Em interação com apoiadores na manhã desta quinta-feira (10/6), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alfinetou os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Argentina, Alberto Fernández, ao comentar declaração preconceituosa do presidente argentino.
O chefe do Executivo do país vizinho fez discurso em que remeteu a origem dos brasileiros à selva, enquanto os argentinos teriam chegado em barcos da Europa.
“O presidente da Argentina falou que eles vieram da Europa, de barco, e nós viemos da selva, né? Eu lembro uma coisa: logo depois que o [Hugo] Chávez morreu, assumiu o [Nicolás] Maduro. E ele falava que conversava com os passarinhos, que estavam encarnados na figura do Chávez. Eu acho que o Maduro e o Fernández, para eles não tem vacina, ok?”, disse Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada.
Em seguida, o mandatário brasileiro afirmou que não há estremecimento na relação com o país, que é o quarto maior parceiro comercial do Brasil, atrás de China, União Europeia e Estados Unidos.
“Como ele está gravando aqui e isso vai pra fora… Essa frase aí do presidente da Argentina, de que nós viemos da selva: troquei mensagem por zap hoje com o ex-presidente Macri, da Argentina. Não tem nenhum problema entre nós, nem com o povo argentino. Rivalidade com a Argentina só no futebol, tá ok?”, destacou Bolsonaro.
A conversa do presidente com apoiadores foi registrada por um canal no YouTube simpático ao presidente.
Entenda
Em entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, no Museu do Bicentenário da Casa Rosada, na quarta-feira (9/6), Fernández afirmou:
“Mexicanos saíram dos índios, brasileiros saíram da selva, mas nós, os argentinos, chegamos de barcos que vinham da Europa. E assim construímos nossa sociedade.”
O presidente argentino citava erradamente Octavio Paz, escritor mexicano vencedor do Nobel de Literatura em 1990. Na verdade, o trecho vem da música Chegamos dos barcos, do compositor argentino Litto Nebia, que diz: “Brasileiros saem da selva, mexicanos vêm de índios, mas nós, argentinos, viemos dos navios”.
Eleito no fim de 2019 com a bandeira da centro-esquerda, acenando para minorias, o professor de direito da Universidade de Buenos Aires tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner. No discurso de posse, ao derrotar Mauricio Macri, Alberto Fernández prometeu uma Argentina mais igualitária.
Horas depois da declaração, Fernández se desculpou pelas redes sociais: “Eu não queria ofender ninguém, em qualquer caso, quem se sentiu ofendido ou invisível, desde já minhas desculpas”.
Reações
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), chamou de “lamentável” e “preconceituosa” a declaração de Fernández. Para o deputado, o tom do mandatário argentino foi depreciativo e reproduz uma visão colonialista, atrasada e superada da história.
“É lamentável a declaração preconceituosa feita pelo presidente Fernandéz. O tom depreciativo que reproduz uma visão colonialista, atrasada e superada da história merece repúdio. Nós, brasileiros, temos muito orgulho e respeito pelas nossas origens da mesma forma que os argentinos devem ter da sua própria diversidade”, disse.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que já presidiu a Comissão de Relações Exteriores, também criticou a declaração de Fernández e provocou o país.
“Não dirão que foi racista contra indígenas e africanos que formaram o Brasil? Porém, afirmo: o barco que está afundando é o da Argentina.”
O comentário de Fernández foi considerado “infeliz” e “desastroso” pela imprensa internacional. Ele foi chamado de uma “vergonha” e “racista”. Com informações de Metrópoles.