Tenho evitado falar de Bolsonaro e seus malfeitos, até em respeito à sabedoria popular que entende ser tolice bater em cachorro morto. Mas às vezes é tamanho o impacto da notícia que toda uma revolta vem à tona, exigindo que haja manifestação por mínima que seja.

Vi na internet que o ex-comandante da Polícia Rodoviária Federal foi preso preventivamente. Conquanto nunca me tenha agradado essa ideia de encarcerar alguém antes de sentença condenatória transitada em julgado, tenho que em casos específicos, como esse, a medida até é tolerável. Digo isso me lembrando das transmissões televisivas do dia 30 de outubro do ano passado. As imagens pareciam extraídas de filmes policiais de péssima qualidade: batalhões de homens fardados e armados interceptavam ônibus cheios de eleitores, com a finalidade de impedir que estes chegassem às urnas. Era pavoroso. Já seria sob qualquer ângulo, ficando ainda pior quando se sabia que não se tratava de uma ação de Estado, mas de simples conduta político-eleitoral, buscando prejudicar o candidato da oposição.

Parece inacreditável que isso tenha acontecido. Mas tratou-se, na verdade, de uma das mais escancaradas agressões à ordem jurídica nacional, atingindo as bases do estado democrático de direito. Os mais antigos, como eu, por certo lembraram da época dos “coronéis de barranco”. Era impossível contrariar-lhes a vontade, de tal maneira que as opções do eleitorado da zona por eles comandada eram absolutamente nulas. Eleito seria necessariamente o candidato que estivesse na preferência daqueles homens arrogantes e intransigentes, acostumados ao mando absoluto e sem contrariedades.

Quanta semelhança com os quatro anos do governo anterior. Parecia impossível contrariar a vontade daquele homem mal educado e truculento que, valendo-se do cargo da presidente da República, ditava comandos que beiravam a insanidade. Ou alguém pode negar a cena que vou descrever? Querendo fazer blague ideológica em questão de transcendental importância para a saúde popular, o Bolsonaro bradava aos quatro cantos, pela televisão: “Quem é de esquerda, toma tubaína; quem é de direita, toma cloroquina”.

Santa irresponsabilidade. Era o negacionismo científico em todo o seu esplendor. Enquanto o mundo inteiro estabelecia a inocuidade daquele medicamento para os fins de que então se cuidava, o presidente do nosso país adotava postura histérica na defesa do que acabou por ser a sentença de morte de centenas de milhares de brasileiros. Assim se há de entender porque, ao mesmo tempo em que se apegava à defesa de um medicamento inútil, o governo federal esquecia de sua obrigação maior de providenciar a compra, distribuição e aplicação das vacinas já então em amplo uso na maioria dos países.

Felizmente, assim como o fizemos com a ditadura militar do século passado, banimos do poder tão execrável criatura. A evocação de seu nome suscita, pelo menos em mim, a revivescência de tudo quanto há de mais retrógrado, atrasado e perigoso na política nacional. É imperioso não esquecer que Bolsonaro nunca fez segredo de sua aprovação à tortura como meio para a obtenção de provas, de tal sorte que jamais deixou de entoar loas a um coronel famoso por sua indiscutível habilidade na arte de machucar seres humanos.

Vê você, meu escasso leitor, porquê prefiro não falar do Bolsonaro. O assunto sempre descamba para o que não presta, despertando tristes lembranças. Vou tentar esquecê-lo, não sem antes deixar bem claro que ele precisa pagar pelo mal que nos fez.

Artigo anteriorWilson Lima vistoria obras do Prosamin+ e anuncia investimentos de R$ 3,9 bilhões e geração de 51 mil empregos
Próximo artigoProposta de Roberto Cidade pretende democratizar informação por meio da radiodifusão comunitária