No quarto dia da semana, no mês de dezembro, numa tarde preguiçosa em Manaus, sentado numa cadeira de balanço, no quintal da minha casa, com o canto dos pássaros ao fundo, lia um livro de Filosofia da Ciência, quando surgiu, bem na minha frente, o professor Caraíba, de barba longa, cabelo cor de algodão, calçando alpercatas de couro cru, vestindo camiseta regata, calça jeans e uma longa capa cor de ouro, parecendo um reizinho, e me disse:

“O conhecimento é o verdadeiro dom que possuímos. Quem usa para fazer o bem, ajudar o próximo, sempre será lembrado entre os gigantes da história. Por isso, devemos sempre usá-lo para transformar o mundo num lugar melhor para se viver. Ou seja, quando usamos a nossa inteligência para fazer o bem, todo o universo se beneficia. A vida próspera, as cidades se organizam, os governos se renovam. De fato, o conhecimento humano acompanha o desenvolvimento do mundo. É a mais forte e eficaz política de transformação social. Ora, o conhecimento humano, usado por pessoas sábias, induz quase que necessariamente à progressão ilimitada da bondade e da justiça social. Por isso eu defendo: o conhecimento é para todos e que todos possam escolher o lado positivo da ciência, que é a ética, o respeito e a solidariedade. Logo, conhecimento sem transformação não serve para nada. Se todas as pessoas usassem o conhecimento apenas para fazer o bem, para fazer justiça, para democratizar a beleza, a arte, a cultura, a educação, certamente o mundo seria um lugar bem melhor para se viver. No entanto, o que vemos são pessoas usando o conhecimento para propagar mentiras, fascismo, ódio. Tudo fazem para obter o poder. Com poder e conhecimento nas mãos dominam os meios de comunicação e consequentemente o mundo. O que antes era verdade passa a ser mentira e a mentira passa a ser verdade. Vivemos na era da pós-verdade. O caos se instalou. As pessoas não acreditam mais nas autoridades constituídas, nas instituições serias. Os filhos se rebelam contra os pais. Pais se revoltam contra as escolhas legitimas dos filhos. As novas famílias não são reconhecidas. Guerra de todos contra todos. Preconceito. Perseguição. Contudo, a questão central que deveria nos interessar passa despercebida. Usamos o conhecimento para o lado errado. Para nos matarmos e matarmos uns aos outros. Espalhamos medo e terror para os lugares aonde deveríamos espalhar amor e solidariedade. Só quando somos humildes é que possuímos a chave do verdadeiro conhecimento: a sabedoria. Só os humildes são sábios porque eles são desprovidos de ganância, arrogância e desejo de poder. Em muitos sentidos, o poder corrompe, mata as pessoas, destrói a natureza e o meio ambiente. Mas tem o outro lado, o lado bom do poder. Quando o poder é usado para salvar vidas ele consegue ser efetivo, respeitado. O poder do bem transcende este mundo. Transporta o bem mais precioso de todos: o coração das pessoas. Todos gostam do poder do bem, mas poucos são aqueles que sabem usá-lo, que estão preparados para usá-lo. Quem tem o conhecimento, o poder e os usam para fazer o bem conquista o paraíso e suas vidas ficam marcadas para todo o sempre no livro da vida. O verdadeiro sentido do conhecimento é poder fazer o bem aos outros, é sabedoria de vida. Quem faz uso, neste sentido, do conhecimento e do poder, vive, nesta vida e na outra, livre e eternamente, no reino da paz, da justiça, do amor. E você, meu amigo, como exerce o poder? O que é o conhecimento para você? Como você faz uso do conhecimento que possui? Você acredita em valores que transcendem este mundo? Em que você acredita? Ou em quem você acredita?”.

Fazendo-me estas e muitas outras perguntas, o professor Caraíba ficou de pé ao meu lado, fechou os olhos, ergueu a cabeça, abriu a boca e então falou com uma voz ainda mais firme e atroadora: “Maldito o homem que usa o conhecimento e o poder para escravizar, menosprezar e humilhar o seu semelhante. Certamente Habacuque estará preparando um banquete com sal, enxofre e fogo para recebê-lo no inferno. E que assim seja! Amém!”.

Luís Lemos é professor, filósofo e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021. https://www.editoraviseu.com.br/filhos-da-quarentena-prod.html?___SID=U
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