O Conselho Ártico encerrou nesta terça-feira, 7, em Rovaniemi, na Finlândia, a reunião de cúpula bienal sem que os oito países-membros conseguissem, pela primeira vez em 23 anos de história, consenso sobre a declaração conjunta, por conta da recusa dos Estados Unidos a se comprometer com a luta contra a mudança climática.

Ao término da reunião, os ministros dos oito países (Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, Islândia, Noruega, Rússia e Suécia) assinaram um breve texto genérico que não faz menção à mudança climática ou ao aquecimento global.

“Os Estados Unidos ficaram sozinhos na postura sobre a luta contra a mudança climática e os demais países decidiram que não valia a pena diluir as declarações que faziam referência à mudança climática para alcançar um acordo”, afirmou à imprensa local Timo Koivurova, diretor do Centro Ártico da Universidade da Lapônia.

O ministro de Relações Exteriores interino da Finlândia, Timo Soini, não quis “dar nomes e nem culpar ninguém” pelo fracasso da reunião e explicou, em entrevista coletiva, que para que exista uma declaração final no Conselho Ártico “deve haver unanimidade” sobre o conteúdo, o que não foi possível nesta ocasião.

As delegações dos oito países-membros estavam há dias negociando o conteúdo da declaração e sabiam da oposição dos Estados Unidos a um texto que incluísse a expressão “mudança climática”, termo que não convence o presidente americano, Donald Trump. O líder retirou seu país do Acordo de Paris sobre Mudança Climática, de 2015, e repudia as evidências de que a ação do homem é o responsável pelo aquecimento global.

No texto que foi pactuado, de apenas 25 linhas, os oito ministros se comprometem a “manter a paz, a estabilidade e a cooperação construtiva no Ártico” e a preservar “o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente” da região.

Esta é a primeira vez que uma declaração foi cancelada desde que o Conselho Ártico foi formado em 1996. O grupo é uma organização intergovernamental que trata de temas enfrentados pelos governos dos Estados e populações indígenas do Ártico.

A preocupação com o aquecimento global dos outros sete Estados-membros e das seis organizações representantes dos povos indígenas no Conselho Ártico contrastou com a visão mercantilista dos Estados Unidos, que vê esta frágil região polar como uma nova fonte de oportunidades econômicas e comerciais.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, enumerou ontem, em discurso, os abundantes recursos naturais da região, que incluem reservas de petróleo e gás, ouro, urânio, diamantes e grandes bancos de pesca. Além disso, ressaltou que o Oceano Ártico se transformou em um “palco de poder e concorrência global”, porque é cada vez mais acessível para o tráfego marítimo pelo derretimento do gelo polar.

“A constante redução do gelo marinho está abrindo novas rotas de quebra e novas oportunidades para o comércio. Isto poderia reduzir potencialmente o tempo que custa viajar entre a Ásia e o Ocidente em até vinte dias”, explicou.

Ele também afirmou que o presidente Trump se comprometeu a aproveitar os recursos “de maneira responsável com o meio ambiente”, porque sabe que “esta extensão branca também pode ser verde”.

Por sua vez, o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, declarou, após a reunião, que seu país defende a expansão da cooperação no âmbito do Fórum Ártico de Guarda Costeira para lutar contra eventuais acidentes marítimos.

“No contexto do desenvolvimento vertiginoso das atividades navais e do trânsito de navios no Ártico, incluindo o turismo de cruzeiros, é importante continuar fortalecendo o potencial de reação operacional diante de possíveis emergências”, afirmou à imprensa.

Lavrov afirmou que uma das prioridades da Rússia nessa região é a proteção ambiental do Oceano Ártico.

“Trata-se, antes de tudo, do tema marinho: o desenvolvimento de uma bioeconomia marinha e uma navegação ‘verde’, a luta contra o lixo marinho, incluindo os plásticos e a acidificação do oceano”, disse.

A reunião de Rovaniemi foi a última da presidência bienal finlandesa do Conselho Ártico, que será dirigido durante os próximos dois anos pela Islândia.

(Veja)

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