A Polícia Federal em Minas Gerais diz já ter indícios concretos de que candidatas laranjas a deputada estadual e federal do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, mentiram na prestação de contas de campanha.

Dois meses após abrir inquérito, a PF realizou a primeira operação nesta segunda-feira (29) em endereços relacionados ao PSL de Minas Gerais, ligado ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

“Isso é um indício concreto que a gente acha que está amplamente comprovado. Aquelas prestações de contas não refletem a verdade do que efetivamente ocorreu em termos de gastos de recursos”, afirma o delegado Marinho Rezende, responsável pela investigação.

Investigados

O delegado Marinho Rezende explicou que o que é investigado agora é existência do delito, e os indícios, até o momento, são mais concretos nas irregularidades nas prestações de contas apresentadas pelas candidatas à Justiça Eleitoral.

De acordo com ele, as potenciais evidências serão analisadas pela PF para, em seguida, apurar a responsabilidade sobre os delitos. “O envolvimento do ministro Marcelo Álvaro Antônio só será apurado na próxima fase, que, se confirmada a existência do crime, vai investigar tanto as candidatas quanto os dirigentes do partido em Minas durante as eleições, e o ministro era um deles”, explicou.

Após apuradas as responsabilidades, os acusados podem ser condenados por falsidade ideológica eleitoral, crime que pode chegar a cinco anos de reclusão.

Ainda segundo Rezende, a esfera nacional do partido, que inclui o presidente da República Jair Bolsonaro, não deve ser afetada uma vez que os recursos do fundo partidário são geridos pelo diretório estadual e repassados a eles especificamente.

Denúncias

A primeira denúncia formal do suposto esquema veio da ex-candidata Cleuzenir Barbosa, que concorreu ao cargo de deputada estadual pelo PSL. Em entrevista ao Hoje em Dia, Cleuzenir contou que sua intenção de ocupar o cargo era genuína e que tinha a real intenção de realizar mudanças através da política, mas foi surpreendida ao receber as mensagens dos assessores do partido pedindo o desvio da verba.

Materiais apreendidos em gráficas e na sede do PSL vão ser analisados em busca de evidências

“Eles me pediram para transferir R$ 50 mil para uma gráfica com a qual eu não tinha contratado serviços e eu me recusei”, contou a ex-candidata. Após a recusa, Cleuzenir, que fazia sua campanha em dobradinha com o então candidato a deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, afirma que foi excluída dos grupos de campanha e não pode mais participar da agenda para divulgar a candidatura.

Ela, então, resolveu denunciar o esquema e prestou um depoimento formal ao MPE. Após a denúncia, ela afirma ter sofrido uma série de ameaças de membros do diretório. “Eles colocavam armas na mesa durante reuniões, mandavam mensagens dizendo ‘o homem é ministro agora’, eram constantes ameaças de poder que me obrigaram a deixar meu país porque eu realmente temia pela minha vida”.

Cleuzenir mora em Portugal desde dezembro de 2018 e lamenta não ter sido mais protegida pelas autoridades brasileiras. “O Brasil tem que proteger as pessoas que denunciam esse tipo de irregularidade, porque do jeito que é, sem respaldo e segurança, as pessoas acabam ficando com medo de denunciar, e são essas denúncias que vão mudar a realidade do país”, afirmou. (Com Folha de S Paulo)

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