O Dr. Josué Montedonio,  cirurgião plástico, relata os riscos associados à essa divulgação de imagens de antes e depois de procedimentos estéticos, após alterações nas regras de publicidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), permitem a exposição de fotos pré e pós-operatórias —do antes e depois —desde que a privacidade dos pacientes seja preservada

O uso crescente das redes sociais e a busca incessante por padrões de beleza idealizados têm impulsionado um aumento significativo nos procedimentos estéticos bem-sucedidos, o que, por sua vez, tem profundos impactos no setor. O cenário atual da cirurgia plástica testemunha uma invasão na especialidade por profissionais não especializados e, até mesmo, indivíduos não médicos que veem na estética uma oportunidade lucrativa. 

Essa invasão desregulamentada de procedimentos pode representar sérios riscos à saúde dos pacientes, uma vez que a qualidade, segurança e bem-estar nem sempre são priorizados.

O Dr. Montedonio enfatiza que é crucial lembrar que cada indivíduo é único, com características físicas e fisiológicas individuais que desempenham um papel fundamental nos resultados dos procedimentos estéticos. Tentar reproduzir resultados específicos, muitas vezes baseados em imagens irreais divulgadas nas redes sociais, pode ser frustrante e prejudicial à saúde mental, podendo até levar a sequelas físicas permanentes.

O médico ressalta que o objetivo principal da cirurgia plástica é corrigir imperfeições, realçar a beleza natural e promover a autoconfiança de cada paciente, sempre respeitando suas características únicas.

Ele destaca a importância de uma pesquisa criteriosa ao escolher um profissional para realizar procedimentos estéticos, assegurando que o médico seja qualificado, experiente e comprometido com a segurança do paciente. Além disso, é fundamental verificar se o local onde o procedimento será realizado possui infraestrutura adequada, protocolos de segurança rigorosos e equipe qualificada.

Novas regras da publicidade médica

A Resolução CFM nº 2.336/2023 Publicidade Médica – CFM | CRMS – Resolução – O que muda trouxe mudanças nas regras de publicidade médica, incluindo a divulgação do trabalho em redes sociais. No entanto, o uso de imagens de pacientes é permitido apenas para fins educativos e deve seguir critérios específicos, como estar relacionado à especialidade do médico e não ser manipulado, além de não identificar o paciente.

No caso de demonstrações de “antes e depois”, a resolução exige que sejam apresentadas em um conjunto de imagens que inclua indicações terapêuticas, evoluções satisfatórias, insatisfatórias e complicações decorrentes da intervenção. A resolução foi publicada em 13 de setembro de 2023.

“Por não concordar com a publicação de conteúdos cada vez mais apelativos e sensacionalistas, muitas vezes com manipulação de imagens, procuro explicar de forma ética e didática, para quem busca informações sobre procedimentos, através de ilustrações e animações lúdicas e leves, desmistificando algumas crenças e falsas verdades”, afirma o Dr. Josué.

O Dr. Montedonio conclui destacando a importância de manter a ética médica e o compromisso inabalável com a saúde e o bem-estar dos pacientes, enquanto espera que as autoridades reguladoras de saúde estabeleçam diretrizes rigorosas para preservar os mais altos padrões éticos na medicina estética e na cirurgia plástica, garantindo assim a integridade dos pacientes.

IstoÉ Bem-estar. Quais são os riscos específicos associados à divulgação de fotos de “antes e depois” de procedimentos estéticos?

Dr. Josué Montedonio. Houve algumas mudanças dentro do Conselho Federal de Medicina em relação às fotos de antes e depois. Na verdade, o caráter é educativo e não somente para fazer propaganda do profissional. A grande maioria dos profissionais faz uma leitura a seu favor dessa nova normativa do CFM, mas quando o CFM libera as fotos de antes e depois, não é só para você fazer uma autopromoção, mas para mostrar as possíveis complicações que possam vir a acontecer em relação a qualquer tipo de procedimento, educando o paciente. Ele, bem educado, sabendo de todos os riscos e benefícios, pode tomar uma decisão de forma consciente se aquilo cabe para ele ou não. Porque quando você só promete coisas belas, coisas boas, o paciente acaba sendo sugestionado a escolher determinado procedimento, sendo que muitas das vezes ele não é indicado para esse procedimento.

Mas existem profissionais que, querendo divulgar algum procedimento, vão acabar pegando os casos que eles julgam melhores e, às vezes, casos que nem deles são, podendo até ter alguma manipulação da imagem, seja com Photoshop, ângulo de luz diferente, com a intenção de mostrar algum benefício de algum tratamento, seja ele do tratamento mais simples, menos invasivo até um tratamento mais complexo. 

IstoÉ Bem-estar. Como essas imagens podem influenciar as expectativas dos pacientes em relação aos resultados dos procedimentos estéticos?

Dr. Josué Montedonio. É essencial, é imprescindível, o paciente pesquisar a respeito da formação do profissional e muitas vezes ele não vai fazer isso. Muitas vezes ele se deixa levar por anúncio em rede social, por indicação, mas ele precisa saber de todo o suporte, toda a infraestrutura, toda a retaguarda que o profissional dispõe caso venha a acontecer uma complicação. 

As complicações que acontecem não são comuns, mas quando elas acontecem elas são irreversíveis, podendo causar a perda da vida, a morte da pessoa. Ou complicações irreversíveis, como cicatrizes, sequelas que não conseguimos reparar, levando praticamente a uma mutilação. Um peeling, quando mal sucedido no rosto, é muito difícil de esconder, mascarar e isso atinge muito a autoestima das pessoas.

IstoÉ Bem-estar. Como a exposição de imagens “antes e depois” pode afetar a decisão dos pacientes em buscar procedimentos estéticos, especialmente quando realizados por profissionais não especializados?

Dr. Josué Montedonio. Essa exposição acaba banalizando procedimentos que são mais complexos, mais sérios, que muitas vezes devem ser realizados em um centro cirúrgico. Eles banalizam colocando como se fosse algo simples, que você faz numa quarta-feira, por exemplo, e no fim de semana você já está retomando sua rotina normal, saindo com seus amigos… Não é assim, requer um tempo de recuperação. Há a necessidade de cuidados para não provocar nenhum tipo de infecção, já que a pele fica suscetível a isso, mas é imprescindível procurar um profissional que seja capacitado não só para realizar o procedimento, mas também que consiga resolver as complicações que porventura possam vir a acontecer. 

IstoÉ Bem-estar. Em sua opinião, como os regulamentos e as diretrizes médicas devem evoluir para lidar com os desafios apresentados pela divulgação de fotos de “antes e depois” nas redes sociais?

Dr. Josué Montedonio. Em relação às diretrizes médicas, eu sou muito crítico em relação a isso. A gente nunca pode prometer algum resultado, sabemos que cada paciente tem uma particularidade e por mais capricho que a gente tenha, por mais cuidado que o paciente venha a ter, às vezes o resultado acaba sendo imprevisível, porque o corpo humano é imprevisível.  Mas, mais uma vez, essas fotos de antes e depois acabam banalizando procedimentos que são mais complexos e sérios, que tem uma identificação mais restrita, por colocarem como se fosse uma coisa de recuperação rápida, uma coisa  indolor, como se fosse maquiagem. As pessoas acham que elas vão fazer um procedimento, uma cirurgia, e estão indo para o cabeleireiro. Dentro de poucas horas vão estar completamente mudadas, sem precisar de nenhum cuidado específico em relação àquilo.

IstoÉ Bem-estar. Que conselhos você daria aos pacientes que estão considerando se submeter a um procedimento estético, em termos de gerenciamento de expectativas e busca por profissionais qualificados e experientes?

Dr. Josué Montedonio. Hoje, a importância da avaliação é imprescindível para você determinar qual a expectativa do paciente em relação a qualquer procedimento que ele venha a se submeter ou que ele procura. Porque, muitas vezes, o que ele olha, o que ele vê na rede social, não cabe para ele. Ele tem uma pele diferente, hábitos de vida que não correspondem àquele tipo de procedimento, ou procura um procedimento fora do peso, com alguma comorbidade, como diabetes, hipertensão, alguma cardiopatia, que pode vir a impedir a realização desse procedimento. Ele tem que ser muito bem investigado, evitando qualquer tipo de complicação maior que possa comprometer o estado geral do paciente, levando até a morte. 

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