Vinícius Schmidt/Metrópoles

O vocabulário da economia é árido e muitas vezes é difícil ligar as notícias sobre o sobe e desce do mercado financeiro com as contas da vida real. Mas uma pesquisa contratada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ajuda a entender os efeitos de situações enfrentadas pelos brasileiros, como o aumento da taxa Selic, atualmente em 13,75%, o desemprego e a perda de renda.

Para se ter uma ideia, 44% conseguem pagar suas contas a duras penas. Porém, não sobra nada no final do mês. São reféns dos boletos.

De acordo com esse levantamento, feito presencialmente em todos os estados e no DF entre 23 e 26 de julho deste ano, para a maioria dos brasileiros não sobra nada ou até falta dinheiro no fim do mês. Situação que obriga as famílias a se endividar, vender bens, deixar de gastar com lazer e esquecer planos financeiros mais ambiciosos, como uma reforma na casa.

Os números revelam um mal-estar na população que afeta a capacidade do país de se recuperar de uma sequência de crises que têm limitado o crescimento do PIB. Apesar do conjunto de indicativos majoritariamente negativos, porém, 56% dos entrevistados são otimistas e acham que a situação vai melhorar até o final do ano; contra 16% que acham que ainda piora mais.

É um otimismo que contrasta com o número de entrevistados que perceberam piora em sua situação econômica nos últimos três meses: 42%. Outros 28% acham que ficou melhor e 29% acreditam que tudo esteve igual no último trimestre. A situação piorou principalmente para famílias que ganham menos. Entre os que têm renda de até um salário mínimo por pessoa, 55% acham que a situação piorou nos últimos três meses.

A pesquisa foi feita pelo Instituto FSB e entrevistou, presencialmente, 2.008 cidadãos com idade a partir de 16 anos, nas 27 Unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais e foi aplicado um fator de ponderação para corrigir eventuais distorções, que faz a soma dos percentuais variar de 99% a 101%.

Aperto no fim do mês

Para 19% da população, o mês é longo demais para todas as contas e alguns boletos deixam de ser pagos. Outros 44% até conseguem pagar as contas, mas não sobra nada para poupar ou fazer algum gasto extra, como comprar um presente para alguém querido ou jantar fora em um restaurante legal. Na soma, são 63%, ou dois a cada três brasileiros, para os quais não sobra nada ou falta dinheiro.

O impacto desse aperto é a falta de capacidade desses brasileiros de fazer a economia girar mais rápido. De acordo com a pesquisa, 60% dos entrevistados reduziram despesas com lazer; 57% desistiram de viajar a passeio ou férias; 50% deixaram de planejar compra ou reforma de imóvel; 34% atrasaram contas como água e luz; 19% deixaram de pagar plano de saúde; e 16% venderam bens pra pagar dívidas.

Isso significa que os aviões viajam mais vazios, os hotéis hospedam menos viajantes, os bares e restaurantes vendem menos refeições e drinks e as concessionárias de serviços públicos lidam com mais inadimplência – todo um círculo vicioso que torna mais lenta a recuperação econômica após forte retração ao longo dos piores momentos da pandemia de coronavírus.

 

Segurando os gastos

Foi perguntado aos entrevistados se têm gastado mais ou menos nos últimos meses e 64% responderam que cortaram gastos em julho, contra 35% que não reduziram. Entre os que reduziram, 46% cortaram muito.

Os entrevistados que disseram ter dívidas ou empréstimos foram 22%. Entre eles, praticamente a metade (48%) não está em dia com as prestações, o que encarece ainda mais a dívida por causa da soma de juros.

(Metrópoles)

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