O caos no sistema carcerário do Estado do Amazonas, onde os presídios (da capital e interior) são verdadeiros barris de pólvoras, com fugas constantes, rebeliões e mortes, poderá custar caro as cofres do Governo. Os familiares do acusado de estupro Paulo Eliézer, 45 anos e do tricicleiro Admil de Souza Silva, 51, o primeiro morto a golpes de faca e o segundo decapitado, na rebelião do último dia 1º deste mês na Unidade Prisional de Parintins, irão entrar com ações na Justiça pedindo indenização pela vida dos presidiários que estavam na tutela do estado quando foram assassinados de maneira cruel pelos detentos rebelados.

“Não adianta ter um monte de carro para prender e jogar no presídio. É revoltante”, dispara o autônomo Cledenor Miranda do Nascimento, de 70 anos, ainda traumatizado depois de ver o filho, Paulo Eliézer, como refém nas mãos dos presos, nas redes de TVs e estampado nos jornais, antes de ser morto a golpes de facas e estoques (arma fabricada nos presídios).

De acordo com Cledenor, os presidiários estão entregues à própria sorte. “Àqueles que não compartilham das sem-vergonhices e bandalheiras são os mais castigados. Não defendo meu filho ser um santinho e tenha caído do céu porque não discuto, mas onde estão nossas autoridades? Se eles ficam lá, é sob custódia do Governo que tem obrigação em oferecer segurança. Todo mundo ficou de braços cruzados vendo o massacre”, acrescentou.

Cledenor diz nunca ter tido problema com ninguém e considera o Fórum de Justiça de Parintins “elefante preto”.

“Tenho de falar por uma população inteira. Assim como aconteceu com meu filho, pode ser com qualquer um. Só não ocorre com filho de políticos e de quem tem mais dinheiro”, afirmou, informando que seu filho estava preso há 4 anos, mas nunca teve progressão de pena.

A família do tricicleiro Admil de Souza, estava preso desde o dia 10 de junho deste ano na Unidade Prisional de Parintins, depois de ser enquadrado na Lei Maria da Penha, assim como o pai de Eliézer, estão revoltados com a falta de segurança dentro do presídio.

Os familiares de Admil, que foi decapitado, teve a mão cortada e o corpo queimado, já deram entrada na papelada para ingressar com ação judicial contra o Governo do Estado do Amazonas.


Rosa, promote ir até onde for necessário na Justiça para receber pela morte do esposo

A doméstica Rosa Ferreira Mendonça, 52 anos, esposa do detento e mãe de oito filhos da vítima disse que ainda não acredita na morte do marido. Ela, que trabalha em uma lancha que viagem para Manaus como cozinheira, recebeu a notícia da morte de Admil, pelo telefone celular.

“Vi meu celular e tinha muitas chamadas não atendidas. Aquilo tocou meu coração e pensei que alguma coisa aconteceu com meu marido ou meus filhos. Liguei para os meninos e me falaram”, informou, afirmando que denunciou o marido na delegacia, mas nunca imaginou que ele fosse parar na cadeia para ser morto da maneira cruel como foi.

Rosa, afirma que no dia da rebelião, teriam entrado 10 garrafas pets com bebida misturada. A família considera o presídio um “depósito” de presos e o Estado é o grande culpado.

“Os presos não estavam separados. Se tivesse segurança, não entrava bebida, armas, celulares e drogas. Só há policial lá na frente do presídio. Outros cantos ficam vulneráveis. Meu marido era muito trabalhador e tinha problema com alcoolismo”, disse a doméstica.

De acordo com Rosa, a justiça determinou uma fiança de dois salários mínimos para que Admil, respondesse o processo em liberdade. “Era para ter sido paga sexta-feira, 29 de agosto, mas deixamos para segunda-feira (1º). Demorou por causa de dinheiro. Domingo, as meninas levaram comida para o pai. O Estado só faz jogar as pessoas lá. Meu marido dividia cela com estupradores. Vou levar o processo até o fim”, concluiu a doméstica, agora tendo de dar de comer para oito filhos órfãos.

Informações – Gerlean Brasil/Repórter Parintins

Editado por Elcimar Freitas (Fato Amazônico)

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