Protesto em Amsterdã em 30 de março de 2023 contra a proposta de transferir a prostituição do Red Light District para um 'centro erótico' Kenzo Tribouillard / AFP

O projeto da prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, de transferir a prostituição do famoso Red Light District para um “centro erótico” nos subúrbios gerou polêmica entre moradores e profissionais do sexo, que se opõem a essa mudança.

Centenas de moradores dos subúrbios mostram-se contrários à instalação de um “enorme bordel” ao lado de suas casas. Eles juntaram-se aos protestos dos profissionais do sexo, que preferem ficar atrás das vitrines iluminadas com neon escarlate perto dos canais do centro histórico.

— Não é possível — reclama uma mãe chorando após um encontro entre a prefeita e os moradores de um dos três locais previstos para a criação do centro erótico.

Enquanto moradores temem que a revolta do Red Light District chegue às suas ruas, os profissionais do sexo se consideram o bode expiatório da prefeita em sua tentativa de controlar a criminalidade e o turismo de massa no centro da cidade.

— A prefeita diz que somos apenas uma atração turística e que as pessoas vêm para zombar de nós e nos humilhar — disse à AFP uma trabalhadora do sexo que se apresenta como Michelle. — Mas não é assim.

Resistência

Com uma área famosa de prostituição, que é legalizada, Amsterdã tenta se afastar de sua imagem de “cidade do pecado” e tenta conter o turismo de festas.

— Sempre haverá resistência, independentemente da solução escolhida — disse Halsema à AFP.

Em março, profissionais do sexo se manifestaram nas ruas da cidade, agitando cartazes com os dizeres “Salvem o Red Light District”. Eles afirmaram que a mudança afetaria suas atividades e sua segurança.

O processo envolveu até a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) – que em 2019, após o Brexit, deixou Londres – se opôs firmemente a que dois dos locais propostos estivessem próximos de sua nova sede no sul de Amsterdã.

Mas organizações como a EMA “sabem em que cidade” estão, diz a prefeita, convencida de que as profissionais do sexo estarão mais seguras em um centro erótico, argumento que rejeitam.

Além disso, os 100 lugares propostos não serão suficientes, considerando que há 250 estandes no Red Light District, segundo Michelle. Com espaços para cultura, arte e “diversão erótica”, contudo, o prédio poderia beneficiar alguns.

O Red Light District representa apenas uma “pequena parte” da prostituição na capital holandesa, frisou Alexander de Vos, ex-profissional gay presente num encontro entre a prefeita e cidadãos de Amesterdã.

— Também há pessoas transgênero e gays para quem não há lugar e este centro lhes oferece uma chance — disse ele à AFP.

Alexander diz ser contra o fechamento do Red Light District, sujeito a medidas cada vez mais restritivas: os bordéis devem fechar mais cedo no fim de semana e a proibição do consumo de álcool será estendida à maconha.

Denunciando uma “caça às bruxas”, as profissionais do sexo afirmam que o seu deslocamento afetará seus ganhos financeiros sem resolver o problema e negam que sejam a causa do turismo de massa e do crime.

O bairro está cheio de “cartazes com tudo o que não está autorizado”, enfatiza Michelle.

— O problema é que ninguém é multado — afirmou, destacando que a prefeitura deveria cumprir as regras já existentes.

Por outro lado, os moradores do Red Light District, onde a prostituição existe desde o século XVI, “sabem onde se estabeleceram”, acrescenta Michelle.

Deslocar profissionais do sexo do centro para os subúrbios “é semelhante a um projeto de gentrificação”, concluiu.

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