À primeira vista, ser professor parece muito simples. Para o senso comum, basta fazer uma faculdade. Qualquer curso superior. Mas não é bem assim. Ser professor exige muito mais do que um diploma. Exige habilidades irreversíveis, adquiridas por fidelidade ímpar aos estudos. Não obstante, deve ser um ser humano com alta capacidade de resiliência. Além de todas essas qualidades, ele precisa ter um propósito. Quem não sabe o que quer alcançar na vida não serve para ser professor.
Com efeito, essa via de habilidades paradoxais e paroxísticas, na qual um professor deve caminhar, amando a incalculável predileção pelo conhecimento, não sendo subserviente ao poder, mas somente ao educando, sujeito principal de sua formação. E para que isso aconteça, não por uma necessidade absoluta, mas porque todo professor precisa, para a realização de seus planos, sentir-se aceito por seus pares e pela comunidade escolar.
Não existe pior ambiente para se trabalhar do que aquele em que o trabalhador não se sente bem. Relatos de estagiários de pedagogia dão conta de que o ambiente de trabalho na escola, em sua maioria, é hostil e competitivo. Existe uma disputa acirrada, embora, muitas vezes, não explicita, entre antigos e novos professores. Que aconteceria caso o estagiário se negasse a realizar o seu trabalho? É impossível calcular. Apenas podemos concluir: “a corda sempre quebra do lado do mais fraco”.
Dados do Ministério da Educação (MEC) de 2019 mostram que as profissões mais promissoras estão nas áreas da construção civil, agronegócio, tecnologia, finanças, jurídicas e vendas. E a educação? Lamentavelmente os dados informam que a educação é a última opção dos jovens. Como colocar a educação na primeira opção dos futuros universitários? Como tornar a educação uma área atrativa aos jovens? Como atrair os melhores profissionais para à educação?
Naturalmente não temos respostas para essas perguntas. Apenas podemos acrescentar, por experiência pessoal e profissional, que se os profissionais da educação fossem valorizados, reconhecidos e respeitados em suas habilidades profissionais; que recebessem salários dignos; que tivessem liberdade de opinião, liberdade política, liberdade de culto; comunicação objetiva entre gestão e secretaria; que se praticasse a meritocracia e não as indicações políticas; tudo se tornaria mais fácil.
Dessa forma, todo profissional quer ser reconhecido, valorizado. Ninguém quer ser deixado de lado, para trás, descartado, esquecido. Ao contrário, queremos ser vistos, lembrados, imitados, seguidos. Nesse sentido, quais são os profissionais da educação que os jovens brasileiros conhecem? Provavelmente alguns vão citar: Mario Sergio Cortella, Luiz Felipe Pondé, Viviane Mosé, Leandro Karnal; talvez, muito mais pela atuação desses nas Redes Sociais do que, propriamente, pelo pensamento ou tese que eles defendem.
Por fim, é preciso que os governos façam divulgação, propaganda, de profissionais de sucesso da educação, para que os jovens, vendo o exemplo dessas pessoas, possam segui-los. Talvez você esteja aí pensando com os seus botões: “se o atual governo não aceita nem Paulo Freire como patrono da Educação brasileira, nunca que ele vai fazer campanha de divulgação e valorização dos melhores profissionais da educação”. No entanto, confiamos e esperamos que dias melhores virão para a área da educação, porque “mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que O amam” (I Cor 2,9).
Luís Lemos
Filósofo, professor universitário e palestrante. Autor dos livros: O primeiro olhar – A filosofia em contos amazônicos (2011), O homem religioso – A jornada do ser humano em busca de Deus (2016); Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas: Histórias do Universo Amazônico (2019). Fone: 988236521. E-mail: [email protected]