Ricardo Stuckert

Após reuniões entre os representantes do governo brasileiro e venezuelano, os presidentes dos respectivos países, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Nicolás Maduro, assinaram tratados. Mais cedo, os dois tiveram um encontro bilateral e um ampliado, no Palácio do Planalto.

Durante o discurso, Lula lembrou que há oito anos Maduro não vinha ao Brasil e chamou o encontro entre os dois de “momento histórico” e de “volta da integração”. “A Venezuela sempre foi um parceiro para o Brasil. Por equívocos, Maduro ficou muito tempo sem vir ao Brasil e a gente sem ir lá. Tínhamos uma relação comercial de praticamente R$ 6 bilhões. Isso é ruim para a Venezuela e ruim para o Brasil”, disse Lula.

“Quero dizer que é um prazer te receber aqui outra vez”, afirmou Lula. E qualificou Juan Guaidó, líder da oposição venezuelano e que chegou a se autoproclamar presidente do país, como um “impostor”. “Eu fiquei sabendo que a Venezuela tinha um reserva de ouro em Londres, e que essa reserva de ouro foi colocada sobre a guara de Guaidó. Um impostor como presidente da República, porque não aceitaram o presidente eleito”, discursou Lula.

Nas palavras do presidente brasileiro, o preconceito com a Venezuela é muito grande. “Sofremos um preconceito muito grande aqui, por causa da amizade com a Venezuela. Havia discursos e mais discursos onde diziam que o Brasil ia virar Venezuela, Cuba e Argentina”, disse Lula, antes de falar que os tratados seriam em diversas áreas, como cultural, econômica, cientifica e na fronteira contra o narcotráfico.

No fim, o presidente brasileiro apontou que é “fácil ser tolerante” diante de europeu e de americano porque os sul-americanos não são tolerantes com eles mesmos. “Porque nos reduzimos a coisas insignificantes quando se trata a discutir economia, democracia e nossa politica climática. Estou muito grato pelo Maduro ter vindo hoje fazer essa visita. Espero que nunca mais tenhamos que romper relações por ignorância, como foi rompida com a Venezuela”, concluiu.

Lula destacou a integração necessária entre países da América do Sul. E que a separação entre essas nações causa problemas econômicos: “Nenhum país da América do Sul teve chance de se tornar um país de classe média. Estamos sempre lidando com a pobreza. A gente tem força no processo de negociação”.

“Nós, na América do Sul, vivemos muito separados dos outros. Cada país será aquilo que quiser ser. Vamos conversar com 12 [países]. Aconteceu um retrocesso no mundo inteiro. Vamos discutir isso com mais potência e força. Fizemos uma reunião na Fiesp. Os empresários sabem que não podemos entregar compras governamentais. Temos que pensar como a América do Sul vai crescer”, afirmou.

Segundo Lula, “é o começo da volta da integração da América do Sul, no encontro de amanhã”.

Maduro

Maduro também insistiu no discurso de integração da América do Sul. “Precisamos construir uma nova América do sul. Junto aos Brics [bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] vemos elementos que pode nos fazer avançar, cinco países poderosos. “Somos o grande ímã de países que querem estar com os Brics”, teorizou.

Ele também lembrou da tentativa de invasão na embaixada venezuelana no Brasil. “Tínhamos vontade construir uma América do Sul com prosperidade. Isso foi estancado de um dia para o outro por ideologização extrema, subdividindo relações. De repente, todas as janelas com o Brasil foram fechadas, ainda que sejamos países vizinhos”, disse.

“Hoje se abre uma nova era da relação entro o Brasil e a Venezuela”, continuou Maduro. “A Venezuela está preparada e de portas abertas para os empresários retomarem investimentos na Venezuela. Amamos a história do povo brasileiro, esperamos que nunca mais alguém feche as portas entre Brasil e Venezuela”, apontou.

Relações bilaterais

Segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores, Maduro e Lula falaram nas reuniões sobre avanços no processo de normalização das relações bilaterais, incluindo a reabertura das respectivas embaixadas e setores consulares e a designação do embaixador da Venezuela no Brasil, além das eleições venezuelanas a serem realizadas em 2024.

A imigração venezuelana para o Brasil e a proteção dos povos indígenas que residem nas fronteiras também foram assuntos que estiveram em negociação. “Atenção especial será atribuída aos temas fronteiriços, com destaque para a proteção das populações que residem nessa faixa, entre elas os povos Yanomami”, destaca comunicado sobre a visita de Maduro.

Em seguida, Lula recepcionará Nicolás Maduro e a primeira-dama da Venezuela, Cilia Flores, para um almoço no Palácio do Itamaraty.

Reunião com presidentes da América do Sul

Presidentes de praticamente todos os países da América do Sul se reúnem em Brasília na terça-feira (30/5), para um encontro de cúpula a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Metrópoles apurou que pelo menos 10 chefes de Estado estão confirmados no evento – a exceção é a presidente do Peru, Dina Boluarte, que não pode se ausentar do país em razão do clima de instabilidade política que se instaurou desde a deposição do antigo mandatário, Pedro Castillo.

“Recebo nesta semana, em Brasília, presidentes da América do Sul, para juntos discutirmos o futuro da nossa região. Nenhum país cresce sozinho. Temos que trabalhar com nossos vizinhos na construção de parcerias pelo desenvolvimento econômico da região, fortalecimento de laços culturais e na defesa da democracia”, disse Lula no Twitter.

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