O presidente Jair Bolsonaro (PL) decretou luto oficial de três dias no Brasil pelo assassinato do ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe, baleado durante um discurso de campanha eleitoral na cidade de Nara, na manhã desta sexta-feira (8/7). Ele tinha 67 anos.
Pelo Twitter, Bolsonaro afirmou ter recebido a notícia “com extrema indignação e pesar” e chamou Shinzo de “líder brilhante e que foi um grande amigo do Brasil”. Ele ainda pediu que o crime seja “punido com rigor”.
O atirador, Yamagami Tetsuya, desempregado e ex-membro das Forças de Autodefesa Marítima do país, foi preso com a arma na mão, logo após o atentado. O homem disse aos policias que estava “insatisfeito” com o ex-premiê e que queria matá-lo, sem dar maiores detalhes.
Shinzo Abe estava em Nara fazendo campanha antes da eleição de domingo (10/7) para a Câmara Alta do Parlamento, quando, às 11h30 (horário japonês), um homem se aproximou e atirou contra ele. “Esse ato de barbárie não pode ser tolerado”, afirmou o secretário-chefe do gabinete, Hirokazu Matsuno.
A emissora pública NHK, citando o Corpo de Bombeiros local, disse que Abe “não mostrava sinais vitais” após o atentado. A vítima teria sido baleada nas costas, com uma espingarda. Imagens mostram o ex-primeiro-ministro desmaiado na rua, com vários seguranças correndo em sua direção. Abe estava segurando o peito, com a camisa manchada de sangue.
Quem era Shinzo Abe
Shinzo Abe ficou conhecido como um dos mais importantes líderes japoneses do pós-guerra.
Abe assumiu o cargo de premiê por um período curto, entre 2006 e 2007, antes de ocupar a posição de forma permanente de 2012 a 2020, pelo Partido Liberal Democrata, de centro-direita. Renunciou por causa de uma série de doenças, inclusive uma úlcera grave.
Mesmo assim, acabou sendo o primeiro-ministro com mais tempo no poder, ultrapassando o próprio avô, Nobusuke Kishi, que ocupou o cargo entre 1957 e 1960. Em uma triste coincidência, Kishi também foi vítima de uma tentativa de assassinato, mas sobreviveu. O pai de Shinzo Abe, Shintaro Abe, também atuou como secretário-chefe do gabinete, considerada a segunda posição mais poderosa do Japão.
Mesmo após renunciar, Abe permaneceu como figura central no partido. Nacionalista ao extremo, ele também tomou algumas atitudes que irritaram potências internacionais, como visitar o controverso Santuário Yasukuni, local que os EUA, por exemplo, considera uma homenagem a criminosos da 2ª Guerra Mundial.
Ele também promulgou leis permitindo que o Japão lutasse ao lado de aliados no exterior. Isso deixou a Coreia do Sul e a China com nervos à flor da pele.
Apesar disso, suas políticas externas e econômicas (conhecidas como “Abenomics”, fortalecendo os laços com os aliados do Japão e revitalizando as finanças do país, foram consideradas um sucesso. Para os brasileiros, uma cena deixou Abe bem conhecido. Na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio, ele apareceu vestido de Mario Bros para anunciar as Olimpíadas do Japão.
Um dos objetivos mais controversos de Shinzo Abe teve relação com o artigo 9 da Constituição Japonesa. A lei afirma que “o povo japonês renuncia para sempre à guerra como um direito soberano da nação”, adicionado logo depois da 2ª Guerra. Mesmo assim, ele conseguiu enviar tropas para lutar no exterior pela primeira vez desde então.
Também ficou conhecido pela amizade com o ex-presidente dos EUA Donald Trump. Ele foi o primeiro líder estrangeiro a se encontrar com Trump após a eleição de 2016 e recebeu o norte-americano Japão em 2019. Trump se tornou o primeiro líder estrangeiro a conhecer o novo imperador do Japão, Naruhito.