
247 – Um adolescente de 17 anos, morador da Holanda, surpreendeu médicos e familiares ao acordar de uma cirurgia de rotina no joelho falando apenas inglês com sotaque americano, sem conseguir entender ou se expressar em sua língua materna, o holandês. O caso, ocorrido em 2022, foi revelado pelo Daily Mail e acaba de ganhar atenção da comunidade médica internacional pela raridade da condição neurológica envolvida.
O jovem, que teve sua identidade preservada, sofreu uma lesão enquanto jogava futebol e foi submetido a uma cirurgia ortopédica com anestesia geral. A intervenção foi bem-sucedida, mas o que se seguiu deixou os profissionais de saúde perplexos: ao despertar, o estudante acreditava estar no estado americano de Utah, recusava-se a falar em holandês e não reconhecia os próprios pais.
Segundo o relatório médico, o adolescente não apresentava histórico psiquiátrico nem antecedentes familiares que justificassem a mudança abrupta de comportamento. Diante da situação inusitada, a equipe hospitalar solicitou uma avaliação psiquiátrica cerca de uma hora após o procedimento, mas os especialistas não encontraram anormalidades que explicassem a súbita perda da linguagem nativa.
O retorno à normalidade foi gradual. Cerca de 18 horas após o despertar, o garoto começou a compreender novamente o holandês, embora continuasse se expressando exclusivamente em inglês. No dia seguinte, com a visita de amigos, ele deu os primeiros sinais de retomada da fluência em sua língua original. Três dias depois, teve alta hospitalar, e os médicos iniciaram uma busca por explicações na literatura científica.
O diagnóstico: síndrome da língua estrangeira (SLE), também conhecida como síndrome do sotaque estrangeiro (SSE). Trata-se de uma condição neurológica extremamente rara — com pouco mais de 100 casos registrados desde sua descrição inicial em 1907 pelo neurologista francês Pierre Marie — na qual o paciente passa a falar com um sotaque estrangeiro, ou, em casos mais extremos, adota temporariamente uma nova língua.
Geralmente associada a lesões cerebrais, como traumatismos, acidentes vasculares, tumores ou hemorragias, a SLE afeta áreas do cérebro responsáveis pela linguagem, especialmente a chamada área de Broca, no lobo frontal. No entanto, no caso do adolescente holandês, exames físicos e neurológicos não detectaram nenhuma alteração relevante.“Ele se lembrou de que não conseguiu reconhecer seus pais e que acreditava estar nos EUA. O neurologista não relatou nenhuma anormalidade no exame neurológico completo. O neurologista não viu nenhuma indicação para diagnósticos adicionais; portanto, nenhum eletroencefalograma (EEG), neuroimagem ou exames neuropsicológicos foram realizados perto do evento, e o paciente recebeu alta um dia depois”, destaca o relatório médico.Três semanas após a alta, em consulta ambulatorial, o jovem afirmou estar totalmente recuperado e sem dificuldades com o idioma holandês.
Os médicos acreditam estar diante do primeiro caso documentado de SLE em um adolescente, o que torna o episódio ainda mais singular. A hipótese mais aceita até o momento é de que a anestesia tenha desempenhado um papel central no desencadeamento da síndrome.
Um estudo publicado em 2024 no Journal of Oral and Maxillofacial Surgery sugere que substâncias anestésicas podem interferir na comunicação entre áreas cerebrais, provocando um estado de desorientação temporária. “Acredita-se que a anestesia desliga os principais centros do cérebro, interrompendo a comunicação dentro do córtex e, portanto, produzindo um estado de inconsciência”, apontam os pesquisadores.Ainda não se sabe por que essa alteração provocaria uma mudança de idioma tão radical. Especialistas defendem mais investigações sobre os efeitos da anestesia no cérebro jovem. Por ora, o adolescente voltou à sua vida normal, mas deixou médicos e cientistas diante de um enigma fascinante. Como resume o relatório: “Ainda há muito a ser aprendido e mais pesquisas são necessárias”.
Com informações de CNN Brasil.