Felix Valois

Um simples show artístico em Nova Iorque se transformou no protesto antigoverno mais comentado pela mídia, na semana findante. O cantor Fábio Junior, aproveitando o ensejo da comemoração do aniversário da independência, colocou o pavilhão nacional nas costas e iniciou a manifestação. Dou de barato que não eram necessários os palavrões do artista e da plateia. Mas consigo perfeitamente entendê-los e até justifica-los, bastando para isso invocar o que o direito penal brasileiro chama de “violenta emoção”. Tem esta o condão de atenuar a pena se a conduta se perpetra logo em seguida a injusta provocação. Há, porém, uma diferença fundamental: enquanto na hipótese jurídica a provocação deve ter partido da vítima, no caso do protesto foram precisamente as vítimas que se sentiram provocadas pelos desmandos e assaltos que se vêm praticando no Brasil ao longo dos governos petistas. E botaram a boca no trombone, denunciando ao mundo o descalabro que se implantou em nossa terra.

Já não é possível admitir que a situação permaneça como se encontra. Inteiramente perdido, o governo não tem rumo a seguir e ensaia uma dança de loucos, ao acompanhamento de uma orquestra composta por incompetentes e regida por maestrina de todo em todo desvairada. Como ordenar os sons se a batuta aponta para os violinos no momento em que a partitura indica ser a vez das guitarras? O que fará o pianista se lhe trocaram o instrumento por um órgão? E o que deveria ser um solo do tenor vem por se transmudar num coro de idiotas, a guinchar notas desconexas.

“Estamos em crise”, brada o governo, como se essa invocação pudesse milagrosamente perdoá-lo por, primeiro, ter permitido a crise e, segundo, por não ter a mínima noção de como enfrentá-la. Vejamos um exemplo: somos um país com uma carga tributária insuportável. Pagamos impostos, taxas e contribuições até pelo simples fato de respirarmos. Apesar disso, o governo reclama a todo momento de que lhe falta dinheiro. Insaciável, quer aumentar suas fontes de receita a qualquer custo e, nessa faina maluca, não se peja de propor, pura e simplesmente, o aumento dos tributos. Recentemente, falou-se em desenterrar aquela coisa pavorosa conhecida como CPMF que nada mais é, trocando em miúdos, do que uma punição por você gastar seu próprio dinheiro. Agora, o Ministério das Minas e Energia quer cobrar atrasados hipotéticos sobre as contas de luz, traçando manobra sinistra e desavergonhada. O Ministro da Fazendo, por sua vez e para não ficar atrás nessa competição de insanos, tem a cara de pau de afirmar que é perfeitamente possível que se venha a estudar o aumento das alíquotas do imposto de renda das pessoas físicas.

É muito. É demais. É inacreditável. Sobre o salário, que nunca foi renda, o governo já arrecada vinte e sete e meio por cento. Quer aumentar o percentual? Não dá para crer e, na verdade, pareceria um pesadelo se não estivéssemos vivendo diariamente a realidade da sandice governamental. Ao invés de “diariamente” quase uso “diuturnamente”. Preferi não o fazer. A presidente da República, se se desse à pachorra de ler estas mal traçadas linhas, haveria de imaginar que o governo só molesta os cidadãos durante o período diurno, deixando-os em paz depois que o sol se recolhe, quando todos terão que fazer higiene bucal, utilizando a pasta de dentes que, para ela, sai do dentifrício.

O “non sense” é completo. O governo ensaiou tirar dos comandantes das três armas a atribuição de decidir sobre movimentação interna e promoção de seu pessoal. Esse fato provocou uma enxurrada de especulações. Houve quem afirmasse estarmos diante de provocação aos militares e li até a opinião de um mentecapto para o qual, em confirmada a hipótese, estaríamos às vésperas da implantação de uma ditadura comunista no Brasil. É de invocar o velho dito popular: em casa em que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão. Na barafunda em que estamos, não há que estranhar que os súditos venham a sofrer do mesmo mal esquizofrênico que acomete a Corte. E assim se pode explicar que, nos protestos de rua, sejam vistos cartazes propondo como solução para os nosso problemas a volta da ditadura militar. T’arrenego, diacho. Vai-te pra lá, azarão, e me deixa pelo menos sofrer podendo reclamar.

Uma historinha, para terminar: conta-se que dois mendigos resolveram se organizar para obter maior produtividade. A primeira providência nesse sentido foi a racional distribuição dos pontos em que atuariam durante o dia, ao fito de evitar que a proximidade deles prejudicasse a arrecadação. Foi um para a esquina da Eduardo Ribeiro com a Sete de Setembro, enquanto o outro se postou no cruzamento da Sete de Setembro com a Getúlio Vargas. Fim do dia; retorno às origens e a conferência do apurado. O primeiro exibiu, todo orgulhoso, a féria, que rondou os cinco mil reais, enquanto o outro, cabisbaixo, revelou que não tinha conseguido amealhar mais que cinquenta reais. “Mas o que fizeste – indagou o menos favorecido – para conseguir essa verdadeira fortuna?” Seu colega, todo serelepe, explicou com orgulho mal disfarçado: “Foi simples. Passei o dia repetindo bem alto que eu estava arrecadando fundos para comprar passagens só de ida, a fim de mandar o Lula e a Dilma para o Oriente Médio”. Simples questão de marketing.

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