O Japão poderia ser um dos países mais afetados pelo novo coronavírus por ser um dos primeiros a confirmar pessoas infectadas, poucos dias depois de a China emitir um alerta sobre a doença. O país registrou 1.307 infectados e 45 mortos pela covid-19 e não adotou quarentenas em cidades ou isolamento obrigatório de seus cidadãos para evitar a propagação do vírus. As informações são de BBC.

Para além do cancelamento de eventos esportivos, como a Olimpíada de 2020, e de escolas fechadas, os japoneses têm seguido suas vidas de maneira mais ou menos normal.

Saíram para admirar cerejeiras em flor

Milhares de cidadãos foram às ruas e aos parques para admirar as cerejeiras em flor

No dia 22 de março, milhares de cidadãos foram às ruas e a parques para admirar as cerejeiras em flor. Segundo a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, “abandonar esse festival de primavera para os japoneses seria como abandonar os abraços para os italianos”.

Havia tanta gente nas ruas que a própria governadora pediu que os moradores da capital do Japão não saíssem de suas casas a não ser por razões estritamente essenciais.

Eficientes em testar pessoas em busca do vírus

Segundo Kenji Shibuya, diretor do Instituto de Saúde da População do King’s College, em Londres, o Japão é muito eficiente em testar pessoas em busca do vírus, identificar grupos de contágio e isolá-los.

“A única maneira de lidar com qualquer pandemia é testar e isolar. E muitos países não ouviram. No Japão, eles estão desesperados para rastrear os infectados. E estão indo bem em termos de identificar e isolar os grupos doentes”, disse à BBC News Mundo (serviço da BBC em espanhol).

Mas ainda assim, segundo o pesquisador, o país não tem realizado a quantidade de testes que deveria. E isso pode levar a um aumento drástico no número de pessoas infectadas.

“Os testes no Japão estão muito atrás de outros países. E minha preocupação é que exista um grupo de pessoas infectadas, sem sintomas, que não foram detectadas, além de casos importados de outros países.”

Distanciamento social

Outro argumento que pode explicar o sucesso do Japão é o distanciamento social que, mesmo antes do surto de coronavírus, já estava bem estabelecido na cultura.

“Os japoneses são bastante conscientes da higiene, muito mais do que em outros lugares. Além disso, muitas pessoas usam máscaras nas ruas por questão cultural, então há menos chances de transmissão”, explica Benjamin Cowling, professor de epidemiologia da Universidade de Hong Kong.

Shibuya também aponta para a “propensão japonesa à higiene” e a aspectos culturais como “evitar abraços” como fatores que contribuíram para a menor propagação do coronavírus.

Controle da disseminação

De todo modo, existe um consenso no Japão de que a decisão antecipada do governo de fechar escolas e suspender grandes eventos público, além de insistir na necessidade de respeitar as novas normas sociais desde o início, ajudou a controlar a disseminação.

Mas isso pode mudar. O governo liderado pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe, anunciou que reabrirá as escolas em abril.

E, a julgar pelo que foi visto no último final de semana, com os japoneses reunidos para admirar as flores de cerejeira, as pessoas já começaram a levar menos a sério as medidas de distanciamento social.

Isso preocupa os especialistas.

“Acho que não é uma boa ideia enviar um sinal de que estamos indo bem e reabrir escolas em todo o país ou retomar eventos. Essa é uma mensagem errada. Precisamos ter muito cuidado, caso contrário, podemos ter situações semelhantes ao que acontece nos Estados Unidos ou em países europeus”, diz Shibuya, do King’s College.

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