Amigos de infância, Natanael, Rafael, Joel, Ângelo e Angélica ficaram desconsolados quando descobriram que disputavam a mesma vaga de emprego numa loja de um grande shopping na cidade de Manaus.
– “Devido à crise econômica que assola o país este ano, vamos contratar apenas um papai Noel”, disse o dono da loja.
– “Somente um Papai Noel não dará conta de todo esse trabalho”, opinou Rafael.
– “Eu também acho muito trabalho somente para uma pessoa”, completou Ângelo.
– “Não existe dignidade no trabalho quando nossos direitos não são respeitados”, argumentou Angélica.
– “O ideal seria umas três vagas”, disse Joel concordado com os argumentos dos colegas.
Contudo, os amigos desejaram sorte uns aos outros.
– “Não importa quem será escolhido, tenho certeza que qualquer um de nós será capaz de fazer um belo trabalho”, disse Natanael.
– “Lembrem-se disso: não existe dignidade no trabalho quando nossos direitos não são respeitados”, voltou a repetir Angélica.
– “Verdade amiga, nenhum trabalhador merece ser explorado no seu local de trabalho”, disse Ângelo.
– “É como eu sempre digo, o nosso trabalho é o melhor e o mais difícil trabalho do mundo: fazer uma criança feliz”, completou Rafael.
Depois de um longo processo seletivo, disse Angélica ao dono da loja.
– “Muito obrigado, do fundo do coração, por essa oportunidade, o senhor não vai se arrepender, darei o meu melhor”.
– “Tenho certeza que você fará um belo trabalho”, respondeu o dono da loja todo contente pela escolha.
– “Quando eu começo?”, perguntou Angélica.
– “Neste final de semana. Antes, porém, passe no RH e pegue o seu uniforme”, orientou o dono da loja.
Apesar de tudo, Natanael, Rafael, Joel e Ângelo saíram da loja sem sentimento de derrota, raiva, culpa ou inveja da amiga que ficou com a vaga de emprego. Joel parou na porta da loja e desejou boa sorte a amiga, dizendo:
– “Vai amiga, chegou o teu momento!”.
“O mundo será pequeno para você, minha amiga!”, completou Ângelo.
– “Quando você se sentir explorada, lembre-se de uma coisa: nós estaremos aqui para lhe ajudar a lutar por seus direitos”, completou Natanael.
– “Eu vou sempre me lembrar de vocês, meus amigos”, disse Angélica retribuindo cordialmente os votos de felicitações pela conquista.
– “Vamos, deem-me um abraço”, disse, por fim, Angélica com lágrimas nos olhos!
– “Só se for um abraço coletivo”, propôs Natanael e todos se abraçaram!
A noite havia caído. Angélica desceu do carro de aplicativo no começo da rua de sua casa. Uma brisa de ar fresco encheu-lhe os pulmões. Ela sentiu uma vontade louca de catar.
– “Então é Natal, e o que você fez, o ano termina, e começa outra vez…”.
Foi quando as janelas das casas se abriram e seus moradores começaram a cantar juntos:
– “Então é Natal e o que você fez o ano termina e começa outra vez…”.
Angélica saiu correndo, vermelha, e ao abrir a porta da sua casa foi abraçada por seus pais.
– “Filha querida, te amamos muito, feliz Natal”, disseram.
Luís Lemos é professor, filósofo e escritor, autor, entre outras obras de: “Filhos da quarentena” e “Amores que transformam”.
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