
Na terceira e última noite do 58º Festival Folclórico de Parintins, realizada neste domingo (29), o Boi Caprichoso abriu os trabalhos no Bumbódromo com uma apresentação marcada por força cênica, espiritualidade e homenagens à cultura amazônica. Com o tema “Kaá-eté – Retomada pela Vida”, o boi azul e branco encerrou sua participação no festival exaltando a relação ancestral entre os povos da floresta e os ciclos da natureza.
O festival, promovido pelo Governo do Amazonas por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, reuniu milhares de pessoas no maior espetáculo a céu aberto da Amazônia.
Um dos momentos marcantes da noite foi protagonizado por Edson Azevedo Júnior, que estreou oficialmente como tripa do Boi Caprichoso nesta edição. “É uma noite muito especial porque mostramos que realmente queremos essa vitória. Foi espetacular! Subir na arena como item oficial é uma emoção indescritível, porque carrego comigo um legado de família”, declarou.
Rituais, lendas e memória
A apresentação foi conduzida pela narrativa da lenda de Waurãga, entidade protetora da floresta que comanda os Kãkãnemas — espíritos da mata que se manifestam através dos animais da Amazônia. A figura de Waurãga foi retratada com imponência nas alegorias, enquanto a cunhã-poranga Marciele Albuquerque, reverenciada pelo público, surgia no centro do espetáculo como símbolo de força e ancestralidade.
O Caprichoso também homenageou os seringueiros da Amazônia com a figura típica regional da noite: “O Seringueiro”. O tributo ganhou ainda mais força com a presença de Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, líder ambiental assassinado por sua luta em defesa da floresta e dos povos tradicionais. A cena emocionou a plateia e reforçou o compromisso do boi azul com pautas socioambientais.
O encerramento da apresentação trouxe à arena o poderoso Ritual de Cura Yawanawá, concebido pelo artista Algles Ferreira. A encenação evidenciou os saberes do povo indígena Yawanawá, do Acre, e sua profunda conexão espiritual com a floresta. Com rituais xamânicos e forte apelo visual, o boi encerrou sua passagem no festival celebrando a cura, a resistência e a preservação da identidade dos povos originários.
No meio da galera azulada, o universitário Matheus Lucas, de 26 anos, falou sobre a emoção de acompanhar mais uma edição do festival. “É muito gratificante estar aqui pela terceira vez, como se fosse a primeira. O Caprichoso veio preparado, é grandioso, faz um espetáculo. O treta vem aí!”, brincou o torcedor, em referência ao clima de disputa com o boi rival, Garantido.
A apuração ocorre na segunda-feira (30), quando será conhecido o grande campeão do festival. Ao todo, 21 itens — equivalente a quesitos — serão avaliados por dez jurados.