coisa de que muito duvido) não importa. Não posso é ficar passivamente assistindo ao desenrolar de tantos e tamanhos descalabros, sem pelo menos dizer que deles não gosto, com eles não concordo e que contra eles lutarei com os meios e armas ao meu alcance.

Vamos dar uma revisada na postura individual da “presidenta”. Seus constantes ataques à língua portuguesa estão virando enfadonha rotina. “Diuturno” por “diurno” e “dentifrício” por “tubo de pasta” foram as primeiras manifestações dessa privilegiada cultura linguística. Agorinha mesmo ela nos brinda e diverte com outra genialidade, proclamando, com ênfase e voz elevada: “Eu agaranto”. Suponho tratar-se de uma corruptela do verbo garantir e para isso me baseio numa historinha que já contei alhures: minha irmã Antonieta dirigia o departamento jurídico de uma empresa, tendo divulgado pela imprensa a necessidade de uma secretária. As exigências eram mínimas: redação própria e datilografia rápida e limpa (não havia computadores). As pretendentes se apresentaram em grande número, já que emprego nunca foi de andar em excesso pelas ruas. Uma delas foi objetiva e sincera: “Doutora, em ‘tilografia’ eu não sou muito boa, mas eu me ‘agaranto’ em português”. Que falha da minha querida irmã! Se lhe fosse dado adivinhar o futuro, por certo teria empregado a moça, incentivando-a mesmo a disputar o cargo que dona Dilma hoje enlameia.

Admitamos, porém, nem que seja apenas para encher linguiça, que desconhecer os rudimentos da língua e falar errado sejam uma opção presidencial. Não há de passar pela cabeça de ninguém que esse defeito se erija à categoria de crime de responsabilidade, a ponto de justificar o impedimento para o exercício da presidência. Claro que não. Trata-se de mera idiotice, a ser tratada pelos profissionais do ramo. O mesmo já não se há de dizer do mais que vem acontecendo no Planalto. Então, a coisa muda de figura, eis que dirigir corretamente o país, impedir roubalheira e se comportar com o mínimo de dignidade não são fatores opcionais, mas, muito ao contrário, deveres elementares impostos pelo bom senso e sancionados pela ordem jurídica.

E eu não consigo recordar quando isso tudo aconteceu pela última vez no Brasil, tal como me ocorreu em relação à chuva inicialmente mencionada. A negociata política com os ministérios é uma vergonha. “Trata-se de manobra para garantir a sobrevivência”, dir-me-á um moderado interlocutor. Mas é precisamente aí que a porca torce o rabo. Se o governo está na UTI, por que todos temos que pagar preço tão elevado para que ele não sucumba? Não fomos nós, a arraia miúda, os responsáveis pela doença gravíssima que se alastrou pelo organismo governamental. Mas estamos por ela sendo infectados gradativamente, na medida em que nos encolhem os salários, aumentam os impostos e dissipam o dinheiro público.

Há, portanto, que desligar os aparelhos da UTI. Deixemos que a vida desse governo se esvaia, espalhando a estupidez de sua própria incompetência e irresponsabilidade. Proporcionemos-lhe a ortotanásia. Isso já seria manifestação de grandeza, porque, pelo que tem feito contra o povo, o governo mereceria a distanásia, morrendo em grande sofrimento. Só não podemos permitir a eutanásia. É o mínimo a que podemos aspirar neste momento crudelíssimo por que passa a República. Estamos todos cansados da repetição constante do espetáculo degradante que se tem encenado em nossa terra. Chega. Efetivamente chega. Eu estou (permitam-me a vulgaridade) de saco cheio com Dilma, Lula, PT e quejandos. Derrotamos a ditadura não foi para dar lugar a pândegos. Foi para vivermos em ambiente de respeito democrático. É só isso que queremos. Isso, esse governo não nos pode dar.

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