Artista visual dos povos Apurinã e Kamadeni, do Amazonas, Sãnipã está em Porto Alegre até a sexta-feira (29.11) realizando uma intervenção artística inédita na parede de entrada do Instituto Ling. De segunda a sexta, das 10h30 às 20h, quem está passando pelo Centro Cultural poderá acompanhar gratuitamente e em tempo real a criação da nova obra, observando os gestos, as escolhas e as técnicas da artista que reflete em seus trabalhos as tradições e as narrativas indígenas, abordando temas como identidade, ancestralidade e meio ambiente.
Expressando sua conexão profunda com a natureza e o universo mitológico de seu povo, permeado por uma estética de cores vibrantes e formas orgânicas, Sãnipã criará um mural de grandes dimensões, ocupando um espaço com 6m de largura e quase 3m de altura. A iniciativa faz parte do Ling Apresenta: Amazônias, no tremor das vidas, projeto que tem o objetivo de aproximar o Rio Grande do Sul da cultura amazônica, convidando jovens talentos do Norte do país a criarem diferentes trabalhos no centro cultural.
Sãnipã traz para o mural do Instituto Ling o mito de Sãnyky, que na língua Apurinã, significa Rainha da Floresta. “Nosso povo Apurinã acredita que Sãnyky aparece quando a floresta está em perigo e neste ano, sabemos que ela apareceu. A seca que atingiu o Amazonas e a Amazônia fez ela surgir para nós do Povo Apurinã. Ela vem para manter os animais vivos e os rios também. Ela alimenta eles com seu leite. E foi essa imagem que trouxe para apresentar no mural. Estou muito grata e feliz de estar aquí apresentando minha cultura”, destacou Sãnipã.
Após a finalização da obra, o público poderá acompanhar no sábado, dia 30 de novembro, às 11h, um bate-papo entre a artista e a curadora do projeto, Vânia Leal, comentando como foi a experiência na capital gaúcha e trazendo detalhes sobre a feitura da obra e todas inspiração envolvida nela. Para participar da conversa, basta fazer a inscrição sem custo no site www.institutoling.org.br.
Para Vânia Leal, o Projeto “Amazônias, no tremor das vidas é um disparador desta perspectiva plural, com artistas que desentravam a compreensão da interculturalidade, dos contatos, das provocações e das possibilidades nesses espaços imensos quando a Amazônia se torna o centro de preocupação da humanidade”, explica em seu texto curatorial.
O mural ficará exposto para visitação até o dia 25 de janeiro, com entrada franca. Depois, será apagado para dar espaço ao último convidado desta edição, o artista Bonikta, do Pará.
Quem abriu a programação deste ano foi a artista visual paraense Bárbara Savannah, em abril, com um mural que trouxe referências do seu cotidiano na Ilha do Marajó. A produção foi registrada em um documentário assinado pela produtora Eroica Conteúdo, com imagens de Marcelo Freire e direção audiovisual de Caio Amon, e está disponível no canal do YouTube do Instituto Ling. O projeto ainda recebeu, em setembro, o também paraense Éder Oliveira, que investiga a relação entre retrato e identidade, tendo como foco o homem amazônico.
Mais sobre a artista
Sãnipã tem se destacado em exposições nacionais e internacionais, dando voz às culturas originárias em um contexto contemporâneo. Na 15ª Bienal Naïfs do Brasil, recebeu o prêmio Destaque-Aquisição, com a obra Totem Apurinã Kamadeni, adquirida pelo Acervo Sesc, sendo a primeira mulher indígena amazonense na coleção. Suas principais exposições incluem Nipetirã, O Sopro Tribal sobre Outros Olhares, na Galeria do Largo; Amazônia Sou Eu!, em Nova Iorque; e a individual Dança Sagrada do Povo Apurinã, no Museu Amazônico. Também foi selecionada pela curadoria do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) para compor a coletiva Histórias da Dança em 2020, com a obra em acrílica sobre tela, 60 cm de diâmetro, Dança e Mito, de 2008. Sãnipã foi umas das mulheres indígenas amazonenses em destaque com quatro obras suas na 1ª Bienal das Amazônias, em Belém, no ano de 2023.
Sobre a curadora
Vânia Leal Machado nasceu em Macapá, no Amapá, e vive e trabalha em Belém, no Pará. É mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura e atua na área de curadoria e pesquisa em Artes, tendo participado de júris de seleção e premiação e organizações de salões. Foi curadora educacional do projeto Arte Pará e fez a curadoria de exposições como Mastarel: Rotas Imaginais (2019), de Elaine Arruda, no Banco da Amazônia; Tecidos de Certeza (2019), de Elisa Arruda, na Galeria Elf; Coleção Eduardo Vasconcelos (2021), nas Galerias Theodoro Braga e Benedicto Nunes no Centur; A Inversão do cotidiano (2022), de Elisa Arruda, na Galeria Ruy Meira; Nhe Amba (2022), de Xadalu Tupã Jekupe, no SESC Paraty; e Gravado na Alma (2023), de Eduardo Vasconcelos, no Banco da Amazônia. Também foi curadora da primeira Bienal das Amazônias em 2022-2023. Atualmente, é diretora de projetos da Bienal das Amazônias e faz parte do grupo de crítica do Centro Cultural São Paulo.
Sobre o Ling Apresenta
A iniciativa surgiu em 2022, convidando quatro artistas do Rio Grande do Sul para realizarem intervenções artísticas inéditas na parede de entrada do centro cultural em Porto Alegre. No primeiro ano, o projeto teve curadoria da jornalista, pesquisadora e curadora independente Luísa Kiefer e contou com a participação dos artistas gaúchos Bruno Tamboreno, Fernanda Gassen, Gustavo Assarian e Talita Hoffmann. Em 2023, o Ling Apresenta expandiu sua atuação e ganhou a curadoria de Bitu Cassundé, que convidou diferentes artistas do Nordeste para criarem obras em Porto Alegre: o cearense Charles Lessa, o baiano Marcos da Matta, a maranhense Gê Viana e o duo Acidum Project, dos artistas cearenses Terezadequinta e Robézio Marques.