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Mulheres e crianças são o elo mais fraco da grave crise política e de segurança no Haiti, dois anos após o magnicídio do presidente Jovenel Moïse: além de sequestros cada vez mais frequentes, os menores têm que lidar com o aumento sem precedentes de casos de desnutrição infantil.

Apenas nos primeiros seis meses deste ano, cerca de 300 crianças e mulheres foram sequestradas por facções criminosas, um “aumento alarmante” de uma prática que deixa “cicatrizes físicas e psicológicas” duradouras, alertou o Unicef na segunda-feira. Os números são semelhantes aos registrados em todo o ano de 2022 e o triplo dos obtidos em 2021.

Além disso, em um ano, as atividades das organizações armadas causaram um aumento de 30% na desnutrição aguda grave entre crianças, segundo dados publicados em maio. A desnutrição crônica atinge, atualmente, quase uma a cada quatro crianças. A previsão é que 115.600 sofram da forma mais letal de desnutrição neste ano.

As crianças desnutridas não param de chegar ao Hospital Fontaine, em Cité Soleil, a maior periferia de Porto Príncipe — com 80% do território dominado por gangues armadas. O centro médico recebe diariamente entre 120 e 160 crianças para vacinação e exames, especialmente de desnutrição. Os bebês e crianças são levados por suas mães, encaminhadas por associações ou mesmo por padres, explicou o diretor à AFP.

— Há quatro ou cinco anos, neste local, havia dez crianças que precisavam de ajuda nutricional por dia. Hoje (a quantidade) é entre 40 e 50 — afirma José Ulysse, diretor e fundador do hospital. — Alguns chegam totalmente esqueléticos e têm dificuldade para respirar. Antes tínhamos uma capacidade de 20 a 25 leitos, mas este ano, com o pico (dos casos de nutrição severa), aumentamos para cerca de 60.

Os casos menos graves voltam para casa, após as famílias receberem suporte nutricional e as crianças realizarem alguns exames. Aqueles que estão em estado crítico são hospitalizados.

De acordo com o Unicef, a situação do Haiti é “catastrófica”. De 5,2 milhões de pessoas, quase metade da população depende de ajuda humanitária, incluindo cerca de três milhões de menores de idade.

A tendência crescente de sequestros preocupa as autoridades e é uma “ameaça tanto para os haitianos quando para aqueles que vieram para ajudar”, disse o diretor regional para a América Latina e Caribe do Unicef, Garry Conille, em um comunicado publicado na segunda-feira.

“As mulheres e as crianças não são mercadorias. Não são moeda de troca. As histórias que ouvimos dos colegas do Unicef e dos nossos parceiros em campo são impactantes e inaceitáveis”, alertou.

O aumento da violência, saques, bloqueios de estradas e a onipresença de grupos armados são alguns dos problemas que prejudicam gravemente os esforços humanitários, dificultando o auxílio às comunidades afetadas. Com o sistema de saúde do país à beira do colapso, escolas sob ataque e civis “sob constante terror”, cerca de 80% da capital Porto Príncipe é controlada por gangues.

Além da grave crise humanitária e econômica, o país também vive um impasse político, sem realizar eleições desde 2016.

“Com o passar dos meses, uma camada cada vez maior de medo e de complexidade é adicionada a um ambiente já difícil para aqueles que prestam ajuda vital”, lembra a instituição, que pede urgentemente a libertação e o retorno imediato de todos os sequestrados no Haiti.

A intensificação da crise é acompanhada de um preocupante ressurgimento de casos de cólera.

— Cada vez mais mães e pais carecem de meios para fornecer cuidados e alimentação adequada para seus filhos — disse em maio o responsável do Unicef no país, Bruno Maes.

Com informações de: O Globo

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