Foto: Vinicius Schmidt/Metrópoles

“Fala, rapaziada, Linker na área…”. Desde janeiro de 2018 o goiano Irlando Silva Campos, de 31 anos, inicia os vídeos com este bordão no seu canal do YouTube. Os amantes do Fifa, franquia da norte-americana EA Sports, já estão acostumados com o jeito despojado com que o streamer, ao longo de alguns minutos, dá dicas sobre mercado, jogabilidade e fala sobre as novidades do afamado jogo.

Detalhe 1: o conteúdo é voltado especificamente para o modo on-line do game, o Ultimate Team ou simplesmente FUT. Detalhe 2: o sucesso do streamer já lhe garante viver somente do que ganha nas redes sociais. Trata-se de sua ocupação principal, não é apenas um bico ou passatempo. “Eu vivo de Fifa”, disse ele ao Metrópoles.

Em um meio que que os produtores de conteúdo sonham com milhões de seguidores, Linker tem bom desempenho com um público fiel e que não para de crescer. Contando com 159 mil inscritos no YouTube no Brasil e até no exterior (em especial em Portugal), ele impressiona pela quantidade de visualizações: 44,3 milhões até meados de maio de 2022.

E como ele fez para atingir tal marca? Pela regularidade. O goiano nascido e que vive em Anápolis iniciou publicando um vídeo por dia e, desde o último trimestre de 2019, passou a publicar três vídeos diariamente: um pela manhã, um no meio da tarde e outro entre o fim da tarde e início da noite.

Quando há muito conteúdo, já chegou a postar quatro vídeos diários. Com isso tudo, ele já totaliza 3,9 mil vídeos disponíveis.

TI e videogame

Linker é da área de tecnologia. Formou-se em Ciências da Computação por uma faculdade de Anápolis há alguns anos. Conheceu o Fifa em 2014, jogando ainda no modo off-line. No ano seguinte conheceu o modo on-line. Teve um click. “Fiquei muito empolgado. Passei a jogar loucamente”, relembra.

De início, ele dividia as atenções entre o Fornite e o Fifa. Mas, aos poucos, passou a se dedicar cada vez mais à franquia de futebol.

Fora do universo dos jogos, Irlando tentava ajeitar a vida. Tentou empregos nas área onde tinha se formado. Arriscou a sorte até em uma pamonharia. Mas nada dava certo. Chegou a ficar seis meses parado em casa, refletindo sobre a vida. Seria a crise dos 20 e poucos anos?

Quando passou a pensar no que mais gostava de fazer, lembrou-se dos videogames. Como gostava de Fifa e de edição, decidiu investir em algo nessa área. Acabou se inspirando no canal de um amigo, que fazia vídeos jogando o modo Carreira do Fifa (que é off-line).

Nascia aí o canal e também seu apelido. De cara já viu que o nome de batismo não tinha uma sonoridade muito tecnológica: Irlando. Daí ele acabou juntando o termo “link”, esse sim bastante identificado com tecnologia, com uma referência de uma de suas bandas preferidas: Linkin Park. Pronto, surgiu o Linker.

Persistência

Como todo começo, aquele não foi simples. Como já foi dito, ele começou com um vídeo diário, para testar a audiência. Foi caminhando lentamente. Passou todo o ano de 2018 nas tentativas. Não tinha ainda monetização. “Mas não desisti. Sabia que podia dar certo se persistisse”, conta.

Em 2019 as coisas começaram a se encaminhar. Foi quando ele percebeu que, de fato, as coisas poderiam dar certo. Desta forma, ele decidiu dar um guinada. A partir do lançamento do Fifa 20, entre agosto e setembro de 2019, ele decidiu mergulhar de vez no projeto.

Passou a postar pelo menos três vídeos por dia e foi cada vez ganhando mais popularidade. “Para chegar aos 10 mil seguidores foi o mais difícil. Depois disso, passou a evoluir melhor”, relata.

Com o poder que foi ganhando, também vieram as responsabilidades. Depois disso, nunca mais teve férias ou dia de folga. Ele tenta conciliar. A família entende. A namorada também. “Procuro recompensar todos no pouco tempo livre que tenho”, diz. E é bem pouco tempo mesmo, pois, quando não está gravando ou jogando, assiste outros canais para ver o que está sendo produzido e também busca informações sobre o jogo. Sua rotina gira em torno do Fifa.

A persistência fez com que o canal de Linker se tornasse um dos maiores do Brasil voltados exclusivamente para o modo on-line do jogo. Existem vários streamers de sucesso no país com conteúdo de Fifa, caso, por exemplo, do próprio Casimiro, um dos queridinhos do momento. Mas não são todos com conteúdo exclusivo do game. Menos ainda são os que só focam no Ultimate Team.

A escolha de Linker parece ter sido acertada. Mas também significou uma guinada em sua vida. “Consigo viver bem. Nunca pensei nem que fosse chegar onde cheguei em relação à parte financeira. Consegui comprar carro top e uma casa em bairro bom da cidade”, comenta.

Os vídeos são gravados em um estúdio montado na própria casa. De início, ele mesmo editava o material. Agora, conta com a colaboração de um amigo.

Divulgação

Os vídeos mais vistos de Linker no YouTube contam com 677 mil visualizações, 231 mil, 212 mil, 193 mil e 145 mil, respectivamente. Ele também está no Instagram, onde já conta com 77,8 mil seguidores. Também está presente em plataformas como TikTok, Sparkle e Kwai.

Usa a mesma estratégia de influenciadores e pessoas que ganham a vida com a internet: divulga os canais em cada uma das redes. Com isso, a expectativa é gerar um círculo virtuoso.

Além das plataformas e aplicativos, também tem grupos no WhatsApp, onde cobra uma mensalidade dos participantes. Os grupos são usados para trocas de informações sobre os jogos, novidades e também para passar dicas de “trades” (negociações).

Neste último caso, ele ensina o seguidor a ganhar dinheiro com transações de cartas de jogadores dentro do modo Ultimate Team. Para quem não conhece, o FUT do Fifa tem um mercado onde cartas de atletas podem ser compradas e vendidas. Também é possível negociar escudos, camisetas, estádios e outras cartas existentes dentro do Fifa.

Amor, ódio e muito dinheiro

Os números da franquia do game de futebol são impressionantes. No ano passado, um mês apenas após o lançamento do Fifa 22, a EA Sports divulgou que já eram 2,1 bilhões de partidas disputadas, 5 bilhões de gols marcados, 89 milhões de jogos diários em mais de 200 países diferentes.

O jogo contabiliza 150 milhões de gamers que têm uma relação diária de amor e ódio com ele. Não faltam reclamações, por exemplo, sobre o modo on-line do Fifa. Além da jogabilidade em si, que é modificada várias vezes ao longo de cada ano do game com as atualizações, os jogadores reclamam de falhas nas partidas, lentidão e queda dos servidores.

Mas e isso faz com que desistam do Fifa e migrem para algum concorrente ou simplesmente deixem de jogar? Nada disso. A maioria segue firme.

Enquanto isso, a EA continua a caminhada com um de seus games de mais sucesso após quase 30 anos de lançamento da primeira edição. São milhares de jogadores profissionais ao redor do mundo, que se reúnem regularmente em campeonatos oficiais organizados pela própria desenvolvedora.

Apesar da força da marca Fifa, a entidade máxima de futebol e a EA Sports não chegaram a um acordo para manutenção da parceria. A Fifa teria exigido um valor de US$ 1 bilhão (mais de R$ 5 bilhões) pela licença do nome a cada 4 anos.

Com isso, o jogo mudará de nome e passará a se chamar EA Sports FC. Para Linker, isso não mudará nada para ele e nem para a maioria dos streamers. Para os jogadores também não deve mudar muito, na avaliação do goiano. “Pode até melhorar. Toda concorrência é bem-vinda e pode, inclusive, aprimorar o conteúdo do jogo da EA”, opina.

Com o fim da parceria, a tendência é que a Fifa procure um novo desenvolvedor de games para usar a marca da entidade máxima do futebol. Mas ainda não há clareza em relação a isso.

É esperar para ver. E, com o nome Fifa ou não presente, o certo é que Linker pretende ficar muito tempo ainda produzindo conteúdo para o jogo de futebol. (Metrópoles)

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