Olá Navegantes!
Estou aqui de volta mais uma vez para falar com vocês sobre algo muito sério, que causa muitos danos à nossa saúde mental, mas que, no entanto, pode acontecer de forma sutil e/ou gradual podendo então passar despercebida inicialmente.
Infelizmente, é algo que vem acontecendo com cada vez mais frequência seja no trabalho, escola, nos lares, instituições religiosas e também em ambientes virtuais. Se em algum momento você já se sentiu ameaçado, desvalorizado, intimidado, constrangido desqualificado, manipulado ou humilhado, é bem provável que você tenha sido vítima de violência psicológica.
Agora que você lê este texto, te veio à mente alguma lembrança de uma situação ruim, que te deixou desconfortável, que te fez chorar escondido ou se sentir invalidado? Aparentemente invisível, esse tipo de abuso é traiçoeiro. Nem sempre percebido pela vítima, muitas vezes ele é negado pelo agressor e justificado como excesso de cuidado ou preocupação.
Os índices de violência psicológica são mais recorrentes e alarmantes nas pesquisas do que as taxas da própria violência física. Isso porque o abuso psicológico costuma anteceder o físico e deixar marcas profundas, tornando o indivíduo ainda mais vulnerável.
Esse tipo de agressão compromete o desenvolvimento, a autoestima, autoimagem e a realização pessoal. Muitas pessoas se tornam reféns da violência psicológica porque dependem emocional e/ou financeiramente do agressor. Por isso, ao perceber que alguém está em perigo, é importante aproximar-se cuidadosamente, acolher, tentar dialogar e indicar ajuda profissional. Mas, se é você que está vivendo isso, não hesite e denuncie! O silêncio pode custar sua vida!
A violência psicológica é a porta para outros tipos de violência. Xingar, gritar, atacar verbalmente, fazer comentários depreciativos, críticas recorrentes e manter uma postura intimidadora torna a vítima ainda mais vulnerável e destrói sua autonomia, diminuindo sua capacidade de agir frente a outros tipos de violência, como a financeira ou física, por exemplo.
A agressão física geralmente acontece num ambiente onde há violência psicológica, comunicação violenta, ameaças e desrespeito entre as pessoas, e isso ocorre mais frequentemente em contextos onde há dependência, seja física, financeira ou emocional. Sejam crianças e adolescentes que dependam dos pais ou idosos que dependam dos filhos e/ou cuidadores, seja um funcionário que dependa do emprego ou pessoas que dependam dos parceiros, sejam alunos que dependam dos professores ou fiéis que dependam de seus líderes religiosos.
Em relações onde a liberdade, autonomia, identidade e individualidade não são respeitadas seja pelo outro ou pela instituição, há a presença de violência psicológica. Em termos legais, o código penal brasileiro dispõe de leis de amparo a mulher, como a Lei Maria da Penha, que no ano passado (2021) recebeu a inclusão da violência psicológica como tipo penal específico:
“São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras (…) a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”, diz a Lei Maria da Penha.
Na sociedade brasileira, além das mulheres, as crianças e idosos são os mais vulneráveis em uma relação familiar, portanto, são os que mais sofrem violência psicológica. O primeiro gesto para combater a violência psicológica é saber reconhecê-la. Além disso, é preciso seguir falando desse tipo de agressão constantemente, seja no âmbito familiar, nas relações de trabalho, amizade, entre outros ambientes.
Mesmo que você não esteja passando por isso, leve informação, compartilhe esse conhecimento. Caso presencie uma mulher ou pessoa vulnerável sofrendo violência psicológica, denuncie! Não seja cúmplice! Ligue 180!!! Em primeiro lugar, não invalide ou menospreze o que ou outro está sentido, ao contrário, promova acolhimento e encoraje quem estiver sendo vítima de violência a procurar atendimento psicossocial e jurídico gratuitamente no CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
Lembre-se que a violência psicológica é um prenúncio de outras formas de violência e pode ser grave caso as medidas necessárias não sejam tomadas. Por isso é imprescindível que você faça sua parte!
Quebre o Silêncio! Diga não à violência psicológica!
Syrsjane N. Cordeiro
Psicóloga pelo UNASP – SP, Especialista em Saúde Mental. Já atuou como psicóloga na prevenção e promoção de saúde na atenção básica (2014); na prevenção e promoção de saúde indígena no Alto Rio Solimões (2015); atuou também na área da assistência social, no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e no Serviço de Atenção Domiciliar (SAD).