O procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidiu que só apresentará a denúncia contra Jair Bolsonaro (PL) e outros 36 indiciados por tentativa de golpe de Estado em 2025. A análise detalhada do extenso relatório da Polícia Federal, que conta com mais de 800 páginas, será fundamental para a construção de uma denúncia robusta, segundo aponta a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. A decisão busca garantir que o caso avance de forma sólida, evitando falhas processuais em um tema de grande repercussão nacional e internacional.
O relatório da PF aponta que Bolsonaro e outros 36 investigados, entre eles 25 militares, estariam envolvidos em crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Entre os indiciados estão figuras de destaque do governo Bolsonaro, como o general Augusto Heleno, o ex-ministro da Defesa Braga Netto, o ex-diretor da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
As investigações detalharam que, entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, ocorreram ações para desestabilizar o processo democrático brasileiro. Esses eventos incluíram tentativas de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, planos para atacar lideranças políticas e jurídicas, e a invasão das sedes dos Três Poderes por apoiadores de Bolsonaro em 8 de janeiro de 2023.
O relatório descreve uma organização estruturada em núcleos distintos, como o de desinformação, jurídico, operacional e de inteligência paralela. Essa estrutura teria sido mobilizada para minar a credibilidade do sistema eleitoral e sustentar um ambiente favorável à derrubada do governo Lula.
Defesa e próximos passos
Bolsonaro, em uma postagem na rede social X, criticou as investigações e afirmou que sua defesa aguardará o relatório completo para se manifestar. Ele também atacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz o caso, acusando-o de irregularidades processuais.
Com o relatório da PF em mãos, o próximo passo será a análise da Procuradoria-Geral da República. Paulo Gonet poderá optar por apresentar denúncia ao STF, solicitar diligências complementares ou mesmo arquivar o caso por falta de provas. A previsão é que o procurador-geral consolide os elementos do relatório com outras investigações em curso antes de formalizar qualquer decisão.
Impacto político
As acusações lançam uma nova sombra sobre o futuro político de Bolsonaro, já declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ataques ao sistema de votação brasileiro. A possível formalização de uma denúncia criminal em 2025 tende a aprofundar os obstáculos à tentativa de Bolsonaro de permanecer como líder de oposição e potencial candidato nas eleições de 2026.
O caso, que expõe a fragilidade institucional enfrentada pelo Brasil em anos recentes, segue como um teste crítico para a Justiça e a democracia do país.