Os irmãos Carlos Alves Filho, 51 anos, e Carla Tereza Alves, 45, trabalham, respectivamente, em uma fábrica de embalagens plásticas e em um pesqueiro no interior de Goiás, como assalariados. Formalmente, estão em nome deles empresas com faturamento milionário, fazendas, carros de luxo e até um avião.

Seus nomes são citados em uma das ações judiciais movidas contra o empresário Guimar Alves da Silva, apontado como o real proprietário dessas vultosas companhias e de milhares de hectares de terras no oeste e no norte do país – todas em nome de laranjas.

Como mostrou o Metrópoles, pesos pesados da indústria têm acusado o empresário e fazendeiro de calotes milionários. Parte desses credores sobe o tom e diz que Guimar Alves comete fraudes para driblar a execução das dívidas. Ele já foi acionado na Justiça em razão de R$ 87 milhões em cobranças.

Nas disputas privadas, há um denominador comum: as contas zeradas de Guimar. Alvo de bloqueios judiciais para sanar dívidas, ele não tem nada em seu nome. Empresas, casa em condomínio de luxo e outros bens valiosos estão em nome de gente simples a ele ligada, mostram documentos anexados por credores.Investigações do Ministério Público sobre suposto trabalho escravo e sonegação fiscal também apontaram o uso de laranjas para ocultar bens. Em uma delas, ele teve de admitir que era o real proprietário de uma empresa que reúne mais de 20 matrículas de fazendas que somam R$ 45 milhões e que estavam em nome de um funcionário.Esse é o caso também de Carlos e Carla. Ambos são citados em uma ação milionária movida pela Polo Indústria, empresa do ramo de plástico, contra a Piloto Embalagens, empresa atribuída a Guimar.

Como mostrou o Metrópoles, a sócia formal da Piloto foi beneficiária do programa Bolsa Família e é, hoje, assalariada em outra empresa. Já o empresário não se esforça para esconder o vínculo: aparece em vídeos e fotos institucionais como manda-chuva e até mesmo em coluna social como seu dono.

Na ação, a Polo afirma que Guimar esconde seus bens usando os nomes de quatro principais laranjas. Um deles é Carlos, que é apontado como funcionário da Piloto e homem de confiança do empresário. Em imagens nas redes sociais da empresa, ele aparece vestido de touca e jaleco em propagandas como um trabalhador comum da fábrica.

Em nome de Carlos, formalmente, foi registrada uma fazenda que reúne mais de duas dezenas de matrículas de terras no Pará, no valor de R$ 45 milhões. Foi nessas terras que auditores do Ministério do Trabalho encontraram, em 2015, funcionários que moravam em um barracão pelo qual transitavam aranhas e morcegos, bebiam a mesma água dos cavalos e faziam as necessidades no mato.

À época em que os trabalhadores foram encontrados nessas condições, a fazenda estava em nome um funcionário de Guimar chamado Johnatan. Em depoimento, um contador da fazenda acabou atribuindo as terras ao empresário. Ele teve que confessar o trabalho escravo e a titularidade da propriedade. Em meio ao ocorrido, a fazenda acabou passando para as mãos de Carlos.

A irmã dele, Carla, é funcionária de um pesqueiro em Nerópolis, no interior de Goiás, e aparece como sócia da Credimais. Em nome da empresa, foram identificados um Porsche Macan e até mesmo um avião, que foi vendido por R$ 3,3 milhões anos atrás.

Há também transações entre as empresas dos irmãos. Uma das fazendas em nome de Carlos foi vendida à Credimais, em nome de Carla, por R$ 3,5 milhões. Nos documentos que assina como sócia da Credimais, Carla afirma morar na mansão de luxo onde, na verdade, reside Guimar, em um badalado condomínio de Goiás, onde moram até mesmo cantores sertanejos.

Em tom irônico, a credora Polo Indústria afirma à Justiça que Carla é a “incrível funcionária de pesqueiro nos rincões de Goiás, documentalmente única sócia de empresa proprietária de aviões, helicópteros, carros importados e imóvel de altíssimo luxo”.

“Curioso é o fato de o executado Guimar Alves ser quem reside na mansão, utiliza as aeronaves, o Porsche Macan e tudo mais em nome desta ‘sócia de papel’”, afirma a empresa, em uma ação de cobrança contra Guimar.

Procurados pelo Metrópoles, Guimar e os dois irmãos não responderam até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.

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