A vida humana é permeada por acontecimentos naturais e culturais. Acontecimentos naturais são aqueles que não dependem da ação humana: os fenômenos da natureza, como, por exemplo, os trovões, a chuva, etc. Por outro lado, fenômenos culturais são aqueles que dependem da ação humana, como, por exemplo, as construções em geral, as casas, os carros, a arte, a tecnologia, etc.

A sociedade atual, ela toda, foi construída em cima dessa segunda vertente: tudo a nossa volta é cultura. Não existe nada, a não ser os fenômenos da natureza, como foi dito no parágrafo anterior, que não dependam da ação humana. O homem contemporâneo transforma tudo em seu bel prazer. E no afã de ser o controlador de tudo são consegue equacionar natureza e cultura.

Infelizmente, enquanto agente principal do “desequilíbrio ambiental”, o ser humano sofre as consequências do seu próprio egoísmo. Nesse ritmo de destruição total da natureza, tudo e todos transformados em produtos culturais, acabamos perdendo o verdadeiro sentido da vida; tornamo-nos alienados para tudo o que é belo, nobre, ético. Paradoxalmente, grande parte da população, da sociedade contemporânea, valoriza o que não presta no sentido moral, do que aquilo que é elevado moralmente, os valores, a família, a igreja, a pátria, a educação…

Viver segundo a ordem natural é, antes de tudo, saber diferenciar o que é necessário e permanente do que é falso e desnecessário. A sedução constate da vida verdadeira, está, exatamente, nesse ponto: não se “iludir” pelo que é falso. Mas o que é mesmo a verdade? Como saber o que é verdadeiro num mundo decididamente marcado pela falsidade?

Naturalmente não temos nenhuma resposta para essas perguntas, mas pesquisando na história da filosofia encontramos nos estoicos algumas pistas. A primeira é a seguinte: “Viver de acordo com a verdade é viver na forma sábia”. Ou seja, para essa corrente filosófica à busca da verdade era o centro da vida. Assim, não pode existir vida autêntica sem que seja pela busca da verdade. Para os estoicos só uma coisa importa: à verdade, em todas as situações da vida.

A segunda pista: “A realidade é a natureza pura e exuberante”. Ou seja, os estoicos buscavam ver o que é real por detrás das aparências, e, ao ver essa realidade, buscavam se libertar do sofrimento causado por levar uma vida falsa. Dessa forma, à natureza, com suas leis, fornece ao homem os meios para desenvolver à vida plena, pura e desprovida de qualquer ressentimento. Assim, o homem sábio faz da natureza sua aliada na realização da vida feliz.

Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), filósofo estoico, no seu livro “Tratado sobre a clemência”, afirma que “O sofrimento não abate um homem sábio. Sua mente é serena, nada pode suceder-lhe que não possa enfrentar”. Nessa mesma linha de raciocínio, Marco Aurélio (121-180 d.C.), também estoico, afirma que “O homem comum sofre porque a sensação de suas próprias necessidades é maior que suas forças. A busca de superar essa ilusão só pode ser realizada pela prática do desapego”.

Por tudo isso, sempre fiquei impressionado com a filosofia desses filósofos porque ela descreve exatamente o modo como eu vejo o mundo e as coisas: o mundo é permeado pelo amor, pelo conhecimento e pela esperança, num fluxo contínuo de busca, sentimentos e desejos. Nesse processo, o amor abre as portas do conhecimento; o conhecimento é a forma como entendemos e interpretamos as coisas; a esperança é o resultado de nossos sonhos realizados.

Qualquer pensamento de que isso não seja verdade, de que a esperança une os sonhadores, os utópicos, é perda de tempo, não merece crédito. Na minha humilde opinião, esta é uma disputa que torna o homem sábio vitorioso porque ele sabe que sem amor, conhecimento e esperança a vida não tem sentido. Enfim, ser verdadeiro é ser livre de sentimentos que nos atormentam e nos enganam, distraindo-nos do verdadeiro objetivo da vida, que é ser feliz.

Luís Lemos

Filósofo, professor universitário e escritor, autor do livro: “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas”.
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