Vou tentar reduzir as coisas à expressão mais simples e ver se dá para entender. Houve uma eleição para a escolha do presidente da República à qual se apresentaram vários candidatos. Seguindo as regras estabelecidas para o assunto, habilitaram-se para disputar um segundo turno os dois mais votados. Então, um desses dois candidatos obteve mais votos que seu adversário e, por isso, foi proclamado vencedor e eleito para assumir o cargo no próximo dia 1º de janeiro.

Acho que essa é verdade, sem rebuscamento de linguagem e sem complicações burocráticas. Em assim sendo, tenho que voltar a perguntar, como já o fiz aqui em outras ocasiões: o que pretendem essas pessoas que estão histericamente a gritar na frente dos quartéis? Qualquer que seja seu objetivo, ele não tem lógica nem, muito menos, respaldo na lei.

Vejamos. Se o que buscam é a anulação do pleito eleitoral, trata-se de uma viagem na maionese maior do que me é dado imaginar. As eleições aconteceram dentro de uma normalidade absoluta, sem que se tenha registrado qualquer alteração de grande monta. Não há, portanto, nenhum fundamento fático em que apoiar uma pretensão dessa ordem, capaz de mexer com a vontade da maioria.

Parece, porém, que a coisa é mais grave e o que os fanáticos pretendem é que os militares interfiram na ordem constitucional, impeçam a posse do presidente eleito, através de um golpe de estado. Aqui chegamos ao cúmulo da insensatez. Não consigo, aqui na minha insignificância, atinar com o que é que pode levar alguém a pedir abertamente a implantação de uma ditadura no seu próprio país. Pedir ditadura para o país dos outros já seria insano. Clamar por ela dentro de nossa própria pátria chega a ser uma atitude que tende a revelar demência irreversível.

Convenhamos, gente. Que Bozo sempre foi golpista todos sabemos. Mas esse comportamento desesperado, de vivandeiras, é algo que não se compactua com o mais elementar respeito aos princípios do Estado Democrático de Direito. O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, resumiu tudo, sem precisar de recorrer a seus ensinamentos jurídicos. Simplesmente advertiu um dos malucos que o agredia em Nova Iorque: “Perdeu, Mané. Não amola”.

É isso, bolsominions de todos os matizes. Vocês perderam a eleição. Tenham o mínimo de decência de reconhecer essa verdade e deixar que o país volte à normalidade, respeitando-se o que diz a lei e, principalmente, não ofendendo princípios básicos sobre os quais repousa a própria democracia.

Voltem para casa. É seu direito fazer oposição ao novo governo a ser empossado. Façam-na, porém, dentro dos limites dos marcos civilizatórios que delineiam os comportamentos de uma sociedade que ultrapassou o estado da barbárie.

Acredito mesmo que, passada essa empolgação irresponsável, muitos dos que hoje marcham e cantam hinos se envergonharão do que fizeram. Porque não pode haver coisa mais mesquinha, mais ridícula e mais ofensiva do que pedir que se implante uma ditadura no país. Só sendo muito estúpido e desconhecedor da História para pedir tal absurdo. Bradam contra isso as memórias de todos os brasileiros que foram mortos, torturados ou desaparecidos durante a ditadura militar em nosso país.

Por isso insisto: voltem para casa e vão trabalhar.

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