O texto que se segue foi publicado originalmente em 2011. Mais de uma década se passou e os comentários então tecidos permanecem atualíssimos. Só a onda de calor tem sido maior. Também têm sido maiores as interrupções no fornecimento de energia elétrica. E, ainda também, continuamos a não ter a quem recorrer. Vamos esperar que chegue a primeira nevasca. Eis o texto antigo:

Os jornais disseram que a Amazonas Energia informou da possibilidade de cortes no fornecimento de eletricidade por conta do aumento do consumo. Este, por sua vez, decorreu da elevação da temperatura, já que os termômetros da cidade risonha têm alcançado média não muito distante dos 40º C.

Compreendo as dificuldades da empresa em manter a normalidade dos seus excelentes serviços. Afinal, até o ano passado era rotina, em Manaus, começar a nevar em agosto, situação que se prolongava até outubro, permitindo que os manauenses exibissem os mais requintados casacos de pele, abrigando-se da inclemência do frio. Também sempre foi a época em que todos os lares tiravam dos sótãos suas lareiras portáteis e as abasteciam com madeira de melhor qualidade, de tal maneira que se tornava desnecessário o incremento do uso de energia elétrica.

Este ano a Amazonas Energia foi tomada de surpresa. Nenhum pingo de neve caiu até agora na capital amazonense e, estranhamente, faz-se presente o calor típico do que Chico da Silva chamou de “farto verão”. Como os dirigentes da Companhia não foram avisados, nem pela camada de ozônio nem pelo “el niño”, dessa abrupta e inesperada mudança climática, é natural que estejam em palpos de aranha para adaptar os geradores ao novo cenário.

“Que diabos – hão de dizer. Era impossível saber que, neste agosto, mês de tradicionais temperaturas gélidas, a população ia necessitar de ligar seus aparelhos de ar refrigerado”. Será preciso recorrer à improvisação.

Todos temos que ser compreensivos com as dificuldades da empresa. Na medida do possível, ela sempre se esforçou para honrar o certificado ISO 12000, que exibe com muito orgulho. Têm sido poucos os apagões e a intermitência na supressão de energia é coisa de somenos. Aqui e ali temos um aparelho danificado, mas quem é que liga para isso? A energia é tão barata que nada nos custa dedicar alguns reais para a substituição da geladeira ou do split.

Agora que a empresa foi vítima de uma fatalidade, “dessas que descem d’além”, não é justo que adotemos a posição mesquinha de lhe tecer críticas só porque ela não sabe como fazer aquilo para que foi criada: fornecer energia elétrica na medida do suficiente para atender às necessidades de todos. Nem pensar e, muito pelo contrário, vamos dar o nosso jeito de amenizar a crise até que a Amazonas Energia se adapte à nova realidade do calor.

Assim, por exemplo, esqueça a ideia de baixar a temperatura do seu quarto de dormir com o uso do barulhento aparelho. Vá uma loja de chingling e compre um belo e vistoso leque, com motivos chineses, e exercite um pouco os seus braços, abanando-se a si e aos seus, com aquele vigor indispensável em um bom atleta. Se não encontrar o requintado artefato, dirija-se ao mercadão e não lhe faltarão lojas para adquirir o velho e cansado abano, aquele de palha com que nossas mães alimentavam o ferro de engomar que você, aliás, pode ir tirando da sua coleção de velharias porque em ferro elétrico, nem pensar.

Vamos colaborar, gente de pouca fé.

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