Quando adolescente, a evangélica J. Nicole Morgan gostava de seu reflexo no espelho. Ela achava que tinha belos olhos e seu sorriso era agradável. Mas quando olhava para seus braços e barriga, acreditava que não era bonita e não era “a pessoa que Deus a criou para ser”.

“Deus não me quer gorda”, ela dizia para si mesma. “Gordura não pode ser algo bonito.”

Após anos lutando contra essa percepção, Morgan decidiu escrever o livro, “Fat and Faithful” [Gorda e Fiel], ainda sem lançamento previsto no Brasil. Segundo a autora, o subtítulo dá uma boa ideia do conteúdo: “aprendendo a amar nossos corpos, o nosso próximo, e a nós mesmos”.

Parte biografia e parte reflexão teológica sobre imagem corporal, o livro de Morgan desafia os cristãos a pensarem sobre o que significa aceitar a todos como pessoas “criadas à imagem de Deus”.

Ela diz que seu público-alvo não são apenas os evangélicos, mas a maior parte do texto aborda como a igreja trata os gordos. Morgan relata que cresceu ouvindo que Deus não queria que ela fosse gorda. “Creio que é ignorância e percepções equivocadas que causam danos”, resume.

A autora não poupa críticas ao pastor Rick Warren, que escreveu um livro sobre “a dieta de Daniel” depois da experiência de batizar pessoas gordas e reclamar da dificuldade de erguê-los da água durante a cerimônia.

Segundo conta, isso enviou uma mensagem poderosa de que “havia algo espiritualmente errado com pessoas como ela”. “Warren usou um sacramento que acolhe as pessoas de fé na família de Deus para emitir juízo sobre seu peso”, reclama.

Imago Dei

Morgan diz que está acostumada a ouvir dos púlpitos piadas sobre gordos, a tentativa de imposição de um padrão rígido de beleza e acompanha a produção de “devocionais de dieta” vendidos em livrarias evangélicas.

Para a autora esse é um contraste com o que cresceu ouvindo: que a beleza interior era mais importante para os cristãos que a aparência física. Mesmo assim, ela teve dificuldades em encontrar um namorado. “As garotas gordas não recebem atenção”, protesta.

Antevendo as críticas, ela faz uma distinção entre glutonaria e ser gordo. Obviamente ela não defende a gula, que é apetite desordenado. Morgan é contundente: “Colocar a culpa de todas as pessoas gordas nisso é ridicularizar a Imago Dei [Imagem de Deus] presente em cada ser humano”.

Ela está ciente que excesso de peso pode resultar em problemas de saúde. Por isso, em seu livro, ela aborda esse aspecto, mas está convencida que existem muitos aspectos físicos e hormonais que levam alguém a ser gordo.

Outro aspecto de sua obra é a tentativa de mostrar como as inseguranças de todo cristão podem prejudicar sua relação com Deus. “Todas as pessoas de fé sabem que existe uma distância entre onde elas estão e onde Deus quer que elas estejam”, mas isso desconsidera tudo que a Bíblia fala sobre graça.

Encerra apelando para que as comunidades religiosas “abram um pouco mais seus corações… para demonstrar mais amor pelos seu próximo, seus inimigos e todos os filhos de Deus, independentemente de sua aparência”.

Artigo anteriorBacenJud é ampliado para alcançar títulos públicos federais
Próximo artigoNicarágua: em meio à crise, povo clama a Deus nas ruas